Um ano após a criação da bancada negra na Câmara dos Deputados, o grupo está dividido sobre a condução das pautas no próximo ano. O atual coordenador, deputado Damião Feliciano (União-PB), trabalha para ser reconduzido e coleta assinaturas para se manter na função em 2025. Por outro lado, uma ala cobra que o acordo de rodízio no posto seja cumprido, e os nomes de Orlando Silva (PCdoB-SP) e Carol Dartora (PT-PR) estão cotados para assumir o cargo.
Nas últimas semanas, Feliciano tem buscado os colegas e coletado assinaturas para tentar continuar no posto. “Minha reivindicação de recondução é justa porque foi o primeiro ano de condução da bancada negra, e a gente conseguiu alicerçar, começar a trabalhar, colocar no prumo. Foi dificílimo viabilizar a aprovação de matérias naquele plenário, já que o Congresso é majoritariamente conservador. Nesse início, eu acho que é importante que a gente possa continuar a fazer esse trabalho [na liderança] pelo menos por mais um ano”, disse.
O movimento tem desagradado uma ala majoritária do bloco, que investirá no diálogo para demovê-lo da ideia. A iniciativa é encabeçada por parlamentares de partidos de esquerda.
No entendimento deles, Feliciano, por ser de um partido de centro, foi importante para que a criação da bancada fosse aprovada com amplo apoio no ano passado. Mas defendem que é preciso uma mudança para o novo passo que querem dar. O primeiro ano foi de consolidação da bancada. A partir de agora, dizem, o objetivo é uma construção mais ampla de políticas efetivas voltadas às pessoas negras.
Para a deputada Benedita da Silva (PT-RJ), não há espaço para a discussão sobre uma eventual permanência de Feliciano na coordenação da bancada porque o acordo previa um rodízio anual.
Segundo a deputada Dandara (PT-MG), os parlamentares negros do PT se reunirão em busca de um nome para o posto e para discutir sobre as prioridades do grupo em 2025. “Tivemos grandes vitórias neste primeiro ano, como a construção para a prorrogação das cotas em concursos públicos. A agenda de reparações, porém, é algo central e avançamos muito pouco”, disse.
Além da consolidação de um fundo nacional de reparação da escravidão, ela cita proposições que estabeleçam uma educação antirracista e que tratem do racismo ambiental. Há uma preocupação, também, de que a bancada atue nas discussões sobre o orçamento para garantir mais recursos voltados às políticas de seu interesse.
“É preciso avançar para influenciar mais o orçamento para que tenhamos políticas de igualdade racial com força real. Não adianta ter Ministério da Igualdade Racial sem orçamento. A prioridade deve ser a bancada criar coordenadas junto às bancadas para ter mais acesso a esses recursos”, afirmou Orlando Silva.
Além do rodízio anual do coordenador da bancada, Carol Dartora defende o revezamento de gênero e entre correntes políticas na função, com deputados de partidos mais conservadores e mais progressistas se intercalando a cada ano no posto.
Diante da movimentação de Feliciano para permanecer no cargo, integrantes da bancada pressionarão por uma reunião nos próximos dias para tentar garantir que a escolha do coordenador para 2025 atenda ao pleito da maioria dos membros.
O deputado do União Brasil, por sua vez, diz que apostará no diálogo para continuar no cargo. “Não existe essa queda de braço, não existe essa dificuldade de recondução. Estamos conversando com todo mundo. Desconheço que existam candidaturas avulsas. Conversei com Orlando e Carol e eles não me disseram que seriam candidatos. Sou político, estou conversando pela minha recondução e está havendo uma aceitação”, disse Feliciano.