O primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, afirmou nesta terça-feira (19) que compreende a proposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de fortalecer a tributação progressiva nos países do G20, mas ressaltou que a taxação global dos chamados super-ricos, defendida pelo Brasil, é difícil de ser implementada.
- Se você gostou desse post, não esqueça de compartilhar:
- Acompanhe o que acontece na reunião de cúpula do G20, no Rio
“A presidência do G20, que é do Brasil desta vez, pretende propor o fortalecimento da tributação progressiva e da tributação de super-ricos. O Brasil propôs essa questão e nós entendemos muito bem essa proposta”, disse o premiê japonês, em entrevista coletiva no Rio, após a cúpula do G20.
O premiê, porém, apresentou algumas dificuldades para implementação da medida, como a contabilização dos ativos em escala internacional. “Em relação à tributação global para os super-ricos, como é que nós vamos calcular ou avaliar os ativos desses super-ricos?”, questionou.
A declaração final dos líderes do G20, divulgada na segunda-feira (18), trouxe uma menção inédita à taxação dos super-ricos apesar da resistência do presidente da Argentina, Javier Milei, que assinou o documento, mas expôs suas discordâncias na plenária dos chefes de Estado.
Segundo Ishiba, várias opiniões estão sendo debatidas sobre o assunto e o Japão tem interesse “de continuar participando e contribuindo” para a discussão.
No discurso lido antes das perguntas da imprensa, Ishiba defendeu outras propostas da presidência brasileira do G20, como o combate à fome e à pobreza, a redução das emissões de gases poluentes e o gerenciamento de desastres naturais.
“Vamos estreitar a cooperação com o chamado Sul Global. Também temos liderados outros temas caros ao Brasil como o combate à fome e pobreza, mudanças climáticas, transição energética e prevenção de desastres“ afirmou.
A coletiva começou pontualmente no horário marcado e os jornalistas tiveram que seguir uma série de protocolos. O cerimonial pediu que os celulares fossem desligados ou colocados no silencioso. A orientação era para ninguém se levantar durante a entrada e a saída do primeiro-ministro da sala de conferência. Apenas quatro veículos puderam fazer perguntas – dois japoneses e dois brasileiros, entre eles o Valor.
O primeiro-ministro disse que aproveitou o encontro no Rio para defender o fim da guerra na Ucrânia “o mais rápido possível” e que a situação no Oriente Médio deve ser controlada de todas as partes para acalmar a situação o mais rápido possível.
Ishiba também apontou a “incapacidade” do atual Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) em lidar com os conflitos atuais. “Enfatizei a necessidade de reforma e também sugeri que o papel da Assembleia Geral da ONU deve ser examinado”, afirmou em uma defesa do multilateralismo.
O G4, composto por Brasil, Alemanha, Japão e Índia, tem trabalhado para expandir o Conselho de Segurança com a inclusão dos quatro países como membros permanentes do colegiado.
O premiê, que assumiu o cargo em outubro, também demonstrou preocupação com a segurança do território japonês devido aos lançamentos de mísseis pela Coreia do Norte e a crescente cooperação militar entre os norte-coreanos e a Rússia.
Questionado sobre a relação com o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, o primeiro-ministro japonês disse que pretende aprofundar “de forma sinérgica” a colaboração com países aliados e manter conversas “estreitas” com o próximo governo americano.
“Gostaria de obter entendimento do senhor Trump nesse sentido [mecanismos multilaterais de defesa] e chegarmos a uma relação de cooperação. Pretendo fazer esse tipo de esforço. O próximo governo vai começar a lançar as suas políticas e vamos analisar até que ponto podemos realmente construir novas relações de cooperação”, ressaltou.
Antes da entrevista, o primeiro-ministro do Japão participou de uma reunião bilateral com o presidente Lula. No encontro, os líderes conversaram sobre os conflitos internacionais, reforma da governança global, carros híbridos movidos a hidrogênio e trataram de cooperação na área de agricultura e indústria. Lula e Ishiba também marcaram uma viagem do presidente brasileiro ao Japão em março do ano que vem.