A tragédia provocada pelas enchentes no Rio Grande do Sul terá impacto nas montadoras e indústria de autopeças. Primeiro pela perda de produção e de vendas de veículos e autopeças na região. Além disso, o transporte desses itens nas rodovias que ligam o Sul ao resto do país e aos vizinhos do Mercosul foi prejudicado.
Segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Componentes (Sindipeças), o Rio Grande do Sul representou 12% do faturamento da indústria de autopeças em 2023, que totalizou R$ 12,8 bilhões. O Estado também responde por 11% das exportações de peças.
Primeiro quadrimestre positivo
As inundações arrefeceram o clima de comemoração que tomou conta do setor pelos resultados do primeiro quadrimestre. Abril fechou com níveis elevados de vendas e produção, o que comprova que o ritmo de recuperação do mercado brasileiro manteve-se firme.
A produção de 222,1 mil veículos foi a melhor desde agosto do ano passado, período em que as vendas estavam elevadas em função do programa de descontos oferecido pelo governo federal.
Com o salto em abril, a produção acumulada no quadrimestre somou 760,1 mil unidades, 6,3% acima do mesmo período do ano anterior, segundo o balanço divulgado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Na comparação com março, a produção subiu 13,5%. Já em relação a abril de 2023, a elevação foi de 24,2%.
O acumulado de vendas no ano, de 735 mil unidades, ficou 16,3% superior ao dos quatro primeiros meses de 2023. No ano passado, o patamar de 220 mil unidades só foi superado em julho, com estímulo do programa do governo, e dezembro, tradicionalmente o mês mais aquecido de cada ano.
O setor continua, por outro lado, sem motivos para comemorar no mercado externo. As 27,3 mil unidades exportadas representaram queda de 16,4% em relação a março. No acumulado do ano, o volume de 109,6 mil veículos ficou 26% inferior ao do primeiro quadrimestre de 2023.
No mercado doméstico, o destaque ficou para as três marcas chinesas que mais vendem no país, BYD, CAOA Chery e GWM, que fecharam o quadrimestre com 6,96% das vendas. Os carros chineses estão cada vez mais presentes nas ruas, principalmente nas grandes cidades brasileiras.
Com 21,9 mil veículos vendidos no acumulado do ano, a BYD foi a líder entre as três, com fatia de 3,18% de todos os emplacamentos de carros e comerciais leves. A CAOA Chery ficou com 2,62% e a Great Wall Motor (GWM), com 1,16%. BYD e CAOA Chery venderam mais do que Ford e Citroën, por exemplo, e a GWM passou à frente de Peugeot e Mitsubishi.
Em recente entrevista ao Valor, o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, apontou a decisão do governo de voltar a cobrar Imposto de Importação de carros elétricos como principal motivo que levou as montadoras a investir mais no Brasil. A tributação foi retomada em janeiro e subirá, de forma escalonada, até julho de 2026. Mas, por enquanto, a volta do imposto não parece ter freado tanto a entrada das marcas chinesas, especializadas em veículos híbridos e elétricos.
A onda de anúncios de novos investimentos no setor chamou a atenção nos primeiros meses do ano. Só nas montadoras de automóveis, os investimentos passam dos R$ 115 bilhões nesta década. Com os ciclos de caminhões, que terminam no meio da década, o total chega a R$ 121,8 bilhões.