Mudanças no currículo escolar da Síria feitas pelo grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), que assumiu o controle do país após a queda do regime de Bashar al-Assad, provocaram preocupação em parte da população do país e de observadores internacionais ao impor conteúdos islâmicos na grade escolar, aumentando temores de que o grupo pode adotar uma linha religiosa mais radical em um país marcado pela diversidade religiosa.
A maioria das mudanças envolve a retirada de referências ao regime de Bashar al-Assad e de seu falecido pai, Hafez, que governaram o país durante cinco décadas.
Autoridades internacionais e seculares da Síria também se mostraram preocupados com a remoção de referências a divindades pré-islâmicas e até mesmo a retirada da palavra divindades, segundo o “FT”
Também foram retiradas referências ao texto da lei de cidadania da Síria, uma seção sobre a evolução dos cérebros de vertebrados e menções a Zenóbia, uma célebre rainha pré-islâmica da antiga cidade de Palmira.
Após as críticas, o ministro da educação, Nazir al-Qadri, disse que o antigo currículo permaneceria em vigor até a formação de comitês para auditar os livros escolares, mas que pediu algumas mudanças para eliminar conteúdos que “glorificam o extinto regime de Assad”.
Ele disse ainda que as autoridades também modificariam “algumas das informações incorretas… no currículo de educação islâmica”, incluindo a interpretação de versos do Alcorão, segundo o “FT”.
Qadri anteriormente foi ministro da educação no governo do HTS na cidade de Idlib, que governou a região noroeste da Síria por anos antes da queda do regime.
Os estudos religiosos, uma disciplina obrigatória nas escolas sírias, incluem dois livros, um para muçulmanos e outro para cristãos. Uma das alterações, feita em um livro escolar de Estudos Islâmicos de primeira série, adicionou uma interpretação de um verso do Alcorão mencionando “aqueles que atraíram a ira [de Allah]” e “se desviaram” como uma referência a “cristãos e judeus”.
No livro de ciências da primeira série, a expressão “os frutos da natureza” foi alterada para “os frutos de Allah”, enquanto, em um livro de história da 12ª série, foi removida uma frase mencionando a execução em massa de nacionalistas árabes pelos otomanos em 1916 — data que é feriado na Síria e no Líbano.
Por lei, a Síria determina que escolas privadas e públicas ensinem o mesmo currículo Durante o regime de al-Assad, inspetores eram enviados às escolas privadas para garantir que os livros escolares publicados pelo governo fossem ensinados.