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Projeto busca ampliar concorrência para favorecer juro menor | Finanças

Redação
por Redação

Com apoio da equipe econômica do governo Lula (PT), a Câmara dos Deputados deve votar nos próximos dias projeto de lei para facilitar a portabilidade de salários e aposentadorias, ampliar o uso do débito automático no pagamento de empréstimos e de faturas de cartão de crédito e dar mais transparência aos custos de financiamentos para o tomador. A ideia é que, no conjunto, a iniciativa ajude a formar um ambiente favorável à redução da inadimplência e das taxas de juros.

As medidas foram apresentadas pelo líder do MDB na Câmara, deputado Isnaldo Bulhões (AL), dentro de um projeto totalmente diferente (que tratava do cadastro positivo) e que teve requerimento de urgência aprovado há duas semanas. O texto reproduz parte de iniciativas sugeridas em um projeto do deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) no primeiro semestre, mas que foi retirado após causar polêmica. A intenção é que o novo texto seja aprovado antes do recesso parlamentar, em dezembro, e siga para o Senado.

Bulhões é um dos deputados mais próximos do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Segundo o Valor apurou, o ministério participou das negociações em torno do texto por meio do secretário de Reformas Econômicas, Marcos Pinto, e vê a iniciativa como positiva, embora ainda a esteja analisando ponto a ponto.

A percepção de técnicos e de parte do setor financeiro é que as regras têm potencial para diminuir a inadimplência, reforçar garantias, melhorar o acesso do consumidor à informação, ampliar a concorrência e, com isso, colaborar para a redução das taxas de juros. A maioria das propostas já está disciplinada em resoluções do Banco Central, mas, na leitura de parte do setor, há pouca aderência dos grandes bancos.

As medidas beneficiariam principalmente fintechs e operadoras de meios de pagamento. A portabilidade de salários e aposentadorias, por exemplo, ajudaria essas empresas entrantes a captar clientes individualmente, já que elas não costumam disputar com os incumbentes as licitações de folha de salários de órgãos públicos.

Uma das principais mudanças do projeto é fortalecer o empréstimo ou cartão de crédito com débito automático em conta e permitir o cadastro para pagamento em qualquer instituição financeira. Com isso, o empréstimo poderá ser contratado em um banco e pago em outro, automaticamente, todo mês. Será possível, inclusive, listar mais de uma conta corrente para quitar os valores. Assim, se não houver dinheiro suficiente na primeira, será debitado da segunda ou terceira contas indicadas.

Como o débito automático tende a reduzir o risco de inadimplência, as instituições que oferecerem crédito nessa modalidade poderão ofertar taxas menores. O mecanismo já existe hoje, mas depende de convênios com as instituições, e a percepção é de que haveria pouco interesse dos grandes bancos em firmar esses acordos de forma a abrir espaço para concorrência.

Caso o texto avance, um cliente poderá, por exemplo, fazer um cartão de crédito em um varejista e cadastrá-lo em débito automático na conta corrente em que recebe seu salário. Dessa forma, é menor o risco de o cliente perder a data de pagamento por desatenção, além de inibir a possibilidade de priorizar outros gastos, dar “calote” no cartão ou deixar para pagar outro dia.

As regras para desistência do débito automático serão definidas posteriormente pelo Banco Central, mas o projeto determina que isso só poderá ocorrer quando o saldo da dívida estiver quitado. A autoridade monetária também fará, em até 180 dias, a regulamentação de como esse sistema funcionará entre as instituições do sistema financeiro.

O projeto permite ainda que a instituição financeira acione a Justiça de forma mais rápida para pedir a penhora liminar de outros bens do devedor se não houver saldo na conta corrente indicada. Para comprovar o atraso, bastará notificar o cliente por e-mail e SMS. Qualquer bem móvel acima de 15 salários mínimos (R$ 21.180 a preços de 2024) poderá ser confiscado para quitar a dívida.

Com o débito automático, o valor é retirado mesmo se não houver saldo em conta, desde que o cliente tenha limite disponível no cheque especial. Nesse caso, os juros costumam ser mais altos do que os de outras linhas de crédito.

O projeto de lei ainda determina que os clientes deverão ser informados periodicamente dos juros e encargos que estão pagando nas modalidades de crédito contratadas, e também devem receber sugestões de alternativas mais baratas. Será proibido incluir os limites de crédito pré-aprovado, como cheque especial, como se fosse parte do saldo da conta corrente. E o correntista deverá receber informações e assessoramento caso tenha saldo devedor “vencido de forma persistente”.

O consumidor passará a ser avisado, com pelo menos cinco dias de antecedência, de mudanças nas taxas de juros de seu cartão ou empréstimo. Essa notificação terá que ser enviada junto da opção de cancelar o contrato, e as novas taxas só poderão ser aplicadas sobre o saldo devedor futuro, na hipótese de renovação da operação de crédito após 30 dias. Além disso, as instituições terão que informar, “com destaque”, quais são as taxas cobradas nas diversas modalidades de crédito.

Por fim, o projeto determina que será obrigatória a portabilidade de salários, proventos, soldos, vencimentos, aposentadorias, pensões e similares se isso for demandado pelo cliente. Os bancos terão no máximo dois dias úteis para responderem à demanda, além de precisarem justificar, de forma fundamentada, caso recusem a transferência. No setor, contudo, há preocupação de que esse prazo seja por demais enxuto e facilite fraudes.

Relator do projeto, Bulhões disse ao Valor que construiu o texto junto com o governo e que teve boa recepção dos partidos. “É uma proposta que democratiza o crédito, vai dar acesso a condições de juros melhores e diminuir a chance de uma ‘forçação’ de barra no rotativo”, disse. “Já recebi algumas sinalizações meio arrepiadas do setor bancário, principalmente dos grandes bancos, mas é um projeto cujo foco é o consumidor”, afirmou.

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) afirmou, em nota, que não tem posição contrária ao projeto, mas ainda está debruçada na análise do seu teor, pois o substitutivo foi disponibilizado apenas recentemente. “O principal foco de atenção da Febraban é que, por vezes, tratar métricas operacionais da regulação bancária por meio de lei pode engessar a necessidade mais premente de ajustes, a tempestividade e a flexibilidade de atuação do regulador”, disse. Procurada, a Zetta, que representa fintechs, não comentou até o fechamento desta edição.

Fonte: Externa

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