Representantes do movimento indígena brasileiro lançaram na tarde de sábado um manifesto, em Cáli, na Colômbia, onde dizem que não aceitarão mais projetos de petróleo e gás em seus territórios e reivindicam a copresidência da COP30 no Brasil, em 2025.
Os indígenas reivindicam a copresidência, algo inédito nas conferências das Nações Unidas. Querem, no entanto, independência dos governos.
“Nós, povos indígenas brasileiros, diante da gravidade das crises de biodiversidade e do clima, sabemos que não há tempo a perder”, leu Angela Amanakwa Kaxuyana, liderança do povo Kahyana, no extremo norte do Pará, fronteira com Suriname.
“Não aceitaremos mais nenhum projeto predatório, que ameace nossas vidas, nossos territórios e a humanidade”, seguiu. “Não aceitaremos mais nenhum projeto de petróleo e gás e qualquer outra forma de exploração predatória na Amazônia brasileira, em nossos territórios e nossos ecossistemas. Não haverá preservação da biodiversidade e nem territórios indígenas seguros em um planeta em chamas”, continuou Angela.
O texto curto e forte segue dizendo que os indígenas sabem “quem está botando fogo no mundo e o impacto violento que isso tem produzido nos nossos territórios: seca severa, isolamento forçado, doenças, falta de alimento, invasões, conflitos e mortes”. Rios amazônicos têm enfrentado secas severas e alguns povos indígenas estão isolados em suas aldeias.
“Enquanto os governos continuam querendo mediar metas insuficientes e financiamentos vazios, queremos anunciar que, a partir de agora, só haverá paz com a Natureza se declararmos abertamente a guerra contra os combustíveis fósseis e qualquer outro projeto predatório que ameaça a vida no planeta”, seguiu Angela, na praça Simon Bolívar, em Cáli, onde acontece a COP16, a Conferência sobre Biodiversidade das Nações Unidas até 1º de novembro. Ali fica a Zona Verde, onde se concentram os grupos da sociedade civil.
Na declaração “A resposta somos nós”, os indígenas dizem que o governo de Gustavo Petro deu o primeiro passo, suspendendo a concessão de novas explorações de petróleo e gás no país e reconheceu os povos indígenas como autoridades ambientais. “Esperamos que outros países sigam esse mesmo compromisso. A outra face da crise climática e da biodiversidade é a crise de liderança e de valores. Nós nunca abdicamos desse lugar e não vamos nos perder em discussões vazias e compromissos estéreis”, seguiu lendo Angela.
O manifesto demanda a retomada imediata das demarcações de todas as terras indígenas no Brasil “como uma política climática efetiva e o financiamento direto para a proteção integral dos nossos territórios e nossos modos de vida”.
Por fim, o manifesto lembra que a COP30, em Belém, “será no nosso território. Não aceitaremos que as discussões aconteçam sem a devida consulta e participação das nossas vozes e autoridades. Reivindicamos a copresidência da COP de Clima no Brasil para que o acúmulo de nossos conhecimentos e experiências ancestrais possam oferecer ao mundo a oportunidade de um outro futuro”.
O manifesto é assinado por importantes entidades indígenas como a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), a Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), o Conselho do Povo Terena, a Grande Assembleia do povo Guarani (ATY Guasu), a Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), a Articulação dos Povos Indígenas do Sudeste (Arpinsudeste) e a Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpinsuli)
*A jornalista viajou a Cáli, para a COP 16, a convite do Instituto ClimaInfo e da The Nature Conservancy (TNC)