Ao pedir a prisão de Braga Netto, a Polícia Federal destaca a “mudança substancial” nos relatos do ex-ajudante de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, em relação à participação do general na trama golpista. O que indica que Braga Netto vinha interferindo nos depoimentos prestados por Cid.
Para os investigadores, a alteração se deu, principalmente, sobre a indicação de que Braga Netto foi um personagem importante no financiamento do golpe.
A PF vinha alertando o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que Mauro Cid estaria omitindo informações cruciais, como a participação de militares da cúpula na tentativa de golpe. Ainda em novembro, a corporação pediu a anulação dos termos da delação do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Desde 2023,Cid tornou-se colaborador no processo sobre a tentativa de golpe de estado.
Após o pedido da PF, Moraes chamou Cid novamente para um depoimento no STF. No relatório pedindo a prisão de Braga Netto, a Polícia Federal traz um quadro comparativo do depoimento de Cid em 11 de março de 2024, na sede da PF, e o prestado no dia 21 de novembro de 2024, no Supremo.
Apenas em novembro, Cid trouxe a informação de que Braga Netto repassou diretamente a o então major Rafael de Oliveira dinheiro em uma sacola de vinho, que serviria para o financiamento das despesas necessárias à realização da operação.
De acordo com a PF, a investigação confirmou que o aparelho celular usado pelo major Rafael de Oliveira, durante as ações que visavam o sequestro e morte de Moraes, foi comprado em Goiânia, em dinheiro em espécie. Já os chips foram comprados em uma farmácia, no Sudoeste, bairro de Brasília.
“Sob outro aspecto , a mudança substancial nos relatos do colaborador em relação a participação do general Braga Netto nos fatos investigados, notadamente a omissão quanto a atuação do indiciado como principal elo de financiamento do evento ‘Copa 2022’ indica que as ações de obstrução surtiram o efeito pretendido pela organização criminosa, na medida em que retardaram a identificação de fatos relevantes ao contexto investigativo”, informa o relatório policial.
Copa 2022 foi o nome usado pelos golpistas para a operação que impediria Luiz Inácio Lula da Silva de assumir a presidência no Brasil.
No dia 5 de dezembro de 2024, a Polícia chamou novamente Cid para um depoimento após a apresentação de novos fatos ao Supremo. O colaborador confirmou que Braga Netto tentou obter dados da colaboração por intermédio de seu pai, em contatos telefônicos, no período em que o acordo estava sendo firmado.
No dia 6 de dezembro, a PF ouviu o pai de Cid, o general Lourena Cid, que confirmou que Braga Netto entrou em contato com o filho no período em que o acordo estava sendo realizado. Porém, o general disse que não se recordava se a delação foi o assunto tratado.
Assim, para a polícia, “todos os elementos de prova identificados pela investigação demonstram a atuação efetiva do indiciado Braga Netto na coordenação das ações clandestinas que visavam prender/ executar o Ministro Alexandre de Moraes e nas ações contra os candidatos eleitos no pleito de 2022, Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin”.
A PF acrescentou: “Ao mesmo tempo, o indiciado atuou durante todo o período investigativo para evitar que o colaborador o citasse em posição destacada no contextos dos fatos apurados”.