Sabe aquelas praças de cidades do interior rodeadas de comércio e que servem de ponto de encontro para as pessoas? Pois é, a ideia está sendo reproduzida em escala macro dentro da maior metrópole do Brasil: São Paulo. São projetos privados que estão transformando áreas comerciais subutilizadas da cidade em imensas “praças” abertas aos bairros, com lojas e serviços que atendem às necessidades cotidianas dos habitantes locais.
É o que está para acontecer no Market Place, entre a Marginal Pinheiros e a Avenida Chucri Zaidan, Zona Sul da capital. O complexo multiúso foi inaugurado em 1995, com prédios de escritórios e um pequeno shopping, mas perdeu o brilho diante dos concorrentes corporativos e comerciais mais modernos que se instalaram na região e quase “sumiu” do mapa.
Em fevereiro deste ano, o grupo Iguatemi S.A., dono do empreendimento, anunciou um ambicioso retrofit do espaço, com obras previstas para começar no primeiro semestre de 2025. O projeto é da Acia Arquitetos, que pretende ressignificar completamente o Market Place, transformando-o em uma espécie de “Distrito Iguatemi”, que deve ficar pronto em três anos.
“Será muito mais do que um shopping ou multiúso, será uma grande praça central do bairro, que tem crescido rápido e perdido a identidade”, afirma Fabio Aurichio, sócio-fundador da Acia Arquitetos.
O novo complexo será dividido em cinco áreas, conforme a vocação: Live, Work, Business, Community e Market, com varejo voltado a demandas do dia a dia. Parte significativa do shopping será convertida em área privativa, para receber o “open mall”, lajes corporativas, espaço de eventos e um restaurante no “rooftop”.
O restante será reformado, com requalificação da praça de alimentação e novas vitrines dispostas na fachada ativa aberta para a Avenida Chucri Zaidan. Já as duas torres de escritórios existentes terão suas fachadas retrofitadas. Por fim, na esquina da Marginal Pinheiros, será erguida uma torre residencial de alto padrão, com apartamentos de um a quatro dormitórios e operação no modelo “multifamily”. O empreendimento será aberto no térreo para permitir a passagem de pessoas.
“Elas poderão caminhar pela galeria de lojas dentro do complexo. A ideia é criar uma trama que conecte todo o bairro e facilite a vida de quem mora ou trabalha na região”, explica Aurichio.
Segundo o arquiteto, o complexo terá a função de colaborar com a descentralização da capital. “Com moradia, trabalho e praça de bairro cercada de serviços, o novo distrito vai ajudar a reduzir o movimento pendular casa-trabalho-casa, que é um dos principais problemas da cidade.”
Outras regiões da capital têm projetos semelhantes já entregues ou em fase de desenvolvimento. Na Zona Oeste, o Lapi Pinheiros entrou em operação no mês de março. É um centro comercial e de convivência criado após a profunda revitalização de um quarteirão inteiro, próximo ao Largo da Batata.
“A proposta é valorizar mais os espaços abertos, com praças internas e vitrines das lojas voltadas para dentro, aproveitando o alto potencial de circulação de pessoas pelas fruições entre as ruas”, diz o arquiteto Thiago Rodrigues, do escritório Superlimão, responsável pelo projeto.
Rumo à Zona Norte, duas grandes áreas estão próximas a passar por transformação semelhante: o aeroporto Campo de Marte, na Marginal Tietê, da XP, e a Cidade Center Norte, do grupo Baumgart, cuja âncora principal é o shopping center de mesmo nome.
Os dois empreendimentos passaram por estudos de vocação e análises de risco da consultoria de inteligência imobiliária Urban Systems. No caso do Center Norte, o objetivo foi indicar medidas para otimizar o uso da área de 600 mil metros quadrados e avaliar que produtos complementares ao shopping teriam maior aderência, como edifícios residenciais, faculdade e hospital.
“A lógica da criação dessas novas centralidades é buscar o equilíbrio da oferta de produtos e serviços naquela área, para que as pessoas possam viver e trabalhar ali sem precisar se deslocar com frequência para outros bairros”, declara Thomaz Assumpção, CEO e sócio-fundador da Urban Systems.
Assumpção destaca ainda que o aeroporto é um importante indutor de desenvolvimento urbano. No Campo de Marte, ele prevê a geração de um volume expressivo de receitas acessórias à operação aeronáutica.
“Será uma inserção urbana muito forte, com grande potencial de desenvolvimento imobiliário em seu entorno, criando uma centralidade nova na cidade.”