As federações entre partidos políticos permitiram que as legendas nanicas continuassem existindo, com acesso a fundo partidário e tempo de propaganda na televisão, mas as siglas menores que participam deste tipo de arranjo perderam até 77% de seus prefeitos nestas eleições municipais e agora avaliam se vale a pena renovar a aliança para 2026 ou buscar outros aliados.
O Cidadania, que é minoritário na federação com o PSDB, despencou de 141 prefeitos para 33. Com os tucanos com maioria para decidir quem seriam os candidatos, a perda de espaço foi visível: a sigla chegou teve mais eleitos em 2020 do que candidaturas a prefeito este ano (disputou em apenas 104 municípios). Além disso, fez 1584 vereadores há quatro anos e apenas 437 em 2024.
PCdoB e PV fizeram 46 prefeitos na eleição passada. Após a aliança nacional com o PT, caíram para 19 e 18 eleitos, respectivamente. Perderam ainda quase metade de seus vereadores: o PCdoB saiu de 702 para 354 e o PV passou de 813 para 488.
Vice-presidente do Cidadania, o ex-deputado Rubens Bueno diz que o partido discutirá a partir de janeiro se renova a federação ou se fez uma aliança diferente. “[O resultado] Provou que não deu certo. Os números estão dizendo isso claramente”, afirma.
Ele destaca que um ponto positivo foi que o partido conseguiu eleger cerca de 30% de seus candidatos a prefeito, mas que o resultado não foi bom. “Agora, teremos que buscar alternativas. Não tem como imaginar que, com os números que estão aí , vamos sobreviver a cláusula”, diz.
A cláusula de desempenho exige que o partido supere um número mínimo de votos para que continue a receber recursos do fundo partidário e tenha propaganda na TV e rádio. Em 2021, foi criada a federação, que permite que os partidos somem seus votos para ultrapassar esse piso, mas, como contrapartida, determina que eles caminhem juntos em todos os municípios e se mantenham aliados no Legislativo por quatro anos. Para 2026, o sarrafo vai subir: será preciso eleger 13 deputados federais ou receber 2,5% dos votos para a Câmara dos Deputados.
Outras legendas que também pretendem utilizar a federação para vencer a cláusula em 2026 dizem que a eleição deixou uma lição: “Os partidos que saíram enfraquecidos é porque fizeram uma federação desproporcional. Tem que discutir o poder de mando ou você não escolhe nem quem será candidato a vereador”, avalia o presidente do Solidariedade, o deputado federal Paulinho da Força (SP).
Candidato a prefeito de São Bernardo do Campo (SP), o líder do Cidadania na Câmara dos Deputados, Alex Manente, afirmou que devem ocorrer mais federações entre partidos de mesmo tamanho. “Acredito que os partidos maiores que não deram a possibilidade de os menores se consolidarem terão dificuldade de renovar essa federação para a eleição geral”, disse. No caso dele, o prefeito do PSDB rejeitou o apoio no primeiro turno e lançou uma sobrinha pelo União Brasil. Agora, ele aguarda a posição do tucano no segundo turno.
No caso da federação com o PT, também há rusgas. O deputado Aliel Machado (PV-PR) destaca que o aliado se sobressai em relação aos demais partidos da federação por ter estrutura muito maior. “O poder econômico deles acaba interferindo e há um prejuízo muito claro”, afirmou. Para ele, o resultado pode fazer outros partidos repensarem se usarão esse mecanismo.
O PSDB, que está aliado do Cidadania, também teve um debacle em seus eleitos. Caiu de 523 prefeitos para 269 e perdeu quase 1,4 mil vereadores. Mas, neste caso, a diminuição da força nos municípios já era esperada porque a sigla perdeu o governo de São Paulo após 20 anos e vem reduzindo seu protagonismo eleição a eleição desde o governo FHC (PSDB).
Já no caso da federação Psol/Rede, ambos saíram mais ou menos do mesmo tamanho do que em 2020, embora o Psol tenha perdido em prefeituras. A relação também não ocorreu sem rusgas, com o Psol vetando candidaturas do Rede por possuir mais deputados federais.