As caminhadas também eram momento para promover solidariedade entre a população. “A partir do segundo ano, Pedro se reuniu com alguns amigos e eles começaram a arrecadar cesta básica para distribuir para as pessoas mais vulneráveis. O movimento foi bem recebido pela população.”
Mas as tensões com as autoridades policiais só aumentavam. “O policial passou a abordar ele diversas vezes. Era como uma perseguição mesmo. Não batia, mas humilhava. Pedro continuou vivendo e fazendo as caminhadas dele, registrando todas as ocorrências no Ministério Público. Mas nada acontecia. Em 2017, esse policial foi transferido para Euclides da Cunha [57 km de Tucano], mas mesmo com ele sumindo de cena, apareceram outros três policiais militares para continuar com as abordagens com Pedro. Esses batiam e xingavam ele. Mas Pedro registrava tudo.”
Pedro acabou virando um porta-voz contra a violência policial. “Ele começou a receber denúncias de outras pessoas que também sofriam essas abordagens. Tinha até acompanhado essas pessoas em delegacias, nos fóruns. Virou uma referência no assunto — tanto da parte do povo que via nele um amparo, como dos policiais, que viam ele como um problema.”
A prisão
Pedro foi preso pela primeira vez no dia 26 de outubro de 2018, véspera do segundo turno das eleições presidenciais. “Ele estava publicando nas redes sociais que policiais estavam no bairro onde ele morava, em Nova Esperança, invadindo as residências, batendo em famílias, quebrando coisa de casa. Falei para ele tomar cuidado, que eles poderiam ir até lá. Passaram poucos minutos, o pai dele me ligou dizendo que haviam prendido ele. Entraram na casa e encontraram maconha, que Pedro plantava para consumo próprio.”
Ele foi solto em menos de 24 horas. “Lavraram um auto de prisão em flagrante, mas a prisão foi descaracterizada como crime e o caso entendido como plantação para uso próprio. Assim, o inquérito não foi adiante. Aí acho que o ódio [dos policiais] aumentou.”