Os primeiros registros de comportamentos que podem ser interpretados como racismo remontam às civilizações antigas, onde as diferenças entre povos eram primordialmente percebidas e registradas em termos de etnia, cultura e poderio militar, mais do que pela cor da pele.
Documentos e registros históricos, como os da Grécia Antiga e do Império Romano, revelam uma complexa hierarquia social que frequentemente colocava os povos conquistados em posições inferiores, independentemente de suas características físicas. Por exemplo, Heródoto, em suas “Histórias”, descreve os povos conquistados pelos gregos com base em seus costumes e práticas culturais, mais do que por traços físicos. A principal causa desse tipo de discriminação era o domínio e a expansão territorial, em que a conquista e a subjugação de outros povos eram vistas como maneiras de expandir o poder e a influência de uma civilização.
No século XV e XVI, Portugal, como pioneiro da era das grandes navegações, encontrou-se na vanguarda do contato europeu com diversos povos africanos, asiáticos e americanos, marcando o início de um período de exploração, colonização e comércio transatlântico de escravos.
Este período histórico, caracterizado pela expansão imperialista portuguesa, também testemunhou o surgimento de concepções racistas que serviram para justificar o domínio e a exploração desses povos. A ideologia racista, neste contexto, estava intrinsecamente ligada à justificação da escravidão como uma prática econômica e socialmente aceitável, fundamentada em crenças de superioridade cultural e religiosa.
Documentos da época, como as bulas papais (por exemplo, a Dum Diversas de 1452) e os relatos de cronistas, refletem a percepção de que a sujeição de povos “infiéis” e “não civilizados” não apenas era aceitável, mas também uma missão divina, estabelecendo um precedente para o racismo sistêmico que se intensificaria nos séculos seguintes.
No século XIX, a Alemanha foi um terreno fértil para o desenvolvimento de teorias pseudocientíficas que promoviam a ideia de superioridade racial ariana, culminando em justificativas sub-científicas para o racismo. Sob a influência de teorias da evolução mal interpretadas, como as de Charles Darwin, e a emergência da eugenia, cientistas e teóricos alemães, como Ernst Haeckel, começaram a classificar as raças humanas hierarquicamente, promovendo a noção de que os arianos (particularmente os germânicos) estavam no topo dessa camada, destinados a dominar outras raças consideradas inferiores.
A luta contra o racismo, embora possua raízes profundas e dispersas ao longo da história, começou a ganhar forma organizada e visibilidade internacional no século XVIII, durante o Iluminismo, quando filósofos e pensadores passaram a questionar as bases morais e científicas da escravidão e da desigualdade racial. Este período viu emergir as primeiras vozes contra a escravidão nas colônias europeias e a injustiça da subjugação racial, em destaque a obra “A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão” de 1789, na França, como um marco ideológico que inspirou discussões sobre igualdade e liberdade.
No século XIX, a luta antirracista ganhou mais força com movimentos abolicionistas, especialmente nos Estados Unidos e no Reino Unido, culminando em eventos históricos como a Guerra Civil Americana e a abolição da escravatura com a 13ª Emenda. A luta se intensificou no século XX com movimentos pelos direitos civis por americanos, liderados por figuras como Martin Luther King Jr., e a oposição ao apartheid na África do Sul, simbolizada por Nelson Mandela.
A criminalização do racismo no Ocidente é um processo histórico que se desenrolou ao longo do século XX, marcado por uma série de legislações, movimentos sociais e pressões internacionais que buscaram erradicar as práticas criminosas para promover a igualdade racial. O movimento ganhou impulso significativo após a Segunda Guerra Mundial, com a revelação das atrocidades cometidas pelo regime nazista, o que levou à criação da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela ONU em 1948, estabelecendo um marco contra a discriminação racial.
Nos Estados Unidos, a Lei dos Direitos Civis de 1964 e a Lei dos Direitos de Voto de 1965, criminalizou várias formas de preconceito, proibindo a segregação em locais públicos e garantindo o direito de voto independente da raça.
A criminalização do racismo, embora seja um passo crucial da luta, não assegura por si só a eliminação ou a redução substancial do racismo na sociedade. Essa limitação se manifesta claramente em eventos recentes, como o ressurgimento do antissemitismo após incidentes específicos, e o aumento da visibilidade de grupos de supremacia branca durante e após a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos.
Esses fenômenos sugerem que, apesar das leis e sanções em vigor, o racismo e outras formas de ódio racial podem permanecer latentes, emergindo em momentos de tensão social ou política.
Para uma abordagem eficaz, políticas devem transcender a esfera legal e adentrar profundamente nos domínios educacional, econômico e cultural, reconhecendo que o ensino dos jovens, embora crucial para moldar futuras gerações mais tolerantes, não é suficiente para resolver os problemas presentes.
A ansiedade em torno da perda de empregos, muitas vezes exacerbada pela chegada de imigrantes, serve como um terreno fértil para o tema, como destacado por Aviva Chomsky em “They Take Our Jobs! 20 Other Myths about Immigration”
, onde ela desmistifica a crença de que imigrantes “roubam” empregos, e como essas narrativas alimentam a xenofobia.
Além disso, o racismo tem sido instrumentalizado por líderes políticos e religiosos para mobilizar apoio, uma prática observada em diversas sociedades e momentos históricos. A campanha eleitoral de Donald Trump em 2016, foi marcada pelo uso de retórica anti-imigrante e racialmente carregada, conforme analisado por Michael Tesler em “Post-Racial or Most-Racial?: Race and Politics in the Obama Era”
, demonstrando como tais discursos podem reforçar divisões sociais e raciais.
Portanto, políticas antirracistas eficazes devem incluir estratégias abrangentes para diversas facetas, promovendo a inclusão econômica, combatendo estereótipos através da educação em todos os níveis da sociedade e desencorajando o aproveitamento político e religioso do racismo.
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