Morreu nesta segunda-feira (4), no Rio, o fotógrafo Evandro Teixeira, aos 88 anos. Ele estava internado na Clínica São Vicente, na zona sul da capital fluminense, e morreu em decorrência de falência múltipla de órgãos em decorrência de complicações de uma pneumonia.
Nascido na Bahia, em 1935, Evandro Teixeira deixou Irajuba, um povoado a 307 quilômetros de Salvador, para fotografar o Brasil. Ainda jovem, fez um curso de fotografia à distância e, em 1957, chegou ao Rio de Janeiro com uma carta de recomendação para trabalhar no Diário da Noite. Logo depois, foi convidado a integrar a equipe do Jornal do Brasil, onde trabalhou por 47 anos, tornando-se uma referência no fotojornalismo.
Em quase 70 anos de carreira, registrou eventos marcantes como o golpe militar de 1964 e a ocupação do Forte de Copacabana em 1º de abril de 1964. Com a câmera escondida, ele se disfarçou de oficial sem farda, acompanhado por um amigo militar.
Foram as lentes dele que mais imortalizaram a luta contra os horrores da ditadura no país. Fotos como a da multidão de cariocas na Passeata dos 100 mil, em 1968, na Cinelândia, na região central da cidade.
Em um dia de correria pelas ruas do Centro do Rio, Evandro fez outra de suas fotos mais conhecidas: a de um estudante caindo ao ser perseguido por dois policiais. “Ele deu um tremendo gemido e ficou lá estirado. Eles [policiais] tentaram levantar o rapaz, eu fiz mais uma foto e me mandei porque eles corriam atrás de mim.”
Em outra imagem, na Candelária, Evandro fotografou a repressão por policiais montados a cavalo.
Evandro também registrou, em setembro de 1973, imagens do golpe militar que derrubou o presidente chileno Salvador Allende e levou ao poder o general Augusto Pinochet. O trabalho do fotógrafo no Chile foi responsável pela produção de documentos históricos. Alguns registros foram feitos no Estádio Nacional, onde Evandro conseguiu provar a violação de direitos humanos. Também são dele as fotos do adeus a um dos ícones da esquerda no Chile, o poeta Pablo Neruda.
O fotógrafo ajudou a eternizar em imagens Pelé e Ayrton Senna, acompanhou as visitas da Rainha Elizabeth e do papa João Paulo II ao Brasil, documentou fome e pobreza e as festas populares, como o carnaval.
Além da mulher Marli, duas filhas e netos, Evandro deixa um tesouro captado por um olhar incomparável. Não à toa ganhou, em vida, uma honraria: uma poesia escrita só para ele por Carlos Drummond de Andrade, um admirador do seu trabalho