“O prefeito [Ricardo Nunes] está sendo acusado de receber cheque, rachadinha de volta de creche. Está sendo investigado pela Polícia Federal por causa disso. Ele tem a rachadinha própria dele, e vem querer falar aqui dos outros.”
#NÃOÉBEMASSIM. Veja por quê: Em julho deste ano, a PF pediu autorização da Justiça para continuar investigando o suposto envolvimento da empresa da mulher e da filha de Ricardo Nunes no relatório final da Operação Day Care, que apura o desvio dinheiro público de creches conveniadas da Prefeitura de São Paulo. A PF já indiciou 116 pessoas na conclusão do inquérito, mas Nunes não faz parte desse grupo.
Os investigadores identificaram um cheque de R$ 31,5 mil para a conta do prefeito. O valor saiu da conta de uma das empresas investigadas por emitir notas frias.
Leia a nota da assessoria do prefeito Ricardo Nunes sobre o caso:
“Boulos mente. Não há nenhuma investigação da Polícia Federal contra o prefeito Ricardo Nunes. O inquérito da chamada Máfia das Creches foi concluído com mais de 100 indiciados, e o prefeito não é um deles. Após a divulgação de um vídeo de uma dessas indiciadas, com acusações ao prefeito, foi a defesa de Ricardo Nunes que pediu instauração de inquérito para esclarecimento dos fatos e investigação de uma possível armação.”
“O atual prefeito, Ricardo Nunes, foi o único prefeito desde a Marta [Suplicy] que não entregou nenhum CEU. Nenhum. Tinha 12 no plano de metas dele. Não entregou nenhum – iniciou obra de cinco.”
A declaração é #FATO. Veja por quê: A gestão de Marta Suplicy (2001-2004) entregou 24 unidades do Centro de Educação Unificado. A gestão José Serra (2005-2006) e Gilberto Kassab (2006-2012) entregou 24 CEUs. Fernando Haddad (2013-2016) inaugurou apenas uma unidade. A gestão João Doria e Bruno Covas (2017-2020) inaugurou 12 CEUs. O plano de metas da gestão Bruno Covas (falecido em 2021) e Ricardo Nunes prevê, até 2024, a inauguração de 12 novas unidades, segundo o Programa de Metas 2021-2024. Em março deste ano, uma publicação no site da Prefeitura menciona 5 CEUs (Cidade Ademar, Cidade Líder, Ermelino Matarazzo, Grajaú e Imperador) em construção, como parte de um primeiro lote do modelo de Parceria Público-Privada (PPP) assinado entre a Prefeitura e a concessionária Integra.
“Ele [Ricardo Nunes] não completou nem o mínimo dos 40 quilômetros de vias de ônibus.”
A declaração é #FATO. Veja por quê: O Programa de Metas 2021-2024 da Prefeitura de São Paulo prevê, de fato, viabilizar 40 quilômetros de novos corredores de ônibus até este ano e a execução está bem abaixo. Segundo o relatório anual de monitoramento do programa da própria Prefeitura, até 2023 foram 6,8 novos quilômetros de corredores de ônibus viabilizados (trechos com obras iniciadas).
“Começa com o prefeito, que não cumpriu metade das metas expostas pelo Bruno Covas.”
#NÃOÉBEMASSIM. Veja por quê: Levantamento do g1 publicado em 20 de julho aponta que, em três anos e meio de gestão Bruno Covas/Ricardo Nunes na Prefeitura de São Paulo, foram cumpridas 48% de 58 promessas feitas durante a campanha eleitoral, em 2020. Outras 36% foram cumpridas em parte. E nove não foram cumpridas.
O levantamento acompanha 58 promessas referentes a administração pública, direitos humanos, economia, educação e cultura, habitação, infraestrutura, meio ambiente, mobilidade urbana, saúde e segurança pública.
Entre 1º de janeiro de 2021 e julho de 2024:
- 28, ou 48%, das promessas foram cumpridas
- 21, ou 36%, foram cumpridas em parte
- 9, ou 15,5%, não foram cumpridas
Um outro levantamento, publicado em abril de 2024, aponta que 32 das 86 metas foram concluídas. O balanço aponta dados atualizados até o fim de 2023 e foi publicado em abril pela administração municipal.
Procurada, a assessoria da Prefeitura afirma que a atualização do site oficial é feita semestralmente. “Até o final da gestão, teremos o maior percentual de metas cumpridas historicamente, com medição desde 2008.”
“Quatro milhões de pessoas em situação de miserabilidade nessa cidade.”
A declaração é #FAKE: Veja por quê: Segundo estudo divulgado em fevereiro deste ano pela Fundação Seade SP, órgão estadual que produz e analisa dados econômicos e demográficos paulistas, a cidade de São Paulo possuía 1,9 milhão de pessoas em situação de pobreza, com outras 360 mil em situação de extrema pobreza. Em ambos os casos, são as maiores populações nesta situação em termos absolutos em todo o estado.
O candidato não explicou o que seria “situação de miserabilidade”, mas as pessoas inscritas no Cadastro Único que podem receber Bolsa Família são aquelas cuja renda familiar per capita mensal seja de no máximo 218 reais.
Segundo os dados do Ministério do Desenvolvimento Social, que gere o Cadastro Único do governo federal, havia 1,64 milhão de pessoas nesta situação na capital paulista em julho deste ano.
Já as pessoas “inscritas no Cadastro Único em famílias com renda per capita mensal até meio salário mínimo” na capital paulista somavam 2,57 milhões no último mês.
“Só tem um prefeito do Psol no país. Com reprovação de 70%.”
#NÃOÉBEMASSIM. Veja por quê: Nas eleições de 2020, o Psol elegeu cinco prefeitos no Brasil. Entretanto, somente uma dessas prefeituras é uma capital, Belém, governada por Edmilson Rodrigues (Psol). Em março deste ano é #FATO que ele teve 75% de desaprovação.
As outras prefeituras onde o Psol elegeu prefeitos em 2020 são Marabá Paulista (SP), Potengi (CE), Ribas do Rio Pardo (MS) e Janduís (RN).
“Nós temos 2,2 milhões de empresas na cidade de São Paulo.”
A declaração é #FATO. Veja por quê: Segundo o Mapa de Empresas do governo federal, que utiliza informações da Base de Dados do Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), em junho deste ano a cidade de São Paulo possuía 2.105.852 empresas ativas. Desde o começo do ano, foram abertas 35.255 empresas na cidade e extintas 16.904 empresas.
“Aumento de 23% na situação de rua das pessoas desde dezembro do ano passado até agora. Tem mais de 80 mil pessoas em situação de rua em São Paulo.”
A declaração é #FATO. Veja por quê: A cidade de São Paulo atingiu no último mês de junho o total de 80.369 pessoas vivendo em situação de rua, segundo reportagem do G1 mostrando um levantamento do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua (OBPopRua), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Os dados apontam aumento de 24% em relação a dezembro de 2023, quando o levantamento contabilizava um total de 64.818 pessoas nessa situação pelas ruas da capital.
Os números do OBPopRua são extraídos do Cadastro Único (CadÚnico), base de dados do governo federal para recebimento de benefícios sociais, atualizados pelas próprias prefeituras, através dos chamados CRAS (Centros de Referência em Assistência Social).
“Está acontecendo hoje, só pra você ter ideia, 1.425 obras. Só aquelas acima de R$ 500 mil (meio milhão de reais).”
#NÃOÉBEMASSIM. Veja por quê: Há somente 36 obras em andamento na cidade e que também possuem valor total de mais de 500 mil reais, conforme alegado pelo prefeito no site de acompanhamento da própria Prefeitura, Obras Abertas.
Perguntada, a assessoria do candidato também cita o site Obras Abertas como fonte. Entretanto, a base de dados completa do portal traz somente 452 obras. Questionada, a assessoria do prefeito alega que as obras de outras secretarias não estão no site e, por isso, o número aparece incompleto.
“O apresentador José Luiz Datena já foi condenado por imputar crime a pessoas inocentes. Eu quero repetir: o apresentador José Luiz Datena já foi condenado por imputar crimes a pessoas inocentes.”
A declaração é #FATO. Veja por quê: Minutos após a declaração de Nunes, no mesmo debate, Datena afirmou a Nunes: “O senhor disse que eu fui condenado em vários processos. Fui sim. Principalmente condenado acusando bandidos que teriam cometido crimes que na realidade julgados pela Justiça foram considerados, alguns, inocentes. Toda decisão judicial é justa.” A declaração de Nunes não deixa claro a que decisão ele se refere. É possível encontrar em sites de tribunais de justiça registros de processos em que Datena foi condenado, cabendo recurso ou não.
“Quando você entrava em um equipamento de urgência e emergência com infarto, 30% das pessoas iam a óbito. Um procedimento que a gente adotou, um protocolo que adotamos, com aplicação do trombolítico, caiu para 4%.”
A declaração é #FATO. Veja por quê: Existe uma estimativa de que, com a implementação de um protocolo único para as unidades de saúde municipal, que vem sendo estruturado nos serviços de urgência e emergência da rede municipal na última década, o número de óbitos decorrentes de infarto agudo do miocárdio na rede tenha sido reduzido de 30% para 4%. A linha de cuidado prevê que a rede municipal garanta que as pessoas que sofreram infarto agudo recebam um medicamento trombolítico (que dissolvem coágulos sanguíneos) ainda na rede pré-hospitalar, com a cobertura dos custos garantida pelo município. Uma linha de cuidado para infarto agudo do miocárdio lançada pelo Ministério da Saúde em 2021 previa o uso de trombolíticos entre as estratégias para “aprimorar o atendimento e tratamento para combater a principal causa de morte no país.” Há registros que mostram que um medicamento similar ao usado pela prefeitura chegou a ser incluído em 2011 pelo SUS.
“Em 2016, o Orçamento da saúde era de R$ 10 bilhões; nós passamos para R$ 20 bilhões, nós dobramos o orçamento da saúde.”
A declaração é #FATO. Veja por quê: Em 2016, até o último bimestre, tinham sido empenhados (valores reservados) R$ 10,2 bilhões em despesas totais com saúde na cidade de São Paulo, de acordo com Demonstrativos da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) apresentados pela Prefeitura. Em 2021, quando Ricardo Nunes, que era vice-prefeito de Bruno Covas, assumiu a Prefeitura, o empenho total em saúde foi de R$ 15,7 bilhões. Em 2022 e 2023, com Nunes inteiramente à frente da Prefeitura de São Paulo, os empenhos foram de R$ 18,1 bilhões e R$ 20,4 bilhões, respectivamente. Em 2024, até o terceiro bimestre, as despesas totais empenhadas com saúde foram de R$ 15,4 bilhões.
“O candidato que está ao meu lado [Pablo Marçal] foi condenado por formação de quadrilha no esquema de fraudes bancárias. Eu queria saber o que ele fará pra proteger os idosos que vivem caindo em golpes de WhatsApp como esse. Ele também é investigado pela Polícia Federal por falsidade ideológica, apropriação indébita e lavagem de dinheiro.”
#NÃOÉBEMASSIM. Veja por quê: Em abril de 2010, Marçal foi condenado pela Justiça Federal de Goiás a dois anos e seis meses de prisão por integrar um grupo responsável por fraudes bancárias que envolviam obter dados de contas das vítimas para acesso a home banking. Apesar dos demais envolvidos terem sido condenados por crimes que incluíam formação de quadrilha, Marçal foi enquadrado apenas em furto qualificado, que resultou em uma pena que ele não chegou a cumprir.
Segundo a sentença do juiz federal Paulo Augusto Moreira Lima, Marçal – então com menos de 18 anos – “não era o responsável pela concretização material dos furtos cibernéticos sob foco, em prol da quadrilha por ele integrada. Porém, o réu cuidava da manutenção dos equipamentos de informática do grupo criminoso, além de realizar a captação de listas de e-mails para a quadrilha.”
Em um vídeo publicado em 2022 em suas redes sociais, Marçal relata o que chamou de “a prisão da sobrevivência”. Ele afirma no vídeo que consertava computadores para um “cara da igreja”, que “os computadores ficavam rodando” e que “ia lá, só consertava e ia embora.” Ele diz que todas as pessoas “nessa situação foram condenadas e cumpriram pena”, mas ele foi o único que teve “extinção da punibilidade” e que não tem “nenhuma dívida com o Estado.”
Já em julho de 2023, Marçal foi um dos alvos de uma operação da Polícia Federal em São Paulo. A operação foi parte de uma investigação para apurar crimes de falsidade ideológica eleitoral, apropriação indébita eleitoral e lavagem de dinheiro ocorridas durante as eleições de 2022.
“Sou autora de projetos importantes, como o Pé-de-Meia e a distribuição de absorventes nas escolas.”
A declaração é #FATO. Veja por quê: O chamado Pé-de-Meia é um programa criado este ano que prevê uma espécie de poupança para estudantes do Ensino Médio. O objetivo é fornecer um incentivo financeiro para estudantes de baixa renda permanecerem estudando, combatendo a evasão escolar.
Segundo os registros da Câmara dos Deputados, o projeto que deu origem à lei 14.818/24 foi o de número 54/2021, apresentado pela deputada Tabata Amaral e com 17 coautores.
A deputada Tabata Amaral também apresentou duas propostas relativas à distribuição de absorventes. A primeira, o PL 428/2020, previa que fosse realizada “a distribuição de absorventes higiênicos em espaços públicos de acordo com as normas regulamentadoras.”
Em maio de 2021, quando outra proposta, da então deputada Marília Arraes (PT-PE) já era analisada na Câmara e havia recebido parecer favorável em uma das comissões da Casa, Tabata apresentou um segundo projeto, o PL 1.999/21, mais focado na possibilidade de distribuição dos absorventes em ambientes escolares.
Os dois projetos apresentados pela agora candidata a prefeita foram “apensados” ao texto apresentado em 2019. No jargão do Congresso, “apensar” um projeto a outro é fazer com que a proposta seja analisada juntamente com outro projeto de tema parecido ou associado. Na prática, foram 14 os projetos apresentados sobre o tema da distribuição de absorventes, entre 2019 e 2021, que tramitaram apensados ao primeiro.
Quando isso ocorre, é comum que o conteúdo dos projetos anexados depois seja incorporado ao texto do original. No fim, no entanto, apenas um projeto, em geral o que tramita há mais tempo, é efetivamente aprovado. Neste caso, os registros oficiais sobre o projeto que deu origem ao Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual fazem menção ao PL 4.968/19, de Arraes, e não ao PL 1.999/21, de Tabata.
Participaram da checagem: Cecília do Lago, Roney Domingos, Marcelo Parreira e Anaïs Fernandes