O fechamento de capacidades produtivas mais antigas e de custos mais elevados no setor petroquímico global deve se manter nos próximos dois ou três anos, à medida que o atual ciclo de baixa deve se prolongar até 2027, segundo consultorias especializadas e indústria do setor. A continuidade de adição de novas fábricas na China e os custos elevados de energia e matérias-primas na Europa seguirão pressionando as margens nessas duas regiões e alimentando a migração das operações baseadas em nafta para etano (gás natural).
Juntas, essas operações em risco têm capacidade produtiva de cerca de 55 milhões de toneladas por ano de etileno, mais da metade das quais sob ameaça de fechamento média ou elevada.
Segundo o vice-presidente de pesquisas de refino e produtos químicos da consultoria, Alan Gelder, a pandemia, os conflitos entre Rússia e Ucrânia e entre Israel e Hamas, o desaquecimento da economia global e o excesso de capacidade produtiva, com o início de operação de novos complexos petroquímicos, sobretudo na China e nos Estados Unidos, desenharam um ciclo de baixa atípico, mais acentuado e prolongado do que de costume.
“A crescente autossuficiência da China está alterando a dinâmica da oferta mundial”, afirmou, em nota, sobre o estudo. Na leitura da consultoria, a China colocou em marcha um plano de eliminação de instalações menores e antigas, substituindo essas operações por centrais petroquímicas mais competitivas em custos e mais eficientes do ponto de vista energético.
Olhando apenas para as operações chinesas, cerca de 3,3 milhões de toneladas de capacidade de eteno poderá ser fechada. “A crescente autossuficiência da China em etileno terá o maior impacto nos produtores do nordeste Asiático, com 9 milhões de toneladas de capacidade vulneráveis”, aponta o levantamento. Custos mais competitivos de matéria-prima no Sudeste Asiático podem blindar os ativos petroquímicos nessa região.
Nos últimos três ou quatro anos, segundo levantamento da indústria, estima-se que a capacidade produtiva global de eteno tenha sido elevada em 20%. Daqui para a frente, a expectativa é que Estados Unidos e Oriente Médio reduzam o ritmo de instalação de novas centrais, enquanto a China seguirá adicionando capacidade relevante.
O estudo da Wood Mackenzie aponta ainda que, no ano passado, a taxa de operação média das centrais petroquímicas que fazem o craqueamento a vapor atingiram um piso de 82% no ano passado, comparável a mais de 90% no pré-pandemia. Para a próxima década, a perspectiva é de elevação da taxa média, mas ainda a patamares considerados “subótimos”, de 86% a 89%. Um ritmo mais acelerado de fechamentos de capacidade poderia impulsionar essas taxas.
Em reunião recente com analistas e investidores, a diretora executiva de relações com investidores da Braskem, Rosana Avolio, afirmou que, em termos de oferta e demanda global de produtos petroquímicos, a leitura é que a demanda segue em expansão, embora a oferta também seja ascendente, basicamente por parte da indústria chinesa.
“O que pode alavancar [a recuperação dos] spreads é a racionalização da indústria”, afirmou, acrescentando que o setor já começou a fechar capacidades menos competitivas, sobretudo na Ásia e também na Europa.
“Vemos um início de consolidação da indústria, principalmente na Ásia, para buscar otimização dos ativos”, afirmou a executiva. Segundo Avolio, maior integração entre as companhias de óleo e gás e ativos petroquímicos também se mostra como tendência, para mitigar os efeitos do prolongado ciclo de baixa da petroquímica global.