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Seja humilde: é bom para o aprendizado e para a saúde dos relacionamentos

Redação
por Redação

Ninguém sabe tudo. Reconhecer essa limitação e a possível falibilidade até mesmo de nossas crenças mais profundas é fundamental para o conceito de humildade intelectual.

“Ela ajuda a superar esse pensamento muito categórico, ou-preto-ou-branco, ao qual muitas vezes sucumbimos”, diz Igor Grossmann, professor de psicologia da Universidade de Waterloo.

A ideia de humildade intelectual está por aí há séculos: os filósofos sempre consideraram uma virtude reconhecermos nossas limitações. Mas o interesse experimental dos psicólogos ficou popular só na última década, em resposta à crescente polarização política. Eles viram a humildade intelectual como um possível antídoto.

Humildade intelectual faz bem para aprendizado e relacionamentos, mostram pesquisas. Foto: calypso77/Adobe Stock

“A humildade intelectual é difícil, porque queremos estar certos e achamos que estamos certos”, observa Tenelle Porter, professora assistente de psicologia da Universidade de Rowan, que trabalhou com Grossmann em uma revisão de 2022 sobre o assunto.

Mas as pesquisas sugerem que esses desafios trazem benefícios: a humildade intelectual é uma maneira de melhorar não apenas a nós mesmos, mas também nossos relacionamentos – ajudando-nos a aprender e a conviver uns com os outros.

Quando você estiver numa discussão acalorada – por exemplo, no jantar de Natal – vale a pena se concentrar na “humanidade compartilhada”, orienta Grossmann. “Ainda fazemos parte do mesmo planeta. Respiramos o mesmo ar”.

Isso pode ajudar você a pensar de forma diferente sobre a situação, informa. “Você fica menos na defensiva, porque não é uma questão de nós contra eles. A questão é todo mundo junto”.

Abrir a porta para o aprendizado

Embora a humildade intelectual não esteja associada a uma maior capacidade cognitiva, ela está relacionada a mais conhecimento geral, curiosidade e mente aberta.

“Se alguém percebe que ‘Ok, meu jeito de pensar não é perfeito’, é mais provável que consiga fazer correções e superar algumas dessas coisas”, analisa Elizabeth Krumrei Mancuso, professora de psicologia da Pepperdine University.

Em um estudo de 2019 com 1.189 pessoas, Elizabeth e seus colegas descobriram que as pessoas mais humildes intelectualmente também tinham maior probabilidade de apresentar características que ajudam a adquirir novos conhecimentos: pensamento reflexivo, curiosidade e abertura intelectual.

Um experimento solicitou que os participantes avaliassem sua familiaridade com dados de conhecimento geral (Napoleão, por exemplo). Crucialmente, o experimento também misturava dados falsos.

As pessoas que eram intelectualmente humildes tinham mais conhecimento geral e eram menos propensas a afirmar que sabiam algo que não existia.

Mas o estudo também descobriu que a humildade intelectual estava associada a um “efeito de modéstia” – ou seja, subestimar a própria capacidade.

Na sua forma ideal, a humildade intelectual não significa pensar menos de si, avisa Elizabeth. Você pode ter certeza de coisas para as quais tem boas evidências e, ao mesmo tempo, manter a possibilidade de se equivocar.

“A humildade intelectual não significa que tudo é relativo, que não há respostas, que não existe verdade, que não existem boas evidências”, acrescenta Tenelle.

Pesquisas descobriram que as pessoas com mais humildade intelectual são mais inclinadas a examinar as evidências e menos propensas a cair em desinformação e em teorias da conspiração.

“Você pode ser intelectualmente humilde e, ao mesmo tempo, intelectualmente corajoso”, afirma Elizabeth.

A humildade intelectual ajuda os relacionamentos e a cooperação

A humildade intelectual também pode ser fundamental nos nossos relacionamentos pessoais, pois está associada a valores pró-sociais, como empatia, tomada de perspectiva e disposição para ouvir os outros.

Ela nos ajuda a amenizar e perdoar diferenças e está associada a um melhor humor e a uma sensação de proximidade, mesmo após conflitos interpessoais.

Também pode haver benefícios sociais individuais. Ao contrário do que se poderia esperar, quando a pessoa admite que está errada ou que não sabe tudo, ela parece mais competente, e não menos. Pesquisas sugerem que os seguidores ficam satisfeitos com líderes intelectualmente humildes.

Nesses tempos de polarização, mais humildade intelectual em geral pode deixar as conversas mais frutíferas e abertas, se as pessoas derem um passo atrás e tiverem a consciência de que pode haver algo que elas não consideraram, ensina Tenelle.

“Temos que encontrar um jeito de ter uma sociedade coerente, que trabalhe em conjunto para fazer as coisas. (…) A humildade intelectual faz com que isso funcione melhor”.

Possíveis desvantagens da humildade intelectual

Os pesquisadores da humildade intelectual – talvez sem surpresa – reconhecem o quanto ainda não sabem sobre ela.

Por um lado, muitos dos benefícios individuais da humildade intelectual são correlacionais.

Por outro, muitos estudos se baseiam em questionários que avaliam a humildade intelectual em diferentes contextos. Embora esse método tenha fornecido percepções sobre as características e as consequências da humildade intelectual, ele tem desvantagens, como o paradoxo da humildade. (“Não se pode confiar em alguém que diz que é a pessoa mais humilde do mundo”, diz Grossmann).

Há também casos em que ser intelectualmente humilde demais pode não ser benéfico, embora se saiba menos sobre as desvantagens, porque isso não é tão bem estudado.

Mas é possível que haja circunstâncias em que você não queira expressar incerteza sobre seu conhecimento, como em um local de trabalho hostil ou em um contexto militar.

A humildade intelectual também é uma “estratégia cara”, pois leva tempo para ser avaliada. E, às vezes, não temos o luxo de ter tempo, avalia Grossmann.

Como cultivar a humildade intelectual

As pesquisas sobre intervenções de humildade intelectual estão em andamento, ressalta Grossmann, que teve o cuidado de não “prometer demais”. Mas há algumas coisas que podem ajudar, dizem os especialistas:

  • Tire um momento para refletir

Antes de entrar numa conversa potencialmente controversa, lembre-se dos benefícios da humildade intelectual e dos objetivos que você tem para a interação.

Em um estudo de 2021, Grossmann e seus colegas avaliaram 149 adultos que escreveram diários sobre a coisa mais significativa que aconteceu naquele dia durante um mês. Mas alguns participantes escreveram na terceira pessoa, de uma perspectiva menos egocêntrica, enquanto os participantes do grupo de controle escreveram na primeira pessoa.

Depois de um mês de experimento, os participantes que escreveram na terceira pessoa apresentaram maior crescimento no raciocínio sensato, com mais humildade intelectual e mente aberta, em comparação com as avaliações anteriores.

E, mais tarde, eles tiveram menos probabilidade de relatar sentimentos negativos em relação às pessoas que consideravam ter feito algo errado contra eles, conta Grossmann.

Os sentimentos que nos ajudam a transcender a nós mesmos e a nos concentrar em algo maior parecem ajudar. Em um estudo, Elizabeth e seus colegas compararam aquilo que é conhecido como emoções autotranscendentes – como admiração, amor e gratidão – com outras emoções positivas e descobriram que as emoções autotranscendentes podem aumentar a humildade intelectual, pelo menos a curto prazo.

A gratidão foi o indicador mais forte de humildade intelectual. “Não dá para ter gratidão e, ao mesmo tempo, querer ganhar todos os créditos”, comenta a especialista.

Embora essas emoções geralmente não durem muito tempo, o bom dessas experiências autotranscendentes é que podemos encontrá-las várias vezes na nossa vida diária, diz ela. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Fonte: Externa

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