Com 45 anos de experiência no mercado imobiliário, Carlos Terepins – fundador e CEO da Even – comanda desde 2016 a Nortis Incorporadora, ao lado dos filhos Daniel e Fábio. Apesar de jovem, a empresa já lançou 15 projetos de alto padrão na capital paulista, com VGV de R$ 2,2 bilhões, que têm se destacado pela qualidade e pelo design arquitetônico. O bom resultado do começo, contudo, não seduz Terepins a pensar em abrir o capital, tampouco acelerar o crescimento da companhia. Entenda os motivos.
Carlos Terepins – Não queremos ser a maior empresa do mercado, mas a melhor. Nosso ritmo de crescimento não é o de rock’n roll, mas o de um bom jazz: elegante, sem pressa e com qualidade.
No portfólio, há poucos projetos com estúdios. Por que não embarcaram nessa tendência que tomou conta da cidade?
Porque não fazemos prédios para investidores. Nosso foco é o usuário final. Esse indivíduo tem um comprometimento com a aquisição do imóvel muito maior: não é uma crise econômica que o fará desistir da compra. Existe um engajamento emocional no processo, um plano de vida que o investidor ou poupador não têm. Um dos nossos projetos no Brooklin, por exemplo, é 100% residencial: não tem fachada ativa nem estúdios. São 67 unidades com plantas a partir de 200 metros quadrados. O cliente que pagou R$ 5 milhões pelo apartamento, não terá 150 estúdios ao lado dele. Para nós, esse é um valor fortíssimo.
E o que a Nortis gosta de fazer?
Preferimos edifícios ‘puro-sangue’. Projetos com foco no produto, de arquitetura autoral, localização nobre e pensado para o usuário final. As plantas precisam ser eficientes em todos os aspectos, não importa se o apartamento tenha 50 ou 450 metros quadrados. E não adianta fazer fachadas lindas: é preciso entregar produtos absolutamente consistentes do ponto de vista da qualidade e da funcionalidade. Então, além de bonito, o projeto precisa ser eficiente.
Apesar de jovem, a companhia já apresenta ótimos resultados. Abrir o capital é uma possibilidade?
No momento, a empresa não tem nenhuma necessidade de fazer esse tipo de movimento. Está consolidada do ponto de vista financeiro, tem crédito junto aos grandes bancos e coesão interna também. Agora, quanto ao futuro, não sei. Já vivi isso em outra companhia, sei como esse mundo é e sei como lidar com ele. Enquanto estive lá, era líder de mercado em São Paulo, entregava lucro todos os anos, mas sofria muitas pressões do mercado. É algo que eu não quero, necessariamente, viver de novo.
O cliente de alto padrão está mais exigente do que no passado?
Ele está muito mais preparado, mais viajado e com mais referências de design e tem o apoio de profissionais para avaliar o potencial de valorização do imóvel. Afora isso, ele sabe fazer conta: analisa seus outros investimentos, não compra mais por impulso e efetivamente compara os produtos. Só com o nome da incorporadora, não se vende mais apartamentos de alto padrão como acontecia antes.
Qual o impacto do atual cenário macroeconômico do país no setor imobiliário?
Não estamos vivendo um quadro recessivo no Brasil. Você sai para jantar ou vai ao shopping center e está tudo cheio. Ou seja, há uma atividade econômica acontecendo, independente de ideologia política. Claro, se tivéssemos uma taxa de juros mais baixa, o setor imobiliário teria uma velocidade de vendas mais intensa. Mas vejo uma tendência descendente aí e não estou pessimista quanto a isso.
E quanto à última revisão do Plano Diretor Estratégico de São Paulo, qual efeito trouxe para o mercado na sua avaliação?
No último ano, a falta de regulamentação mais rápida da lei de uso e ocupação do solo foi um impeditivo para a aquisição de terrenos, pela insegurança que gerou nos incorporadores. Aliás, até hoje esse assunto não está bem resolvido. Então, quem comprou terrenos ainda não sabe que tipo de projeto vai poder fazer ali. O nível de incerteza é gigante e isso é o que atrapalha mais o mercado neste momento.
Com 45 anos de experiência no setor, qual legado você quer deixar para São Paulo?
Não vou negar: eu tenho orgulho de andar pela cidade e ver que em quase todos os bairros há um prédio que eu ajudei a lançar. São mais de 350 projetos ao longo da minha carreira, com atenção à arquitetura de qualidade e que ajudam no embelezamento da capital. Mas o legado vai além da questão física: busco contribuir na formação dos colaboradores. É algo que eu me dedico diariamente: criar empresas em que as pessoas possam exercer suas potencialidades e afetos, formando não apenas excelentes profissionais, mas ótimos seres humanos.