Sem o suporte de ações da Vale e da Petrobras, o Ibovespa encontrou dificuldade para encerrar o pregão de hoje no campo positivo e fechou em queda de 1,33%, aos 118.533 pontos, oscilando entre os 118.404 pontos e os 120.356 pontos. A última vez que o índice havia fechado abaixo dos 119 mil pontos tinha sido em 6 de novembro de 2023, quando encerrou aos 118.431 pontos. No acumulado da semana, o índice teve perdas de 1,44%.
Por causa das festas de fim de ano, o volume financeiro do índice continuou um pouco menor na sessão de hoje e terminou em R$ 15,1 bilhões. Já na B3, o giro chegou a R$ 20,4 bilhões. O desempenho do Ibovespa foi na contramão do visto nos principais índices americanos, que apresentaram forte alta. O Nasdaq subiu 1,77%, o S&P 500 teve alta de 1,26% e o Dow Jones avançou 0,80%.
Ações da Vale terminaram a sessão em queda de 1,86%, em um dia de recuo mais expressivo nos preços do minério de ferro e de maior pessimismo com o crescimento chinês após dados econômicos mais fracos. Outros papéis também foram afetados pelo recuo nos preços da commodity, caso dos papéis da Usiminas, que caíram 6,01% e lideraram as perdas do Ibovespa.
Depois de apresentar uma alta mais forte na sessão anterior, o pregão também foi de queda nos papéis da Petrobras. As PN caíram 1,06% e as ON tiveram perdas de 0,35%, mesmo em um dia de avanço nos preços do petróleo.
Já as ações da Eneva passaram por forte correção nesta sexta-feira e subiram 5,45%. O movimento ocorreu depois que os papéis despencaram mais de 9% na véspera. Em relatório, analistas do BTG Pactual defenderam que a reação de agentes financeiros à publicação ontem de uma portaria do Ministério de Minas e Energia (MME), que não permitirá que a companhia coloque duas usinas térmicas para disputar um leilão do órgão, foi “desproporcional” e que criou uma “oportunidade de assimetria”.
O banco está com uma recomendação de compra para os papéis, com preço-alvo de R$ 18. É preciso observar, porém, que o BTG Pactual, porém, é controlador da Eneva.
Mesmo com o “valuation” atrativo das ações locais, a turbulência fiscal e a perda de relevância do Brasil nos portfólios globais impediram a vinda de fluxos positivos de capital estrangeiro para a bolsa local ao longo do ano passado.
Números divulgados nesta sexta-feira pela B3 mostram que os investidores estrangeiros retiraram R$ 32,1 bilhões em recursos no segmento secundário da B3 (ações já listadas) em 2024. Os dados não levam em conta aberturas de capital (IPOs) nem follow-ons (ofertas subsequentes).
Essa foi a maior saída de capital da bolsa desse perfil de investidor desde 2020, no primeiro ano da pandemia, quando o déficit anual da categoria chegou a R$ 40,1 bilhões, de acordo com levantamento feito pelo Valor Data com dados da B3.
Michel Frankfurt, head da corretora do Scotiabank no Brasil, avalia que a vinda de fluxos mais expressivos parece pouco provável no curto prazo, mas não descarta entradas menores de capital ao longo do ano. ”Não teremos grandes fluxos. Podemos ter alguma entrada para aproveitar pechinchas da bolsa, mas não temos uma ‘narrativa’ para surfar uma onda. Vai ser uma marola.”
Na avaliação do profissional, o Brasil parece “largado” na visão do estrangeiro. Segundo ele, o país não conseguiu destaque do ponto de vista global de alocação e ainda teve problemas internos como o pacote fiscal, que agravaram a situação e afastaram de vez o investidor global.
O ciclo vicioso gerado pela decepção de investidores com o pacote de corte de gastos também foi citado por analistas do HSBC, que rebaixaram nesta semana a recomendação de ações brasileiras de neutra para “underweight” (abaixo da média de mercado), em meio ao maior pessimismo com o país.
“Consideramos o Brasil uma ‘armadilha clássica’ de valor”, resumiram os especialistas Alastair Pinder, Nicole Inui e Herald van der Linde, em relatório.
Para os três especialistas do HSBC, é inegável que as ações brasileiras estejam baratas neste momento, com um preço sobre lucro projetado para 12 meses em 6,6 vezes, mas o banco avalia como “improvável” uma reavaliação dos ativos até que a Selic caía ou o retorno oferecido por títulos de renda fixa locais diminua, o que pode não ocorrer antes do segundo semestre de 2025.
“Lutamos para ver um comprador marginal de ações com taxas de juros reais acima de 7% dissuadindo investidores locais e fundos que alocam em países emergentes”, resumiram os analistas da casa.