A decepção dos investidores com o duplo anúncio feito ontem pelo governo levou a uma forte depreciação do câmbio, o que deverá impulsionar uma nova rodada de deterioração das projeções de inflação e exigir um aperto monetário mais duro e ágil do Banco Central nas próximas reuniões. A visão é do CEO da AZ Quest, Walter Maciel.
Na visão do executivo, o momento atual é “perigoso” para adotar uma posição tomada (que se beneficia da subida) em juros locais, assim como é difícil deter uma posição “short” (que se beneficia da depreciação) com o dólar a R$ 6.
O CEO da AZ Quest também não vê um gatilho para o mercado acionário local virar no curto prazo. “Investidores vão continuar buscando proteção em ativos ‘high grade’ [menor risco e retorno].”
Apesar disso, a casa diz ver boas perspectivas para algumas ações como Embraer, Sabesp, Eletrobras, Prio, Hapvida e Santos Brasil, que possuem maior resiliência, um fluxo de caixa mais sólido e boa gestão. “Todas estão muito descontadas”, acrescentou o CEO da casa. Por outro lado, a gestora está com uma visão menos otimista para ações de varejo.
Maciel, porém, não descarta a chance de que o governo seja forçado a tomar mais medidas adiante, se o real continuar a perder valor frente ao dólar. A questão, segundo ele, é que quanto mais tempo demorar para fazer alguma mudança, maior deverá ser o ajuste.
Na visão do CEO da AZ Quest, as medidas anunciadas ontem deixaram de ser um plano “exclusivo da área econômica e passaram a ser um projeto de governo”. “O que está por trás do anúncio de ontem é esse sentimento: as eleições municipais foram cruéis e a popularidade está muito baixa. Se eu for para a classe média baixa e fizer um carinho, quem sabe a popularidade não aumenta.”
*Participante do Curso Valor de Jornalismo Econômico sob supervisão de Gabriel Roca