Uma calça jeans vem ganhando destaque por motivos não tradicionais. O jeans “Stain Stonewash” tem uma mancha próximo a virilha que, para muitos usuários nas redes sociais, parece de xixi. Em uma publicação de um perfil de moda, um usuário questionou “manchas de xixi estão na moda?”. Já outro chamou de “estética mancha de xixi”.
A peça inusitada é da grife britânica-italiana JORDANLUCA, fundada em 2018, e que abriu o desfile outono/inverno 2023 na Semana de Moda de Milão. Criada por Jordan Bowen e Luca Marchetto, a calça é 100% algodão produzido na Itália. A peça custa € 635 (equivalente a R$ 3.472,70 na cotação de ontem), mas, atualmente, está com desconto no site da marca e sai por € 476 (R$ 2.603,16). Já a calça com lavagem escura, utilizada no desfile, custa € 811 (R$ 4.435,21), mas já está esgotada.
De acordo com Maya Mattiazzo, professora de moda do Hub de Moda e Luxo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), o valor de uma peça de luxo não é atribuído ao custo de sua produção, e sim em valores intangíveis que envolvem a marca como seu posicionamento, tecnologia utilizada e mensagem atribuída.
“Esse é um processo de construção que envolve o coletivo de percepção de valor. E tem muito mais a ver com pertencer. Por isso, é importante saber quem é que está usando, quem que essa marca veste e para qual grupo que a pessoa que compra deseja fazer parte”, diz.
Em relação à marca JORDANLUCA, a professora afirma que sua estética tem um cunho sexual e fetichizada o que abre a possibilidade para a imaginação e múltiplas interpretações. “Agora eles estão tirando um pouco do fetiche e indo para o ‘sexy fashion’. A marca traz um pouco do movimento punk e agride através do look”, explica a professora.
Nos últimos anos a JORDANLUCA teve um aumento nas vendas de 15%, segundo a Vogue Business. A revista afirma que a marca vem crescendo cada vez mais e representa o futuro da moda masculina.
“A marca aperfeiçoou a sua arte subversiva para retratar a hipermasculinidade fetichizada e misturar perversão com nuances”, acrescenta a Vogue, em seu site.
Por que as peças de luxo em desfiles de moda são tão diferentes?
Maya explica que a moda é subjetiva e livre para interpretações. Além disso, as peças apresentadas em desfiles estão inseridas em contextos e sempre contam uma história que, quando estão sozinhas, podem parecer desconexas. Inclusive, segundo a professora, nem sempre essas peças são feitas para, necessariamente, serem usadas.
“O tempo todo nós nos comunicamos através do que vestimos. No caso de desfiles, é preciso olhar dentro do ambiente em que ela foi criada, existindo todo o contexto por trás. Existem estilistas que fazem manifestos ou trazem elementos históricos de épocas como o barroco ou a Revolução Francesa. Ou seja, em um desfile existe toda uma simbologia inserida e isso no dia a dia não é visto”, diz.
A professora também destaca que influencers vêm utilizando peças diferentes e de luxo para se destacar e passar a mensagem de modernidade, de lançadora de tendências. Por exemplo, a influenciadora Malu Borges, que tem 2,3 milhões de seguidores no Instagram e já utilizou bolsa em formato de pombo que custa R$ 4 mil, ou uma bolsa de toalha da grife Bottega Veneta que custa R$ 24 mil.
A influenciadora Gessica Kayane, conhecida como Gkay, tem 20,4 mil seguidores no Instagram e também é conhecida por utilizar elementos não tradicionais em suas roupas. Como botas e roupas com enchimento ou acessórios que escondem o rosto.