Com um clima belicoso, o debate com cinco candidatos à Prefeitura de São Paulo promovido pela TV Gazeta e pelo canal My News na noite do domingo (1) foi marcado pela troca de ofensas e por acusações sobre a infiltração do crime organizado em São Paulo.
O momento mais tenso foi protagonizado por Marçal e Datena, que se provocaram, trocaram acusações e por pouco não se agrediram fisicamente. Depois de o candidato do PSDB ter falado que o “influencer” tentou fazer um acordo eleitoral antes do primeiro debate da TV Bandeirantes, os ataques entre os dois se intensificaram e Datena deixou o púlpito para enfrentar, cara a cara, Marçal, no terceiro bloco. A mediadora, Denise Campos de Toledo, chamou o segurança e o tucano voltou ao seu lugar. Com o clima tenso, o bloco foi encerrado antecipadamente.
As provocações continuaram no intervalo e depois do fim do debate, não só entre os dois candidatos mas também entre integrantes das campanhas do PRTB e do PSDB.
Datena afirmou que Marçal ameaça a democracia. “Você nos faz atores passivos de um filminho de horror”. Acuado pelos rivais, Marçal disse que seus adversários compunham “um consórcio comunista” que passou a atacá-lo em função de ter se tornado um dos líderes das pesquisas. Durante e depois do debate, o candidato do PRTB atacou também jornalistas.
A infiltração do crime organizado na cidade permeou todo debate, durante e críticas a Pablo Marçal e sua suposta ligação e de integrantes de seu partido com o PCC, e também sobre a participação de facções criminosas em contratos da gestão Ricardo Nunes, como em empresas de ônibus.
Já no início do debate, Nunes atacou Marçal a quem chamou de “Pablito” e lembrou que o candidato do PRTB já foi preso por participar de uma quadrilha de fraude a bancos. Nunes fez menção a áudios obtidos na investigação a que Marçal respondeu, em 2005, divulgados neste domingo pelo portal UOL. Nos áudios, Marçal era chamado pelo diminutivo. O prefeito disse que integrantes do PRTB “têm ligação estreita com o PCC” e que o piloto de Marçal seria ligado ao narcotráfico.
Marçal provocou Nunes, a quem chamou de “bananinha”, e disse que ele perdeu o apoio do bolsonarismo. Os dois candidatos buscam o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de bolsonaristas para concorrer. “Como é ter Bolsonaro de amante? Você gosta muito dele e tem que esconder no bolso. Nenhum bolsonarista te apoia”, disse o “influencer”. “Dá um jeito de ganhar para você se manter blindado, senão vai para cadeia. Não fui eu que defendi empresa de ônibus do PCC”, afirmou o candidato do PRTB. Nunes retrucou, disse que “bananinha” era o que ele comeu na cadeia, quando foi preso por participação em um esqueam de fraude bancária, e chamou o “Pablito” de “tchutchuca do PCC”.
Datena mirou nos dois adversários da direita e falou sobre as facções criminosas em São Paulo. “Dentro do governo do Ricardo Nunes tem o crime organizado andando de ônibus e ele [prefeito] não sabe de nada. O outro candidato [Marçal] é um estelionatário virtual”, disse, afirmando na sequência que eleger Nunes e Marçal é “eleger o crime organizado”. “Não resolve qualquer problema de segurança se não atacar o PCC, o crime organizado e outras organizações infiltradas na política”, disse. “O crime organizado está chegando com milícias, está financiando e elegendo políticos”
O candidato do PSDB repetiu, em diversos momentos, que o “crime organizado está se infiltrando na política” e disse que a “democracia brasileira corre o risco de virar a Colômbia”, fazendo referências a Pablo Escobar, líder do cartel de Medellín, morto em 1993. Tabata Amaral aproveitou a deixa para ressaltar a coincidência de prenome entre o colombiano e o candidato do PRTB.
Datena, contudo, voltou a fazer carga sobre o prefeito e lembrou também de uma operação do Ministério Público que identificou a atuação de guardas civis metropolitanos em uma milícia na região da Cracolândia. Nunes afirmou que Datena já teria sido condenado por fazer imputações falsas.
Durante o debate, Boulos, Datena e Tabata se pouparam de ataques diretos e por diversas vezes fizeram dobradinhas para atacar a gestão de Nunes e Pablo Marçal.
Em um outro momento de tensão, Nunes criticou Boulos como “invasor”. O candidato do Psol ganhou direito de resposta e classificou Nunes como “ladrãozinho de creche”, em referência à investigação da Polícia Federal sobre uma máfia da creche em São Paulo e a suposta participação do prefeito no caso. “Bandidinho é você, ladrãozinho sem vergonha, sem caráter”, disse Nunes. “Enquanto você invade, eu entrego casa, seu invasorzinho sem vergonha”, afirmou. Boulos rebateu e disse que Nunes não combate o crime organizado infiltrado em ocupações em áreas de mananciais. “É fácil falar grosso com a senhora que não tem onde morar e falar fino com o crime organizado”. O candidato do Psol disse ainda que São Paulo não pode ficar refém do “banditismo nem do bolsonarismo”, em críticas a Marçal e Nunes.
Em ataque ao “influencer”, Tabata afirmou ter ingressado com uma nova ação na Justiça Eleitoral contra Marçal, por acusação de financiamento ilegal e suposto abuso do poder econômico. A candidata indicou ainda que o financiamento da campanha de Marçal teria ligação com o crime organizado. Tabata criticou, ao longo do debate, a gestão de Nunes e citou a milícia de GCMs na cidade.
(Colaboraram César Felício e Marcelo Coppola)