Mais antigo dos gestores de fundos especializados em criptomoedas no país, Axel Blikstad, fundador da B2V Crypto (antiga BLP Crypto), afirma que a Faria Lima ainda não acordou para o potencial dos ativos digitais em ampliar a rentabilidade das carteiras. “A Faria Lima está muito frustrada por que esse mercado não para de subir. É impressionante como ninguém tem o ativo. Eles estão extremamente incomodados. Mas a negação não vai durar para sempre; algum dia essa ficha vai cair”, disse.
Blikstad, que na virada de 2023 para 2024 acertou ao prever, em entrevista ao Valor, que o bitcoin passaria de US$ 100 mil no ano passado, continua otimista, projetando que a criptomoeda atinja entre US$ 150 mil e US$ 250 mil no final deste ano. No domingo, a moeda estava em US$ 98,5 mil. “US$ 175 mil é um ponto médio sem a aprovação das reservas estratégicas nos EUA”, disse. A seguir os principais trechos da entrevista.
Valor: Quais as perspectivas para o bitcoin e para os ativos digitais em geral em 2025?
Axel Blikstad: Tivemos uma melhora significativa nas perspectivas para regulação nos EUA com o chamado Red Sweep [vitória republicana no Executivo e Legislativo]. E isso é fundamental para trazer mais gente para o jogo. O risco regulatório nos EUA, que era 9 numa escala de 0 a 10, hoje acho que caiu para 3. Quando sempre se pergunta por que investir ou não em cripto, as pessoas falavam que não investiam por causa do risco regulatório. Isso praticamente sumiu do mapa. Nos próximos quatro anos, vamos ter um governo que, tudo indica, quer estar nesse ecossistema e ser muito importante em inteligência artificial (IA) e cripto.
Valor: Além da regulação favorável, o que também pesa para o avanço das criptomoedas?
Blikstad: Tem sete pontos que acho importante enumerar: 1) a regulação favorável nos EUA; 2) o ‘dream team’ que o presidente Donald Trump escalou para cuidar do setor – Scott Bessent, no Tesouro; Paul Atkins, na SEC [a CVM dos EUA]; e David Sacks, para estratégia cripto e de IA da Casa Branca -, todos muito comprometidos; 3) as reservas estratégicas de bitcoin dos EUA, seja com proposta de compra ativa de 1 milhão de bitcoins em cinco anos ou não; 4) mais empresas comprando bitcoin como reserva de tesouraria, agora com regras contábeis mais favoráveis, que mandam registrar o ativo no valor de mercado, como os demais ativos; 5) entrada de investidores gigantes, como os fundos soberanos do Oriente Médio; 6) avanço dos fundos negociados em bolsa (ETFs) entre investidores institucionais e de varejo fora do ecossistema cripto; 7) estoques baixos, próximos de 2 milhões de bitcoins nas plataformas, no menor nível histórico, o que mostra um choque de oferta.
Valor: Como será a trajetória?
Blikstad: Claro que vai ter solavancos, mas não vejo como o mercado possa não subir em 2025. Quem não acredita é a Faria Lima, que está muito frustrada porque esse mercado não para de subir. É impressionante como ninguém tem o ativo. Mas a negação não vai durar para sempre; algum dia, essa ficha vai cair.
Valor: O que pode dar errado?
Blikstad: Tem sempre o risco de custódia. Imagina o que acontece se uma Coinbase for hackeada? É um risco mínimo, mas não é zero. Falo especificamente da Coinbase porque todos os ETFs, fora o da Fidelity, estão lá. Até 2025, devemos ter outros custodiantes entre os bancos tradicionais. Tem a questão do Willow, o computador quântico do Google. Mas o Willow ainda não quebra a criptografia do bitcoin. Está muitos anos longe de representar uma ameaça. Mas esse tipo de notícia faz preço…
Valor: Mas qual seu range previsto para o ano de 2025?
Blikstad: Sem aprovar as reservas estratégicas nos EUA, estou muito confortável com algo entre US$ 150 mil e US$ 200 mil – diria US$ 175 mil como ponto médio. Com as reservas, muda de figura: iria para entre US$ 200 mil e US$ 250 mil – US$ 225 mil na média.
Valor: E se acontecer um imponderável e vir uma grande reprecificação dos ativos de risco, seja qual for a razão… Qual seria o impacto?
Blikstad: Risco de preço vai existir sempre; vai subir, talvez muito rápido e depois vai ter correção; e volta a subir… Um risco é a taxa longa nos EUA subir muito, com o Treasury [de 10 anos] a 6% [de juro]. Pode cair 25% a 30%, não acho que passa disso. Um grande problema que faça o mercado tradicional cair 20% pode levar a um sell-off [cripto] de 30%. Agora, se ocorrer o contrário, e a Nasdaq subir 25%, então cripto pode subir 50%.