O ex-policial militar Ronnie Lessa, acusado de matar a vereadora Marielle Franco (Psol) e o motorista Anderson Gomes, afirmou que tinha sido chamado, no final de 2016, para matar o então deputado estadual Marcelo Freixo (na época no Psol, hoje no PT). A afirmação foi feita durante o primeiro dia de julgamento do ex-PM por homicídio triplamente qualificado.
“Surgiu como uma oferta com as seguintes palavras: ‘Nós temos uma coisa para ficarmos bilionários, para ficar ricos’. ‘Uma coisa, assim, fenomenal’. Em janeiro [de 2017], eu estive com essa pessoa novamente e ela veio me trazer um nome que, na verdade, eu ri. Eu tive que rir na hora. ‘Pô, você deve estar brincando, se é essa proposta, não tem como’.”
“Era um político e eu achei inviável. Eu falei: ‘Pô, isso é uma loucura’. Eu achei que fosse uma loucura aquilo ali. Era o doutor Marcelo Freixo”, continuou o ex-PM.
De acordo com as investigações, Macalé foi o intermediador entre Lessa e os supostos mandantes do crime, Domingos e Chiquinho Brazão, que são, por ordem, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado e deputado federal. O policial militar foi executado em novembro de 2021, num crime investigado pela Polícia Civil do Rio e que até hoje não teve respostas.
Lessa seguiu o depoimento dizendo que, em setembro de 2017, voltou a ser procurado pelo PM sobre a possibilidade de executar o ex-deputado, hoje presidente da Embratur. Na ocasião, diz o réu, Macalé diz que o alvo passaria a ser Marielle.
Lessa, então, afirmou que aceitou o que chamou de “trabalho” – esse foi o termo usado pelo réu repetidas vezes para se referir a execução da vereadora e de Anderson. O ex-PM disse que esteve presencialmente com os mandantes do crime para planejarem o assassinato.
Questionado sobre o que teria motivado a execução, Lessa disse, sem citar nominalmente os irmãos Brazão, que Marielle estaria atrapalhando dois loteamento que seriam feitos no Tanque, bairro da Zona Oeste da cidade. O ex-PM não pôde citar os acusados de serem os mandantes porque o processo contra eles correr no Supremo Tribunal Federal (STF).
“Uma coisa que ficou bem marcada, bem caracterizada, foi [os mandantes] falarem: ‘principalmente se souber que são nossos’. Ou seja, ele falou de uma maneira geral, que atrapalharia esse tipo de projeto. As palavras deles, para mim, é que ela teria reunido lideranças comunitárias. E nessas reuniões ela teria dado uma opinião para ninguém aderir ao loteamento feito por milicianos”, disse.
Segundo a PF, que assumiu as investigações do caso no ano passado, Domingos e Chiquinho são acusados de comandarem uma milícia que fazia “grilagem” de terras no Rio, sobretudo na região oeste da cidade.