Os juros futuros sofreram em mais um dia de amplo estresse que levou a um novo salto das taxas negociadas no mercado secundário nesta segunda-feira. Pressionada pelo persistente mal-estar dos investidores com a política fiscal e as incertezas quanto à tramitação do pacote de contenção de gastos no Congresso, a curva a termo ainda foi afetada pela intervenção cambial do Banco Central no mercado à vista. A venda de dólares fez o prêmio de risco do câmbio migrar para as taxas, que avançaram até 70 pontos-base (ou 0,7 ponto percentual) nos vértices de prazo mais longo.
O movimento mais forte na ponta longa da curva de juros futuros indica que o principal gatilho na sessão de hoje foi a piora da percepção de risco local dos investidores. Vale ressaltar, ainda, que o estresse ocorreu a despeito de um pregão de pouca volatilidade no mercado de renda fixa dos Estados Unidos, onde a taxa da T-note de dez anos exibia leve alta de 4,396% a 4,399%, no fim da tarde em Nova York.
A forte deterioração dos ativos domésticos ocorre em um contexto de ausência de confiança sobre os rumos da política econômica do país. Antevendo um quadro de insustentabilidade fiscal, os investidores têm exigido cada vez mais prêmio para carregar os títulos da dívida pública.
Além disso, a atuação do BC para conter a depreciação do câmbio também foi um motivo de estresse, seja no pregão de hoje ou na última sexta-feira, quando o BC também vendeu dólares no mercado à vista. Em relatório, José Faria Junior, sócio da Wagner Investimentos, discorda da estratégia do BC.
“O mercado financeiro no Brasil é um sistema de ‘vasos comunicantes’ com apenas 3 ativos: Ibovespa, dólar e juros. Se o BC atua para fechar a válvula do dólar, a pressão do sistema será aliviada nos juros e na bolsa. Atuação no câmbio piora os demais ativos. O BC fica com o martelo na mão tentando acertar a marmota (dólar), mas outra marmota (bolsa e/ou juros) surge em outro lugar. Não vai funcionar!”, diz o profissional.
A opinião do gestor é compartilhada por outros agentes do mercado financeiro. “O leilão de dólar do BC fez as pessoas correrem para os DIs”, diz o profissional da tesouraria de um banco local, sob condição de anonimato.
Em meio ao estresse contínuo provocado, principalmente, pela percepção de risco fiscal, investidores institucionais estrangeiros se afastam do Brasil. É o caso, por exemplo, do J.P. Morgan, cuja equipe de estrategistas para mercados emergentes rebaixou a recomendação para os títulos da dívida pública brasileira, de “overweight” para “marketweight”.
“Continuamos com um viés construtivo no lado do crédito soberano: além do argumento das contas externas, nos consolamos com a capacidade do Brasil de continuar superando as expectativas de crescimento até 2025; o amplo consenso entre a classe política de que devem existir alguns controles fiscais; e a política monetária independente (sem dominância fiscal por enquanto). No entanto, aguardamos a resolução do atual impasse fiscal – que, em nossa opinião, pode levar mais algum tempo – e melhores níveis antes de procurar expressar essa opinião novamente”, dizem os estrategistas do banco americano.