O início de um novo ano normalmente traz uma sensação de recomeço: uma motivação de mudar hábitos, rever prioridades e encarar velhos desafios com um novo olhar. Com o estresse, não é diferente. Começamos o ano convencidos de que nossa saúde mental será prioridade e de que faremos diferente para termos uma vida menos estressante. Sabemos, porém, como normalmente terminamos o ano: estressados, cansados e contando os dias para o recesso de final de ano.
Porém, para além dessa realidade objetiva, há de se reconhecer que a maneira como respondemos ao estresse não é apenas reflexo de circunstâncias externas, mas também de como interpretamos e construímos subjetivamente essa realidade. Parece abstrato? Então reflita: ao pensar em estresse, qual é a primeira imagem que vem à sua cabeça? Algo negativo, que prejudica sua saúde e produtividade e deve ser evitado? Ou algo mais positivo, que te ajuda a desempenhar melhor e crescer frente a desafios?
Suas respostas podem relevar seu stress mindset, ou sua mentalidade sobre o estresse – que é a forma como você enxerga o estresse e seu impacto na sua vida. Algumas pessoas tendem a enxergá-lo como algo negativo, que debilita nossas capacidades e esgota energia. Outras, por sua vez, tendem a vê-lo por uma lente mais positiva, como um catalisador para desempenho e aprendizado.
Qual das visões está correta? Ambas. Evidências empíricas indicam que o estresse pode ter tanto efeitos negativos quanto positivos. Suas consequências negativas são bem conhecidas de todos nós: exaustão física, ansiedade, insônia, dificuldade de concentração são efeitos bem documentados, especialmente em situações de sobrecarga ou estresse crônico.
Por outro lado, você provavelmente já experimentou seu lado positivo. Ele pode ser aquele impulso antes de uma apresentação importante ou de uma entrega desafiadora. É como entrar em um estado de alerta, uma zona de alto foco e concentração, que motiva e energiza nossas ações. Em níveis controlados, o estresse nos ajuda a desempenhar mais, fortalece nossa resiliência e refina nossa capacidade de adaptação. É o tipo de estresse que nos impulsiona a avançar, mesmo sob condições adversas, reforçando a sensação de que somos mais capazes do que imaginávamos.
Se são duas faces da mesma moeda, por que seus efeitos negativos parecem mais evidentes? Certamente, a intensidade e duração do estresse a que somos submetidos têm papel importante em como reagimos a ele. Mas a maneira como o interpretamos também importa. Pesquisas empíricas revelam que pessoas que enxergam o estresse como algo debilitante tendem a ter piores resultados, tanto em saúde quanto em desempenho. Por outro lado, quem o interpreta como um facilitador – uma fonte de energia que pode impulsionar realização e crescimento – geralmente lida melhor com adversidades e consegue extrair aprendizados dessas experiências.
Fazer este reenquadramento cognitivo sobre como enxergamos estresse não é tentar tapar o sol com a peneira ou entrar em uma onda de positividade tóxica, onde há uma obrigação compulsória de ser feliz, grato e sempre ver o copo meio cheio. Não é isso. Assim como a positividade tóxica invalida emoções negativas e dificuldades concretas, o excesso de cinismo e negatividade também pode ser danoso, sugando não apenas sua energia, mas das pessoas ao seu redor. Ambos extremos nos colocam em lugares difíceis. O ponto aqui é reconhecer que a forma como enquadramos o estresse pode transformar nossa experiência com ele, gerando respostas mais ou menos adaptativas.
Neste início de ano, quando refletimos sobre o que queremos deixar para trás e o que levar adiante, vale não apenas reconhecer que o estresse pode ter uma faceta positiva, mas também estar atento à maneira como você constrói e interpreta a realidade. Se de um lado, ela pode transformar um desafio gerenciável em um fardo insustentável, em seu oposto, ela pode ajudar a encontrar energia e sentido, mesmo nas situações mais difíceis.
Tatiana Iwai é professora e pesquisadora de comportamento e liderança no Insper. Coordenadora do Núcleo de Comportamento Organizacional e Gestão de Pessoas do Centro de Estudos em Negócios do Insper. Doutora em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ao longo de sua carreira, atuou como consultora de mudança organizacional, desenvolvendo projetos para empresas nacionais e multinacionais.