O início dos cortes de juros nos Estados Unidos no mês passado não só não ajudou como atrapalhou a recuperação de ativos de risco no Brasil, na visão de Marcelo Guterman, especialista em investimentos da Western Asset. Segundo ele, o Federal Reserve vem reforçando que depende do desempenho dos indicadores da atividade econômica, que têm vindo mistos.
“Quando o Fed cortou em 0,5 ponto parecia que o ciclo seria rápido, e que traria de volta o investidor estrangeiro para o Brasil, mas os dados em direções diversas tiraram o ânimo do mercado”, comenta. “Desde o movimento dos BCs [em setembro o Banco Central brasileiro elevou a Selic], mudou para pior.”
Guterman afirma que esse pessimismo tirou o pano de fundo favorável que permitiria “empurrar a questão fiscal do Brasil com a barriga”, mas frisa que o compromisso da autoridade monetária brasileira com o cumprimento da meta de inflação é positivo.
O especialista da Western Asset comenta que a visão da gestora é a de que o BC vai fazer esse aperto agora, mas será curto, com uma Selic terminal de 12%. Além disso, vai ter espaço para derrubar a taxa de juros no segundo semestre do ano que vem. “Mas isso depende dos sinais do governo no lado fiscal.”
De acordo com ele, a gestora não mudou seu posicionamento e segue defensiva, evitando alocações de prazo longo. A parcela prefixada em renda fixa de curto prazo, afirma, está ocupando 25% da carteira.
Em crédito privado, comenta que a asset tem sido mais seletiva no mercado primário, mas que os títulos já em estoque têm ajudado a melhorar o desempenho inclusive dos multimercados da casa.
Em renda variável, o foco é o exterior, em ações do S&P 500 e BDRs, embora a bolsa brasileira esteja com preços atrativos, segundo ele. “Vemos um ciclo longo de cortes do Fed, até chegar a 3% [a taxa agora está entre 4,75% e 5%].”