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Tom duro do BC e atividade forte reforçam aposta em alta da Selic | Finanças

Redação
por Redação

O tom mais duro utilizado por autoridades do Banco Central (BC) nos últimos dias, em especial pelo diretor de política monetária, Gabriel Galípolo, reforçou a percepção dos agentes financeiros de que a Selic vai voltar a subir no curto prazo. Ainda que os preços dos ativos já incorporassem a perspectiva de uma retomada do aperto monetário, o movimento ficou ainda mais claro no fechamento da sexta-feira, e a alta da taxa de juros passou a fazer parte do cenário-base de um número ainda maior de instituições importantes do mercado.

Os preços dos ativos passaram a refletir, com ainda mais clareza, a expectativa de que o aperto será retomado no curto prazo. Pela precificação da curva de juros (as taxas em diversos vencimentos), no fechamento de sexta, os agentes esperavam altas de 0,33 ponto percentual na reunião de setembro; 0,40 ponto em de novembro; e 0,41 ponto em dezembro — o que totaliza uma Selic de 11,5% no fim do ano. O ciclo de aperto continuaria até o primeiro trimestre de 2025, chegando a 12%. Além disso, o mercado de opções digitais de Copom apontava apenas 31,5% de probabilidade de a Selic ser mantida nos 10,5%, contra 38% de chance de alta de 0,25 ponto e 29% de chance de uma elevação de 0,5 ponto.

De acordo com o economista-chefe da Legacy Capital, Pedro Jobim, os sinais de que a atividade econômica se mantém resiliente, em meio ao cenário de inflação crescente e a expectativas desancoradas, já pediam que o BC começasse a preparar o terreno para uma alta de juros. Isso foi feito na ata da última reunião do Copom, e as comunicações mais recentes de membros da autoridade apenas reforçaram a perspectiva de que o aperto monetário deve ser retomado já em setembro.

Assim, a Legacy passou a esperar três elevações de juros de 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões do BC, o que deve levar a Selic a 12% no fim do ano. “Embora nossa projeção de PIB seja de 2,5%, há um claro risco que ele venha a ser mais próximo de 3%. As expectativas de inflação estão perto de 4% em 2025, mais próximas do teto do que do centro da meta. Um dos argumentos que existiam para justificar a estratégia de Selic parada era o da inflação corrente, mas ela também vem subindo recentemente e a média dos núcleos já está mais próxima de 4%. Com essa postura fiscal do governo, de crescimento real de despesas elevado, com a atividade econômica forte e uma inflação escapando, precisamos trabalhar com juros mais altos”, afirma.

Segundo ele, boa parte das incertezas que pairavam em torno da condução da política monetária foram dissipadas nos últimos dias, com os membros do Copom demonstrando, de modo coeso, que estão dispostos a retomar o aperto.

“Do ponto de vista da política monetária, a pior coisa que a autoridade pode fazer é sinalizar uma alta de juros e acabar não cumprindo. E é melhor que isso seja feito com um ritmo mais intenso no início. Se fosse começar por uma alta de 0,25 ponto, seria necessário acelerar o ritmo depois. Na nossa visão, três altas de 0,5 ponto podem melhorar as projeções, as expectativas de inflação e limitar o processo de depreciação do câmbio”, diz.

Em movimento semelhante, os economistas do ASA passaram a projetar um ciclo de elevação da taxa básica de juros, terminando com a Selic em 12% no início do próximo ano.

A casa, que tem o ex-diretor do BC Fabio Kanczuk como diretor de investimentos, espera uma elevação de 0,25 ponto em setembro, seguida de duas altas de 0,5 ponto em novembro e em dezembro, e um fim de ciclo com mais um aumento de 0,25 ponto em janeiro de 2025. “Apostamos em um miniciclo de elevação de juros, suficiente para ajudar a conter parte da piora das expectativas, mas insuficiente para reancorá-las na meta de 3%.”

O movimento, na visão dos economistas do ASA, “deve ocorrer a despeito de uma redução [dos juros] nos EUA, de três cortes de 0,25 p.p. neste ano, que deve ajudar a criar um ambiente local mais positivo”. Não por acaso, a gestora reduziu sua projeção para a taxa de câmbio no fim deste ano de R$ 5,50 para R$ 5,35 por dólar, enquanto a expectativa para a cotação da moeda americana no fim de 2025 passou de R$ 5,60 para R$ 5,45.

A Genoa Capital, por sua vez, tem adotado uma retomada do aperto monetário como cenário-base há algum tempo, e a expectativa da gestora também é de um aumento inicial de 0,25 ponto percentual em setembro, seguido de duas altas de 0,5 ponto em novembro e em dezembro, o que levaria a Selic para 11,75% no fim deste ano. A asset também espera mais uma elevação de 0,25 ponto nos juros no começo de 2025, com a taxa básica em 12% no fim do ciclo.

Outra gestora que revisitou suas projeções para Selic foi a WHG. A casa espera, agora, uma alta de 0,25 ponto na reunião de setembro; duas altas seguidas de 0,5 ponto nas reuniões de novembro e dezembro; e mais um ajuste de 0,25 ponto em janeiro. Assim, a Selic, no início do ano que vem, estaria nos 12%. Com juros mais elevados, também houve algum espaço para uma melhora na estimativa para o câmbio, que passou dos R$5,40 para os R$ 5,30 no fim do ano.

Ao mesmo tempo, a elevação dos juros no curto prazo abriria espaço para a retomada do ciclo de afrouxamento no ano que vem e a Selic encerraria 2025 aos 9,5%. A gestora aponta, no entanto, que o cenário de cortes está condicionado à capacidade do governo de entregar um controle de despesas, o que incluiria a discussão sobre o Orçamento de 2025, a desaceleração no crescimento do gasto público e o sucesso no pente-fino nos benefícios sociais.

Já o banco ABC Brasil passou a esperar três altas de 0,25 ponto nas próximas reuniões do Copom, o que levaria a Selic a 11,25% ao fim do ano. Os gatilhos para a revisão foram as surpresas com a atividade econômica, reforçadas pela divulgação do IBC-Br de julho, a desancoragem das expectativas e os discursos recentes de membros do BC.

O diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo — Foto: Arthur Menescal/Bloomberg

Fonte: Externa

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