Um dos ícones do varejo nacional completa 40 anos em setembro cheio de novidades: o CasaShopping, no Rio, maior polo de decoração da América Latina, transcendeu o propósito original de ser um centro de compras para se tornar um local de convivência, frequentado por 200 mil pessoas mensalmente. Agora, pretende ser, de fato, o lar de seus clientes, com o lançamento de três torres de apartamentos em um terreno anexo ainda em 2024. À frente do negócio – que deve crescer 9% neste ano – está Flavia Marcolini, filha do fundador da empresa, Luiz Paulo Marcolini, que comenta a aposta no segmento residencial e analisa a trajetória da companhia.
Flavia Marcolini — O mercado de salas comerciais ainda não absorveu a superoferta do período pré-Copa do Mundo e Olimpíadas na cidade, mas, no sentido inverso, houve uma valorização do metro quadrado residencial. Então, entendemos que um empreendimento misto, com varejo e moradias, seria complementar ao shopping.
Serão três torres residenciais de 12 andares projetadas pelo escritório Feu Arquitetura, com 220 apartamentos de dois e três quartos, e decoração assinada pelo CasaShopping. Na base, haverá 13 lojas, além de dois subsolos de garagem. O VGV será de cerca de R$ 400 milhões, e o projeto deve estar concluído em três anos e meio.
No setor de decoração, a experiência de consumo se tornou tão importante quanto a qualidade do produto ou serviço?
Sim, por isso é imprescindível valorizar o relacionamento. No nosso setor, as pessoas não compram por impulso. Mudar uma casa é um processo minuciosamente planejado e estudado. Vendemos sonho, bem-estar, estilo e qualidade de vida, atributos intangíveis e emocionais.
E como atendem a essa demanda?
O shopping center se transformou em um lugar de convivência. Nesse sentido, apostamos no incremento e na diversificação do mix, trazendo mais gastronomia e serviços de bem-estar, mobilidade, imobiliária, concessionária e lajes corporativas para empresas de grande porte.
Qual o futuro do shopping center?
A indústria de shopping está sempre se reinventando, e acredito que sua missão no futuro será a humanização. Os shopping centers devem se tornar endereços de estar e conviver da família. O consumo será apenas consequência. Outro dia ouvi alguém dizendo que “o ser humano é gregário”. Creio que é um fato que nunca vai mudar, por mais que a tecnologia ofereça uma experiência complementar e otimize a jornada do cliente com a multicanalidade.
Além do complexo de uso misto, que outras novidades estão previstas?
Para este ano, faremos a primeira edição carioca da DW!, o maior festival de design do país, que já é sucesso em São Paulo desde 2012. É um evento incrível, que conecta decoração, arquitetura, arte, artesanato, urbanismo, inovação e sustentabilidade. No médio prazo, estamos negociando a aquisição de um potencial construtivo que vai possibilitar o acréscimo de um pavimento para implementar um rooftop com vista para a Pedra da Gávea, que terá ambientes abertos, oferecendo estrutura de lazer, gastronomia e entretenimento.
Ter escolhido a Barra da Tijuca para lançar um shopping de decoração ainda nos anos 1980 deve ter sido uma decisão de alto risco. Como vê essa escolha hoje, 40 anos depois?
Chegamos aqui quando o bairro começava a se desenvolver. Acho que meu pai foi um visionário ao escolher aquele areal – na região de maior crescimento da cidade – para implantar o shopping. A Barra cresceu, o Rio cresceu, e nós somos parte desse crescimento, sempre ajudando a construir e a montar grande parte das moradias por aqui.
Nossa posição estratégica na cidade nos possibilitou realizar expansões consecutivas ao longo dos anos, sempre aproveitando os momentos de maior desenvolvimento da região, como no caso da chegada do metrô e das vias de acesso Transolímpica, Transoeste e Transcarioca, que trouxeram uma enorme concentração comercial, residencial e empresarial.
Quais momentos foram mais significativos nessa trajetória?
Acho que foram a revitalização que fizemos no projeto inicial do shopping, no fim dos anos 1990, transformando o que era originalmente um mezanino em um pavimento independente de lojas; a criação do programa de fidelização CasaPremium, em 2006; e a sétima e última expansão, em 2014, quando nossa área bruta locável passou de 43 mil para 70 mil metros quadrados, com quatro novos blocos em torno de uma grande cobertura. O projeto batizado de Onda Carioca foi assinado pelo arquiteto israelense Nir Sirvan, inspirado na arquitetura do maior centro de exposições e feiras corporativas de Milão, na Itália.
A consolidação da participação da família no CasaShopping em 2022, viabilizada a partir de uma operação no mercado de capitais, também foi marcante. A captação e a adesão de investidores foram maiores que o previsto e superou expectativas, o que demonstrou a força da nossa reputação no mercado.
Como é um tradicional almoço de domingo dos Marcolini? É difícil separar o trabalho da casa?
Nosso almoço de domingo é típico de uma família brasileira: falamos um pouco de tudo, menos sobre trabalho! Mesmo sendo uma família empresária, aprendemos cedo a não misturar os assuntos e não levar o “trabalho para casa”, até porque temos integrantes da família que não estão no dia a dia da empresa. Gostamos de falar dos gostos em comum: viajar e comer bem, como uma verdadeira família italiana.