A solidariedade local e nacional tem desempenhado um papel crucial para ajudar a reerguer a vida do povo gaúcho desde o início da tragédia climática. Mas, além da chuva e da lama, a população desalojada de cidades devastadas pelas chuvas enfrenta uma disparada do preço do aluguel, com os valores que chegam a quase o triplo de antes das enchentes do fim de abril.
A locação de uma casa pequena, com um quarto, cozinha e banheiro, que era alugada por cerca de R$ 600 por mês, chega a custar R$ 1.500 em municípios como Encantado e Arroio do Meio, alguns dos mais devastados pelas enchentes.
“Infelizmente, é essa a realidade. Isso está acontecendo, porque há pouca casa disponível”, disse à reportagem o prefeito de Arroio do Meio, Danilo Bruxel (PP). “E o problema não acontece só com o aluguel. Terrenos à venda em regiões mais altas, distantes do rio, que antes custavam R$ 400 mil, R$ 500 mil, agora estão custando R$ 1 milhão.”
Por trás da onda especulativa que explora a tragédia ambiental e humanitária está não apenas o número reduzido de casas, mas também o pagamento do “aluguel social”, que tem sido repassado pelas prefeituras às vítimas das enchentes.
Em setembro de 2023, quando a região sofreu com uma forte enchente, municípios passaram a pagar um auxílio de até R$ 800 por família atingida, para que se realocassem em algum outro imóvel. O pagamento mensal é feito por seis meses, podendo ser prorrogado por até dois anos. Para ter acesso ao recurso, a família tem de comprovar que teve a sua casa inviabilizada, apresentar um contrato de locação com o locador que escolher e ir para um imóvel onde só aquela família vai residir.
No caso de Arroio do Meio, por exemplo, 200 famílias estavam recebendo benefício desde setembro do ano passado. Ocorre que, com a enchente ocorrida neste mês, metade destas famílias que moravam de aluguel simplesmente perdeu o lar de novo — desta vez o imóvel alugado.
“É uma tragédia. Estávamos ampliando o auxílio para mais cem casas, mas agora temos de realocar essas cem famílias que estavam no programa, mas a região onde estavam também foi destruída”, diz o prefeito Danilo Bruxel.
O prefeito de Encantado, Jonas Calvi (PSDB), também relata o mesmo tipo de problema. “Estávamos pagando os beneficiários da última enchente. Agora, teremos de ampliar isso e ainda não sabemos como será feito”, disse à reportagem. “Há uma limitação, as casas para locação estão acabando, porque nosso município recebeu muita gente de outros lugares no ano passado. Não há muito para onde ir.”
Com uma população de 23 mil habitantes, Encantado teve pelo menos 390 casas completamente destruídas e outras 1.310 encobertas pela lama, o que significou a remoção imediata de aproximadamente 5 mil pessoas. Boa parte delas está em casas de familiares e amigos. Ainda há pelo menos 700 pessoas desabrigadas dormindo em ginásios e praças.
No caso de Arroio do Meio, 12 mil dos seus 22 mil habitantes tiveram de deixar suas casas às pressas devido à invasão da lama. Hoje, mais de 1 mil pessoas seguem desalojadas.
“Agora, essas todas terão de procurar casa. Ainda não sabemos como vão achar. Estamos fazendo tudo o que for possível para auxiliar”, diz o prefeito Danilo Bruxel.