A frase “o ano só começa depois do carnaval” faz parte do imaginário brasileiro e está no repertório de ditos populares. Uma das festividades mais simbólicas da cultura do país, o Carnaval é comemorado, oficialmente, 47 dias antes da Páscoa. Em 2025, a data cai em 4 de março, primeira terça-feira do mês.
No Ceará, por exemplo, as apresentações carnavalescas iniciaram em 12 de janeiro, promovidas pelo Ciclo Carnavalesco de Fortaleza, como consta no site do Ministério do Turismo. No Rio de Janeiro, a abertura ‘não oficial’ do Carnaval foi no dia 5 de janeiro, organizada pela Desliga dos Blocos.
Ora em fevereiro, ora em março
“O Carnaval não é uma festa, é uma data específica. Acontece muita coisa durante esse período de tempo em diferentes lugares, então é uma data que resulta em uma série de festas”, diz Luiz Antonio Simas, historiador, professor e pesquisador de “brasilidades”, entre elas carnavais, religiosidades e culturas das ruas.
Como data, a origem mais provável da palavra ‘carnaval’ é que dá sentido ao tempo: o termo latino carnis levale, que significa a despedida, a ‘retirada da carne’ (em tradução livre) para uma “folga animada” dos impulsos humanos antes de começar o período da Quaresma ‒ temporada de “purificação da alma”, cita Simas, recolhimento e jejum, literalmente, de carnes e outros alimentos ‒ de acordo com o calendário medieval da Igreja Católica.
É ela a responsável por fazer a conta que estabelece a quando cai a terça-feira de Carnaval, ao subtrair exatos 40 dias do Domingo de Ramos, início da Semana Santa.
No calendário, o intervalo entre o Carnaval e a Páscoa dura 47 dias e as duas datas são móveis, já que a Páscoa é sempre no primeiro domingo após a lua cheia que marca o equinócio de primavera no Hemisfério Norte e o equinócio de outono no Hemisfério Sul. Por isso, o Carnaval pode ser em fevereiro ou em março.
Diversão para muitos, feriado para poucos
Para quem ama carnaval, nomes de cidades como Olinda, Recife, Rio de Janeiro e Salvador dominam a discussão. Por outro lado, há quem prefira aproveitar o momento para descansar e se aconchegar em retiros.
De qualquer forma, as pessoas que trabalham durante o período cumprem apenas mais um dia útil na maior parte do Brasil, mas não é regra, já que a Lei Federal nº 9.093/95 estabelece que Estados e municípios são os responsáveis por determinar se o Carnaval é ponto facultativo ou feriado.
A terça-feira de Carnaval é considerada feriado apenas em algumas cidades, a exemplo de Balneário Camboriú, em Santa Catarina; Canudos, na Bahia; Lins, em São Paulo; e Araxá, em Minas Gerais. O Estado do Rio de Janeiro é o único do Brasil a decretar feriado em todo seu território.
É importante destacar que o sábado, o domingo e a segunda que antecedem o Carnaval não são feriados, assim como a Quarta-feira de Cinzas.
Os carnavais brasileiros nascem do embate
A História conta que o carnaval se desenvolveu como festa, no Brasil, a partir dos “entrudos” ‒ derivado de introitus, palavra em latim para “entrada”, preparação da Igreja Católica para a Quaresma ‒, manifestações populares trazidas por portugueses ao Rio de Janeiro em 1641, e também dos bailes de máscara dos nobres salões italianos sacramentados no Renascimento, conforme indica um artigo disponibilizado pelo Centro de Cultura, Linguagem e Tecnologias Aplicadas da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (CECULT/UFRB).
O professor Luiz Antonio Simas diz que os portugueses pobres se divertiam nos entrudos de forma agressiva, o que foi absorvido por pessoas escravizadas. Jogar dejetos, frutas podres, farinhas, cal e restos de comidas uns nos outros fazia parte das “brincadeiras”. Enquanto isso, as elites brasileiras queriam se afastar da ideia de “barbaridade” e investiam em bailes de salão que imitavam os modelos italianos e franceses:
“Isso é uma marca da história do carnaval brasileiro, o campo de disputa entre um Brasil que deveria ser europeu e um Brasil profundamente negro, popular, que afronta o primeiro”, explica Simas.
O pesquisador considera que a formação histórica do país, baseada na exclusão e na violência colonial, é uma das possíveis causas para a popularização do carnaval de rua no Brasil.
“Para driblar as barreiras institucionais, as populações que não são brancas fazem com que as festas populares sejam um meio de construir identidades e redes de proteção social através dos próprios modos de vida. Então o carnaval não é um simples festejo popular, ele traz sentido de comunidade”, examina Simas.
A Era Vargas tem a ver com os carnavais de hoje
Na década de 1930, o governo do presidente Getúlio Vargas implementou medidas que desenhassem uma “identidade nacional brasileira”. Os carnavais de rua e as musicalidades populares conseguiram mais abertura por serem elementos da propaganda do mito “caráter brasileiro”.
De qualquer forma, a diversidade carnavalesca amplifica batuques, chacoalhadas e sopros de frevos, sambas, marchinhas, axés, pagode, maracatu para locais e turistas Brasil afora.
Calendário carnavalesco de 2025:
- 28 de fevereiro: sexta-feira de Carnaval
- 1 de março: sábado de Carnaval
- 2 de março: domingo de Carnaval
- 3 de março: segunda-feira de Carnaval
- 4 de março: terça-feira de Carnaval
- 5 de março: quarta-feira de Cinzas