A Igreja Copta Ortodoxa suspendeu o diálogo com a Igreja
Católica alegando que ocorreu uma “mudança de posição” desta sobre a
homossexualidade – o que é negado pelo Vaticano.
Segundo informações do site Catholic News Agency, o
porta-voz da Igreja Copta Ortodoxa, padre Moussa Ibrahim, confirmou em vídeo que
um dos nove decretos do Santo Sínodo anual dessa igreja, realizado na semana
passada em Wadi El-Natrun, no Egito, foi “suspender o diálogo teológico com a
Igreja Católica após sua mudança de posição sobre a questão da
homossexualidade”.
Em declaração, os líderes da Igreja Copta Ortodoxa afirmaram
que, “depois de consultar as igrejas irmãs da família Ortodoxa Oriental, foi
decidido suspender o diálogo teológico com a Igreja Católica, reavaliar os
resultados alcançados pelo diálogo desde o seu início há 20 anos e estabelecer
novos padrões e mecanismos para que o diálogo prossiga no futuro”.
Os líderes afirmaram sua “firme posição de rejeição a todas
as formas de relações homossexuais, porque violam a Bíblia Sagrada e a lei pela
qual Deus criou o homem como homem e mulher, e a Igreja considera qualquer
bênção de tais relações, seja qual for o seu tipo, como uma bênção para o
pecado, e isso é inaceitável”.
Embora os coptas aleguem que a Igreja Católica teria mudado
de posição sobre a homossexualidade, o Vaticano faz questão de esclarecer que
não houve nenhuma mudança de doutrina nem sobre esse tema, nem sobre o
casamento.
O Dicastério para a Doutrina da Fé publicou em dezembro a declaração Fiducia supplicans, que aborda o significado pastoral das bênçãos. O documento, discutido com o papa Francisco e aprovado por ele, abre a possibilidade de bênçãos para casais em situação irregular e do mesmo sexo, sem que isso signifique uma aprovação da forma como eles vivem – a bênção seria dirigida às pessoas, não à união em si.
A declaração distingue entre as bênçãos rituais e litúrgicas
e as bênçãos espontâneas.
“É precisamente neste contexto que se pode compreender a
possibilidade de abençoar casais em situação irregular e casais do mesmo sexo
sem validar oficialmente o seu status ou alterar de alguma forma o ensinamento
perene da Igreja sobre o matrimônio”, diz o texto, que reafirma o ensinamento
tradicional católico sobre o casamento – “união exclusiva, estável e
indissolúvel entre um homem e uma mulher, naturalmente aberta à geração de
filhos” – e sobre as relações sexuais, que só são lícitas quando ocorrem dentro
de um matrimônio regular.
A declaração enfatiza que “são inadmissíveis ritos e orações
que possam criar confusão” entre o casamento católico e as demais uniões. “Esta
convicção baseia-se na perene doutrina católica do casamento; é somente neste
contexto que as relações sexuais encontram o seu significado natural, próprio e
plenamente humano. A doutrina da Igreja sobre este ponto permanece firme”,
destaca o documento.
O parágrafo 28 da declaração afirma que há “várias ocasiões
em que as pessoas vêm espontaneamente pedir uma bênção, seja em peregrinações,
em santuários, ou mesmo na rua quando encontram um sacerdote”, e tais bênçãos
“são dirigidas a todos, ninguém deve ser excluído”.
“Portanto, a sensibilidade pastoral dos ministros ordenados
também deve ser formada para realizar espontaneamente bênçãos que não se
encontram no Ritual das Bênçãos”, indica a declaração.
O Vaticano ainda deixou claro que a bênção tem de ser
espontânea, ou seja, não seguir nenhum texto prévio ou padronizado, e afirma
que dioceses ou conferências episcopais não devem redigir textos específicos
para essas bênçãos, para evitar a confusão entre os fiéis e a impressão de que
a Igreja estaria validando as uniões homoafetivas ou novas uniões civis entre
divorciados.
“É essencial compreender a preocupação do Santo Padre para
que estas bênçãos não ritualizadas nunca deixem de ser simples gestos que
constituem um meio eficaz para aumentar a confiança em Deus por parte das
pessoas que as pedem, cuidando para que não se tornem um ato litúrgico ou
semilitúrgico, semelhante a um sacramento”, alerta o texto.
“Por esta razão, não se deve prever nem promover um ritual para a bênção de casais em situação irregular”, acrescenta.