O ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama e a ex-presidente da Câmara dos Deputados Nancy Pelosi, duas das figuras mais importantes do Partido Democrata atualmente, expressaram preocupação quanto à candidatura à reeleição do presidente Joe Biden em conversas privadas, afirmou nesta sexta-feira (12) a CNN.
De acordo com a CNN, os democratas contatados querem resolver a questão o quanto antes e alguns deles pedem que Obama e Pelosi ajudem a acabar com a luta interna no partido de forma mais clara.
Parte dos consultados pela emissora argumenta que o fim da candidatura de Biden parece evidente e que, se os dois líderes pensam de forma diferente, deveriam falar isso o mais rápido possível para tentar evitar uma derrota contra Trump nas eleições de novembro.
Obama tem estado publicamente calado nos últimos dias, após defender o atual líder sem restrições no passado. No dia seguinte ao do embate com Trump, por exemplo, quando o Partido Democrata estava em pânico, o ex-presidente falou que “noites de debate ruins acontecem”. “Esta eleição ainda é uma escolha entre alguém que lutou pelas pessoas comuns durante toda a sua vida e alguém que só se preocupa consigo mesmo”, afirmou. Procurado pela CNN por meio de sua assessoria, Obama não quis comentar.
Pelosi também já tinha adotado uma postura mais comedida nos últimos dias após vir a público defender Biden logo após o debate. Na quarta-feira (10), porém, ela disse durante uma entrevista à rede MSNBC que o presidente tinha uma decisão a tomar sobre seu futuro e que o tempo estava se esgotando para isso ― na prática, um indício de que não considera a reiterada afirmação de Biden de que vai continuar na disputa uma decisão final.
Após a publicação da reportagem, a assessoria da democrata afirmou que nenhum membro do Congresso tem conhecimento de qualquer conversa entre ela e Obama. “Qualquer um que diga que tem não está falando a verdade”, afirmou sua equipe, segundo a CNN.
A notícia veio a público um dia depois de Biden cometer outras duas gafes. A primeira ocorreu durante o encerramento da cúpula da Otan, quando o democrata chamou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, de Putin, presidente da Rússia. A segunda foi durante uma entrevista coletiva, ao trocar o nome da vice-presidente, Kamala Harris, com o de Trump.
“Eu não teria escolhido o vice-presidente Trump para ser vice-presidente se não acreditasse que ela fosse qualificada para ser presidente”, disse, quando na verdade se referia a Kamala.
A maioria das pesquisas de opinião realizadas nos últimos dias aponta para um empate entre os dois candidatos ou para a derrota de Biden, se as eleições fossem celebradas hoje. Um levantamento do “The New York Times”/Siena College entre os dias 28 de junho e 2 de julho, por exemplo, indica que Trump está seis pontos percentuais à frente de Biden (49% a 43%) – a margem de erro é de 2,9 pontos percentuais.
Já uma pesquisa realizada pelo instituto Marist Poll, pela rádio NPR e pela emissora PBS, divulgada nesta sexta, indica que Biden lidera com 50% das intenções de voto, contra os 48% que Trump pontua. A ligeira vantagem numérica, no entanto, é um empate técnico, já que está na margem de erro de 3,1 pontos percentuais.
O coro que pede publicamente pela desistência de Biden cresceu nos últimos dias. Até o final da manhã desta sexta, 18 dos 213 deputados democratas defenderam publicamente que o presidente renuncie à sua candidatura, e um senador entre os 47 do partido fez o mesmo. Já entre os governadores – alguns dos quais estão na lista de cotados para substituir Biden – não houve manifestações públicas, por enquanto.
A insatisfação atinge também aqueles que colocam dinheiro na campanha. Alguns dos principais doadores do Future Forward, maior fundo de doação pró-Biden, disseram ao órgão que US$ 90 milhões (cerca de R$ 490 milhões) prometidos permanecerão congelados enquanto o atual presidente for cabeça de chapa, publicou o “New York Times”, nesta sexta. O jornal atribui a informação a duas pessoas com conhecimento do assunto e afirma que o grupo se recusou a comentar movimentações internas.
Ainda segundo o “New York Times”, a campanha de Biden está testando Kamala em pesquisas internas para compreender como ela se sairia como candidata à Presidência contra Trump.
Em meio à intensa pressão para sair da corrida, o presidente recebeu um apoio importante nesta sexta. O deputado James Clyburn disse que Biden não deve desistir de sua candidatura. “Estou totalmente comprometido. Apoio Biden, não importa para qual direção ele vá”, disse ele no programa Today, da emissora NBC.
O apoio de Clyburn, voz respeitada pela população negra do país, é essencial para a campanha de Biden. O democrata atua no Congresso há mais de 30 anos e desempenhou um papel de destaque na bem-sucedida corrida do atual presidente à Casa Branca em 2020. Além disso, o eleitorado negro é uma fatia da qual o Partido Democrata não pode se dar o luxo de abrir mão, caso queira derrotar Trump nas urnas.