O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite (PSDB) tiveram avaliações semelhantes na condução da tragédia climática gaúcha, que deixou ao menos 179 pessoas mortas em decorrência das fortes chuvas que atingiram a região no mês de maio – o número pode aumentar, uma vez que 33 pessoas ainda estão desaparecidas.
De acordo com a pesquisa Datafolha, a condução do presidente foi considerada ótima ou boa por 36% da população brasileira e o governador gaúcho, por 35%. Já a rejeição, ou seja, a parcela que considera a condução das autoridades ruim ou péssima é pior para Lula (32%) do que para Leite (23%).
O instituto realizou 2.457 entrevistas com pessoas, na faixa de 16 anos ou mais, nos dias 17 a 22 de junho. Eles foram ouvidos em 130 cidades do Brasil. Em relação à amostra do Estado do Rio Grande do Sul, foram realizadas 567 entrevistas na capital e em cidades do interior, distribuídas sem 24 municípios.
Na amostra nacional, a margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%. Já na amostra gaúcha, a margem é de quatro pontos, dentro do nível de confiança também de 95%.
Quando os políticos são avaliados apenas pelos gaúchos, o resultado muda um pouco. Levando em conta apenas as pessoas entrevistadas no Estado, 40% consideram que a condução de Lula na tragédia foi ruim ou péssima, enquanto 31% consideram que foi ótima ou boa.
A avaliação em relação à condução de Leite diante da tragédias é mais próxima a do restante do país. Entre os gaúchos, 36% consideram a atuação do governador como ótima ou boa, 31% como regular e 32% como ruim ou péssima.
As enchentes afetaram 478 municípios e deixaram 806 feridos. Na pesquisa Datafolha, 77% dos entrevistados que vivem no Rio Grande do Sul afirmaram que a cidade em que vive sofreu com as enchentes.
Para esta parcela da população, foi questionado qual a avaliação da conduta do prefeito de sua cidade. A avaliação em relação às gestões municipais também fica dividida: 34% considera ótima ou boa; 34% diz que foi regular e 31% disse que foi ruim ou péssima.
Tragédia podia ter sido evitada
Sete em cada dez gaúchos afirmam que a destruição provocada pelas enchentes históricas dos últimos dois meses no Rio Grande do Sul poderia ter sido evitada. Além disso, a maioria aponta as três esferas governamentais, parlamentares e a própria população como culpados pela tragédia.
A percepção de que era possível evitar danos causados pelas enchentes é maior entre aqueles que moram na região metropolitana de Porto Alegre – área que foi afetada por falhas em diques que integram o sistema de contenção de inundações da capital -, em comparação aos moradores do interior do Estado.
No Brasil como um todo, 72% dizem que a destruição poderia ter sido evitada, enquanto 24% dizem que não e 4% respondem que não sabem.
Já no Rio Grande do Sul, 75% afirmam que era possível evitar a destruição, mesmo com a mesma proporção de entrevistados tenha respondido que não era possível evitá-la (24%). Isso ocorre porque só 1% dos gaúchos diz que não sabe se era possível evitar os danos ou não.
Na região metropolitana da capital, oito em cada dez moradores (81%) afirmam que a destruição era evitável, e 18% dizem que não era. Nos municípios do interior, 67% dizem que os estragos poderiam ser evitados, e 32% dizem que não poderiam.
A margem de erro é de 5 pontos na região metropolitana de Porto Alegre, e nas cidades gaúchas do interior é de 7 pontos.
Para o professor de inglês Luciano Junges, 26 anos, que após quase dois meses ainda não conseguiu voltar para casa na capital gaúcha, a principal responsabilidade pelo tamanho da tragédia recai sobre a prefeitura, comandada por Sebastião Melo (MDB). Ele cita os alertas de engenheiros do Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE) de que a situação no sistema de prevenção contra enchentes era crítica.
“Surgem novas notícias e indícios, todos os dias, de que foram negligentes com o sistema de diques, bombas, comportas e contenções da cidade”, diz Junges. “Em tese, se ele estivesse 100% [em funcionamento], minha casa não teria sido alagada”.
Problemas no sistema de bombeamento e contenção de alagamentos da capital são apontados há mais de uma gestão. Há também indícios de que os diques nas cidades de Canoas e São Leopoldo, que fazem parte da mesma região metropolitana da capital, também se deterioraram com o tempo.
“O que se pode afirmar é que o sistema de Porto Alegre deveria ter funcionado se os sucessivos governos desde a década de 1970 tivessem realmente se preocupado em manter as estruturas funcionando com protocolos de inspeção e acionamentos de teste frequentes”, diz o engenheiro André Luiz Lopes da Silveira, ex-diretor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Ele diz que seria possível prevenir boa parte dos estragos na região se houvesse “manutenções preventivas dos sistemas de diques, evitando-se falhas estruturais como a erosão de diques, algumas causadas pela leniência de toda a sociedade e poderes que toleraram, em vários casos, a ocupação dos diques por favelas.”
Culpa é atribuída a políticos e à população
A grande maioria dos gaúchos, como um todo, responsabiliza tanto governos locais quanto a instância federal e a própria população pelos estragos, segundo a pesquisa Datafolha. Todos são apontados com alguma parcela de culpa pela destruição por ao menos 80% dos entrevistados no Estado.
As prefeituras das cidades são citadas com maior frequência: 85% dos gaúchos dizem que as gestões municipais têm culpa na tragédia, sendo que 44% falam em “muita culpa”, e outros 41% dizem que há “um pouco de culpa”.
Em seguida na escala de culpa atribuída pelos moradores do Estado está a própria população, com 84%. O governo do Rio Grande do Sul é citado por 83% dos gaúchos. E o governo federal tem culpa na destruição provocada pelas enchentes para 80% da população do Estado.
Novamente, os moradores de Porto Alegre e região são mais críticos (em relação aos governos, aos parlamentares e à própria população) do que no interior. O governo gaúcho tem alguma culpa pela destruição para 92% da região metropolitana, e as prefeituras são citadas por 93%.
Os gaúchos atribuem culpa aos governos e à população com mais frequência do que os brasileiros em geral. Apenas 76% da população do país atribui culpa ao governo federal pela destruição, e 79% a atribui ao governo estadual, por exemplo. E 70% dos brasileiros diz que a própria população tem culpa na tragédia, 14 pontos percentuais a menos do que no Rio Grande do Sul como um todo.
Por outro lado, a avaliação dos mandatários diante da crise é mais equilibrada. Os índices de ótimo e bom, regular, ruim e péssimo em relação à atuação do governador Eduardo Leite (PSDB), segundo os gaúchos, estão empatados dentro da margem de erro, entre 36% e 31%. Os prefeitos gaúchos também tiveram empate técnico nesses índices.
O presidente Lula tem avaliação pior entre os gaúchos, com 40% afirmando que seu desempenho no socorro aos atingidos foi ruim ou péssimo, e 31% afirmando que foi ótimo ou bom. Lula teve avaliação mais equilibrada entre a população brasileira em geral.