A 28ª edição da Parada do Orgulho LGBT+ reuniu milhares de pessoas neste domingo (2) na avenida Paulista, em São Paulo, com uma tentativa de ressignificar o patriotismo e a defesa da família, com a forte presença da bandeira do Brasil e de pessoas vestidas de verde e amarelo, em contraponto a eleitores bolsonaristas.
Em busca do apoio de conservadores, o prefeito e pré-candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), não participou, nem o governador do Estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Entre os milhares de participantes, as camisetas da seleção brasileira e as cores amarela, verde e azul se destacaram. Nos carros de som, os organizadores exaltaram a importância de votar em candidatos que defendem pautas progressistas nas eleições deste ano e afirmaram que não são só os bolsonaristas e conservadores podem usar os símbolos nacionais.
O tema da parada, “Basta de negligência e retrocesso no Legislativo”, convidou o público a refletir sobre a importância do voto consciente e a incentivar a fazer um contraponto ao bolsonarismo.
O ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida, disse, em cima do carro de som, que é preciso “ressaltar e realçar a unidade nacional” e afirmou que o governo federal atua contra o “ódio e preconceito” para tentar proteger as famílias, em recado aos conservadores.
“Não queremos que nenhum pai chore a morte do filho”, disse o ministro. “Estamos aqui para defender seu filho”, afirmou Almeida, sob aplausos. “Quem apoia a comunidade LGBT é a favor da família.”
No carro de som da organização, o tom político predominou. A deputada federal Erika Hilton (Psol-SP) foi tratada como pré-candidata à Presidência e muito aplaudida por centenas de pessoas a cada vez que era anunciada. Parlamentares do Psol e integrantes de movimentos populares discursaram.
Parada LGBT+
Público veste as cores do Brasil
Pré-candidato à prefeitura paulistana, Guilherme Boulos lembrou que São Paulo atuou para derrubar a ditadura há 40 anos, afirmou que a cidade derrotou o então presidente Jair Bolsonaro (PL) na disputa presidencial de 2022. Ele disse que os eleitores irão novamente neste ano às urnas contra o bolsonarismo, em crítica indireta ao prefeito Ricardo Nunes, que busca o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro. “Viva a diversidade. Preconceito nunca mais”, discursou Boulos.
Ao conceder entrevista à imprensa, o parlamentar do Psol, apoiado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que é “natural” a ausência do prefeito Ricardo Nunes na parada LGBTQIA+. “Acho natural que um candidato que é apoiado pelo Bolsonaro e que comunga de valores bolsonaristas não venha num evento que celebra a diversidade, que enfrenta o preconceito, a intolerância. Parece que ele partilha desse preconceito e dessa intolerância”, disse Boulos, em relação à aliança de Nunes com o bolsonarismo na capital paulista.
Boulos não foi à Marcha para Jesus, na sexta-feira (31), e disse que não foi convidado a participar do evento evangélico que deu protagonismo a Tarcísio de Freitas e Ricardo Nunes no ano eleitoral.
“Não estive em anos anteriores e não acho que seja saudável para a sociedade uma instrumentalização demagógica da fé para razões eleitorais. Nunca fiz isso e não é porque sou candidato que vou fazer. A Marcha para Jesus é um evento absolutamente legítimo, que expressa uma parcela relevante da sociedade. O uso demagógico de alguns políticos da fé e da religiosidade das pessoas em véspera de eleição não é uma coisa boa”, disse o postulante do PSol.
Tabata Amaral não subiu nos carros de som. A parlamentar disse que foi convidada a discursar, agradeceu e afirmou preferir apenas circular entre a população. Na sequência, acusou Boulos e a esquerda, sem citar diretamente o nome do deputado, de instrumentalizarem o evento com supostos fins eleitorais.
“Esse é um evento para gente ouvir o que as pessoas LGBT têm a dizer. Esse não é um evento partidário, só de esquerda ou só de um grupo político”, disse Tabata à imprensa.
“Hoje o dia não é de partido político, não é de candidato, de um grupo específico. Existe uma tentativa no Brasil como um todo de a gente querer dizer que só alguns partidos podem levantar algumas causas. Só quem é de direita pode falar de combate à corrupção, só quem é de esquerda defende o combate ao racismo, os direitos das pessoas LGBT, defende o combate ao machismo. Isso é um tiro no pé, é um erro. Nós precisamos que essas causas estejam da esquerda à direita”, afirmou a pré-candidata.
Questionada se avalia que Boulos teria usado politicamente o evento, afirmou que seu adversário do mesmo campo político “erra”. Na sequência, atacou o prefeito da cidade, Ricardo Nunes (MDB), por não ir a um dos maiores eventos da cidade, em termos de público e arrecadação. “Acho que eles [Boulos] erram, sim, quando tentam apequenar isso e acho que erra ainda mais o prefeito de São Paulo [Ricardo Nunes] que não vem ao maior evento da cidade”, disse.
A exemplo de Boulos, Tabata também não participou da Marcha para Jesus na quinta-feira (30). “Nunca participei”, disse, afirmando na sequência que é católica. “Me parecia hipócrita deixar de fazer algo que é importante para a minha religião, para a minha comunidade e ir por uma questão eleitoreira, para um evento que eu nunca fui”, disse.
O prefeito alegou ter uma consulta médica no mesmo dia, para levar supostos exames de endoscopia e colonoscopia, para não participar de um dos maiores eventos de São Paulo. Em busca do voto conservador, Nunes tem procurado fazer acenos ao bolsonarismo e se descolar de pautas que são bandeiras do campo progressista, como a defesa da comunidade LBGTQUIA+.
Entre os manifestantes com camisa do Brasil, era comum ouvir que é preciso “disputar com a direita” os símbolos do patriotisimo. O jovem Afonso Meireles, de 34 anos, formado em contabilidade, foi um dos dezenas de manifestantes vestidos de verde e amarelo ouvidos pelo Valor.
“Antes eu tinha muito medo de usar a camisa do Brasil, porque era usada pela direita. Agora, me sinto mais leve. Sei que as coisas não mudaram, mas acho que podem melhorar ”, disse. Meireles, a exemplo de outras pessoas ouvidas pela reportagem, afirmaram que o fato de as cantoras Madonna e Pabllo Vittar darem novo sentido às cores do Brasil, em show recente no Rio, incentivaram à disputa pelo simbolismo brasileiro da direita com a extema-direita.