O primeiro turno da eleição legislativa deste domingo na França deve castigar o presidente Emmanuel Macron com uma derrota tão dura — se não maior — quanto a da votação francesa para o Parlamento Europeu, em 9 de junho, segundo as pesquisas. o partido de extrema direita Reunião Nacional (RN), liderada por Marine Le Pen, deve obter a maior bancada da Assembleia Nacional de 577 cadeiras. O segundo turno será em 7 de julho.
Analistas dizem que Macron está a beira de perder a aposta gigantesca que bancou ao antecipar as eleições legislativas projetando que a surpresa e o temor causados pelo triunfo do RN na votação europeia empurraria o eleitor mais para o centro.
A votação não afeta diretamente a capacidade de Macron permanecer no cargo até o final do seu mandato, em 2027, e Macron disse que não renunciará. Mas uma provável vitória da extrema direita pode levar à formação de um governo de oposição ao presidente pelos próximos 3 anos.
O sistema semipresidencialista da França permite esse cenário — que pode levar a um governo de coabitação, como o formado pela última vez entre o conservador Jacques Chirac e o socialista Lionel Jospin — de 1997 a 2002.
As eleições antecipadas acabaram se convertendo em um novo referendo sobre o “macronimo”. O presidente enfrenta o desgaste de sete anos no poder — durante os quais teve de realizar reformas impopulares como os da Previdência e a tributária.
“Macron continua dizendo que nos ouve, que nos entende, que vai reformar o país mais rápido, acelerar. Mas não queremos seguir o caminho que ele propõe”, disse Emmanuel Ringuet, técnico de 53 anos que trabalha para a montadora francesa Renault. Para ele, os serviços públicos estão sendo destruídos sob Macron, enquanto a sua cidade operária nos arredores de Paris foi invadida pela criminalidade.
Socialista de longa data, Ringuet agora estuda votar no RN pela primeira vez, acrescentando: “Isso me dói, mas é para o bem comum”.
Uma nova vitória do RN deve colocar a extrema direita no limiar do poder. Ao mesmo tempo em que afetaria gravemente a autoridade de Macron justamente no momento em que o país luta para finalizar os preparativos para os Jogos Olímpicos, que começam em 26 de julho.