O ex-chanceler e ex-senador Aloysio Nunes acredita que o Brasil deverá manter o pragmatismo e buscar pontos de convergência com a nova gestão do presidente americano, Donald Trump, principalmente diante das medidas anunciadas nesta segunda-feira (20) pelo republicano. Ao tomar posse, o novo chefe da Casa Branca deu a tônica de como será sua próxima administração, endurecendo políticas migratórias e aumentando o protecionismo nos Estados Unidos.
Por isso, diz Nunes, é necessário encontrar pontos em que “as agendas se somam” para que não haja um desgaste ainda maior nas relações entre os dois países.
“A relação dos EUA com o Brasil é uma relação de interesse recíproco e está baseada não apenas em 200 anos de história, mas em laços econômicos concretos. Portanto, não é algo que possa ser simplesmente tratado no plano meramente ideológico. É preciso levar em conta a realidade”, diz o ex-chanceler.
Nunes vê as promessas de políticas imigratórias draconianas feitas por Trump nesta tarde como o principal ponto de tensão para o Brasil. Uma das primeiras ordens executivas que o presidente americano deve assinar é justamente decretar emergência nacional na fronteira ao sul dos Estados Unidos para conter a imigração.
O ex-chanceler lembra que na primeira gestão de Trump, o republicano adotou uma política de tolerância zero que separava crianças dos pais deportados por estarem em situação irregular nos Estados Unidos.
“Um problema que poderá e seguramente vai acontecer é em relação às famílias brasileiras. Me lembro, no primeiro mandato dele, da separação das crianças dos pais que seriam deportados. Foi um problema seríssimo que o nosso consulado enfrentou na época, e que o nosso atual cônsul, [o embaixador] Santiago Mourão, vai encontrar também”, diz Nunes.
Conforme o Valor mostrou, há cerca de 230 mil brasileiros vivendo nos Estados Unidos em situação irregular, segundo dados do governo americano. Esses números colocam o Brasil na oitava posição no ranking americano da imigração ilegal.
Nunes avalia que Trump, ao longo dos quatro anos que esteve fora da presidência, conseguiu reunir uma equipe que vai permitir a ele implementar tais medidas. A equipe presidencial nomeada pelo americano para o segundo mandato é muito mais fiel às ideias radicais trumpistas do que era no primeiro governo.
Nesse sentido, diz Nunes, “Trump vai usar a força dos Estados Unidos para impor seus próprios interesses”.
O ex-ministro, porém, pondera que o americano é também um homem de negócios, o que pode fazer com que ele também não coloque em xeque o que já é vantajoso para o próprio país. Nesse sentido, seguindo a avaliação de Nunes, há espaço para que a relação entre EUA e Brasil não seja tão impactada.
“Trump é, sobretudo, um homem de negócios. Ele ameaça, mas negocia também”, afirma o ex-chanceler, que reforça: “Os dois governos vão ter que encontrar pontos que as agendas se somam, pontos de convergência.”
Nunes também pontua que alguns temas podem ser espinhosos pelos posicionamentos opostos que têm os dois governos, o brasileiro e o americano. “Direitos humanos, controle de ‘big techs’ e clima. São assuntos em que as visões são diametralmente opostas, e que podem não ter a mesma qualidade de diálogo que tinha com o [ex-presidente Joe] Biden. Podem até não ter hipótese alguma de diálogo.”