Os juros futuros fecharam o pregão desta sexta-feira (1) em forte alta, levando as taxas aos maiores patamares de março de 2023. A incerteza dos investidores com a política fiscal do governo e o mal-estar com a falta de novidades sobre as medidas de corte de gastos voltou a provocar estresse na curva a termo, o que foi amplificado por um ambiente negativo no exterior.
Com isso, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento de janeiro de 2026 teve forte alta de 12,805% para 13,08%; a do DI de janeiro de 2027 avançou de 12,965% a 13,23%; a do DI de janeiro de 2029 saltou de 12,975% para 13,22%; e a do DI de janeiro de 2031 aumentou de 12,915% a 13,13%.
Nos Estados Unidos, a taxa da T-note de dois anos, mais sensível às perspectivas para a política monetária, subiu de 4,189% para 4,218%, enquanto a da T-note de dez anos foi de 4,29% a 4,395%.
Lá fora, os dados do “payroll” de outubro nos Estados Unidos até indicavam algum alívio para os juros americanos e domésticos, já que a fraca geração de 12 mil empregos poderia abrir espaço para uma política monetária mais frouxa do Federal Reserve (Fed). O mercado, porém, abandonou essa visão diante da possibilidade de vitória de Trump nas eleições presidenciais na próxima terça-feira.
Com isso, as taxas dos Treasuries passaram a subir, o que exerceu ainda mais pressão sobre a curva a termo no Brasil. O rendimento da T-note de dois anos, mais sensível às perspectivas para a política monetária, terminou a sessão em alta de 4,189% para 4,224%, enquanto a da T-note de dez anos saltou de 4,29% a 4,397%.
Denis Ferrari, gestor de renda fixa da Kinea, avalia que a aparente insustentabilidade da dívida brasileira, casada com o ambiente avesso a risco no exterior, faz com que o mercado local de juros fique “sem âncora”, o que explica o forte movimento de abertura da curva a termo mesmo sem um fato novo negativo no campo fiscal.
“O mercado cansou, ninguém quer carregar risco antes das eleições [nos Estados Unidos]”, avalia. Para ele, há ainda o fato de que os fatores técnicos do mercado de juros também são ruins, pois não há muitos aplicadores novos em um contexto em que o Tesouro Nacional oferta poucos títulos e, ao mesmo tempo, precisa concorrer com papéis de renda fixa privada isentos de tributação pelo Imposto de Renda (IR).
Do lado macroeconômico, os dados de atividade e mercado de trabalho no Brasil também não mostram arrefecimento, o que leva o mercado a precificar uma taxa Selic mais alta à frente. Conforme a precificação extraída da curva de juros futuros, os investidores já esperam juros ao redor de 13,75% ao fim do ciclo de aperto. Além disso, tanto a curva quanto o mercado de opções digitais do Copom precificam uma chance em torno de 40% de que o colegiado acelere o ritmo para um aumento de 0,75 ponto na decisão de dezembro.
De olho nas variáveis macroeconômicas, a chefe de pesquisa macroeconômica para América Latina do BNP Paribas, Fernanda Guardado, e a economista para Brasil do banco, Laiz Carvalho, revisaram as suas projeções de Selic e agora esperam juros de 12,75% ao fim do ciclo atual (de 12,25% anteriormente) e de 12,25% no final de 2025.
Em um cenário alternativo, Guardado e Carvalho avaliam que o BC “pode ter manter os juros em 12,75% ao longo de todo o ano de 2025”, caso uma tendência de desinflação não se materialize até o fim do primeiro trimestre de 2025.