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Paes reafirma distribuição de Ozempic na rede pública do Rio; entenda como será o projeto

Redação
por Redação

O prefeito Eduardo Paes (PSD) reafirmou na última quarta-feira, 1°, ao iniciar seu novo mandato no Rio de Janeiro, que pretende oferecer medicamentos contra obesidade na rede pública da cidade.

Semaglutida é indicada no tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade Foto: millaf/Adobe Stock

Na cerimônia de posse, Paes relembrou que havia anunciado a intenção de fornecer a medicação em outubro do ano passado, em entrevista ao mascote do jornal carioca Extra.

“E como promessa é dívida, ainda mais se feita à Ema Jurema (personagem do jornal), vamos criar um programa de combate à obesidade que já estabelece as bases para aquisição da semaglutida, o Ozempic, a partir da quebra da patente do medicamento”, afirmou Paes no evento, realizado na Câmara Municipal.

Ao Estadão, o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, disse que a prefeitura prevê implementar o tratamento nas Clínicas da Família, com início programado para janeiro de 2026. A data corresponde ao momento que a patente da medicação será liberada, permitindo a fabricação de genéricos.

A medida não constava no programa de governo divulgado em agosto. No entanto, um dos 46 decretos publicados pelo município no primeiro dia de gestão determina a criação de um grupo de trabalho para estudar a introdução do medicamento na rede municipal.

O grupo deverá definir as ações necessárias para que o tratamento seja implementado e tem 90 dias para elaborar um relatório e encaminhá-lo ao gabinete do prefeito.

Na época da ‘promessa’ ao Extra, Paes contou ter perdido 30 kg com Ozempic e disse: “O Rio vai ser uma cidade que não vai ter mais gordinho, todo mundo vai tomar Ozempic nas Clínicas da Família”, acrescentou na entrevista ao veículo carioca.

Segundo o político, a preocupação não seria estética, mas com a saúde da população — de acordo com Soranz, o município gasta mais de R$ 130 milhões por ano com atenção hospitalar por complicações associadas à obesidade e ao diabetes (tratáveis com a substância).

“O objetivo final é que as pessoas vivam mais e melhor”, resumiu o secretário.

O presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) Fabio Trujilho explica que, até então, não há medicamentos para o tratamento da obesidade disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS).

A doença, no entanto, é crônica e associada a uma série de complicações, assim como a diabetes. Por isso, requer um cuidado contínuo – o que pode sair muito caro para quem precisa arcar com o tratamento.

Em contrapartida, Trujilho ressalta que a semaglutida é associada não só a melhorias diretas dos quadros, mas à diminuição do risco cardiovascular e das complicações ligadas a eles.

“Ter uma droga com esse perfil disponível para a população é algo importante”, considera. O médico ressalta, no entanto, que é preciso ter em mente que o medicamento não é capaz de resolver os problemas sozinho.

“Tratar o diabetes e a obesidade é um grande desafio”, diz. A obesidade, por exemplo, costuma reincidir – mesmo entre quem já fez uso do Ozempic ou cirurgia bariátrica –, e pode ter causas diferentes. “Por isso, é algo muito complexo e que precisa de muitos agentes, não só medicamentos”, explica.

Quem poderá ser medicado?

O público-alvo são as pessoas diagnosticadas com obesidade, diabetes e síndrome metabólica, segundo Soranz. E a indicação do medicamento será determinada pelas Clínicas da Família e pelos médicos responsáveis pelos pacientes.

De acordo com o secretário, muitos pacientes já têm exames que comprovam a necessidade do tratamento, registrados nas unidades de saúde.

O tratamento envolverá, além da prescrição da substância, o acompanhamento de hábitos alimentares e atividades físicas. Mas o protocolo clínico está sendo definido pelo grupo de trabalho designado para implementar o programa, disse.

Como será a implementação do programa?

Segundo o secretário de saúde, a aquisição do medicamento será feita por meio de licitação, com a expectativa de que 3 mil doses sejam distribuídas mensalmente, a partir de janeiro de 2026.

A endocrinologista e presidente eleita da Sociedade Brasileira de Endocrinologia (Sbem) Karen De Marca estima que, provavelmente, os critérios para distribuição serão rigorosos. “Naturalmente, a semaglutina não é uma medicação que nós indicamos para todos os pacientes com diabetes ou obesidade. É preciso ser criterioso, devido ao seu alto custo”, reflete.

“Eles vão precisar oferecer somente para quem mais precisa, inicialmente. Mas a tendência é que cada vez mais pessoas possam ser incluídas”, diz. Ela acredita que a definição da quantia se deu em razão do investimento possível no momento, mas que a demanda ainda é maior.

“Com esse quantitativo, em um contexto de aplicação semanal, cada pessoa teria quatro aplicações por mês. Então, nós teríamos menos de mil pessoas atendidas, caso esse seja o cálculo”, também estima o presidente da Abeso. Ele considera que, mesmo que a prefeitura seja muito seletiva, ainda serão poucas doses. “Mas só de termos essa discussão e o medicamento no SUS, já é um grande avanço”, avalia.

Quem vai fornecer o medicamento?

De acordo com Soranz, a gestão municipal já iniciou negociações com o laboratório Novo Nordisk, fabricante do Ozempic, e com outras três empresas que planejam produzir semaglutida no Brasil.

O médico não nomeou as empresas brasileiras em diálogo com a gestão municipal. Mas, entre as potenciais fabricantes nacionais, destaca-se a EMS, que já mantém uma parceria com o governo federal para a produção do medicamento.

Em agosto do ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou da inauguração de uma fábrica da empresa em Hortolândia, São Paulo, considerada a primeira no País capaz de produzir e comercializar liraglutida e semaglutida.

O que motivou a criação do programa?

A obesidade e o diabetes tipo 2 são algumas das principais causas de óbito no Rio, segundo o secretário de Saúde. Ele explica que a situação gera custos humanos e financeiros, visto que as doenças provocam mais internações e redução da expectativa de vida.

“No entanto, é possível evitar essas internações, reduzir esse gastos e aumentar a expectativa de vida da população que tem diabetes e que tem obesidade. E a gente viu que a semaglutida tem um papel estratégico nesse processo em outros países”, afirmou.

Karen reforça que, ao controlar o quadro do paciente, é reduzido os riscos aos quais o paciente pode estar sujeito devido a sua doença e a necessidade de remédios, procedimentos, tratamentos, entre outras coisas. “Por isso, vale a pena fazer esse tipo de investimento”, considera Karen.

O que é semaglutida?

É uma substância indicada para o tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade. No Brasil, a semaglutida é comercializada por meio do Ozempic, indicado em bula para o tratamento do diabetes tipo 2. Desde o ano passado, ela passou a estar disponível também no medicamento Wegovy, indicado para o tratamento da obesidade.

Trata-se de uma medicação que age de forma muito semelhante ao GLP-1, hormônio que produzimos após a ingestão de alimentos.

Esse hormônio retarda o esvaziamento gástrico e dá a sensação de saciedade. Além disso, melhora o metabolismo da glicemia e promove uma ação anti-inflamatória nas artérias, rins e coração.

Como o GLP-1 é produzido naturalmente por um período muito curto e é rapidamente degradado, a semaglutida produzida em escala comercial serve para prolongar esses efeitos no organismo.

Especialistas recomendam o uso do medicamento nos seguintes casos:

  • tratamento de sobrepeso em adultos com Índice de Massa Corporal (IMC) superior a 27 kg/m2, associado a doenças como pressão alta, diabetes, dislipidemia ou colesterol alto;
  • obesidade em adultos com IMC superior a 30 kg/m2;
  • obesidade em adolescentes acima de 12 anos com peso corporal maior que 60 Kg, em associação com dieta hipocalórica e aumento da prática de exercícios;
  • adultos com diabetes tipo 2 não controlada, em associação com reeducação alimentar e prática de exercícios físicos.

Fonte: Externa

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