O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) anunciou hoje que não enviará mais seus técnicos para acompanhar as eleições da Venezuela no domingo. A desistência ocorre após declarações do presidente Nicolás Maduro questionando a segurança do sistema eleitoral brasileiro.
“Em face de falsas declarações contra as urnas eletrônicas brasileiras, que, ao contrário do que afirmado por autoridades venezuelanas, são auditáveis e seguras, o Tribunal Superior Eleitoral não enviará técnicos para atender convite feito pela Comissão Nacional Eleitoral daquele país para acompanhar o pleito do próximo domingo”, informa a Corte em nota.
Mais cedo, em outra nota, a Corte havia afirmado que o boletim de urna brasileiro “é totalmente auditável”.
Maduro passou a fazer declarações críticas ao Brasil depois de uma entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a agências internacionais, na segunda-feira. Lula disse estar “assustado” com a afirmação do líder venezuelano de que haverá um “banho de sangue” no país, caso ele perca a eleição do próximo domingo. Herdeiro político de Hugo Chávez, antigo aliado de Lula, Maduro disputa a permanência no cargo contra o líder oposicionista Edmundo González.
“Temos o melhor sistema eleitoral do mundo. Tem 16 auditorias e se faz auditoria quente, como vocês sabem, em 54% das mesas. Em que outra parte do mundo se fazem isso? Nos Estados Unidos? O sistema eleitoral não é auditável. No Brasil? Não auditam nenhum boletim no Brasil. Na Colômbia? Não auditam nenhum boletim”, disse Maduro.
No mesmo dia, Maduro disse, em tom de ironia e sem citar Lula, que quem se assustou com sua fala “que tome um chá de camomila”.
Hoje, Maduro voltou à carga ao afirmar em evento com autoridades de Trinidad e Tobago em Caracas que mantém “fronteira e boa vizinhança” com países como a Colômbia, o Brasil. Mas ressaltou que isso implica “que ninguém se meta nos assuntos internos da Venezuela”.
O TSE inicialmente havia recusado pedidos para que enviasse técnicos ao país vizinho. Porém, na semana passada resolveu a ceder a apelos de integrantes do governo e mudou de posição.
Autoridades do governo brasileiro vêm monitorando as declarações de Maduro, mas não devem rebatê-las publicamente.
O assessor especial da Presidência, Celso Amorim, acompanhará a eleição em Caracas. No Planalto e no Itamaraty, há apreensão sobre se Maduro aceitará uma eventual derrota.
Também preocupa o fato de a posse do novo presidente só ocorrerá seis meses após o pleito, o que aumenta as incertezas em caso de vitória da oposição.