O B20 Summit 2024, a mais relevante plataforma de diálogo entre líderes empresariais e governos em torno do G20, reuniu em outubro, em São Paulo, vozes influentes do setor privado, autoridades públicas e representantes de ONGs para debater soluções e políticas para os desafios econômicos globais, abrangendo temas como sustentabilidade ambiental, transformação digital, inclusão social e governança corporativa. O evento, parte oficial da presidência brasileira da Cúpula do G20 em 2024, tem como missão criar recomendações que contribuam para um desenvolvimento global sustentável.
Valor: A Deloitte tem consistentemente contribuído para as edições do B20. Por que é importante se engajar em iniciativas com foco social e em grandes eventos anuais, como o Fórum Econômico Mundial e a Conferência das Partes (COP)?
Anna Marks: Nossa aspiração global é ser uma das organizações mais respeitadas e responsáveis do mundo. Isso é realmente importante para nós, tanto em relação aos nossos clientes quanto a respeito do impacto social que queremos promover. Nós nos concentramos em como podemos gerar e amplificar esse impacto. Para isso, colaboramos em ambientes como os que o B20, o Fórum Econômico Mundial e a ONU proporcionam quando reúnem uma grande variedade de organizações de todos os setores do ecossistema – público, privado e sociedade civil – para cocriar soluções que promovam um impacto positivo. Assim, podemos desempenhar nosso papel na construção de um futuro mais sustentável, próspero e equitativo para todos.
Valor: Qual é a visão da Deloitte sobre o potencial legado do B20 Brasil, considerando a participação histórica da organização em outras edições?
Anna Marks: Temos sido realmente privilegiados por participar do B20 ao longo de vários anos. Este é o primeiro ano em que estou pessoalmente envolvida como membro do International Business Advocacy Caucus do B20 e pude ver de perto o impacto gerado. Estou muito orgulhosa do trabalho que a Deloitte desenvolveu nas duas forças-tarefa em que atuamos – especialmente a atuação da nossa equipe no Brasil. O foco foi apoiar o desenvolvimento das recomendações da força-tarefa para 2024 e pensar no futuro. Parte do legado do B20 deste ano será o foco na continuidade das recomendações e, também, na promoção de ações por meio da defesa de KPIs mensuráveis e consistentes. Olhando para o futuro, estamos focados em contribuir para a transição da presidência do B20 para sua próxima edição na África do Sul.
Valor: Por que é importante que as empresas colaborem com agentes de impacto social?
Anna Marks: Isso está diretamente relacionado a uma das minhas paixões pessoais – o trabalho desenvolvido por empreendedores e inovadores sociais é importante e inspirador. Essas organizações, muitas vezes, são microempresas, que são inovadoras, ágeis e com um apetite de risco diferente das grandes organizações. Quando atuamos com empreendedores sociais e inovadores, aprendemos muito sobre apetite e tolerância ao risco, acesso a novos mercados, novos produtos e inovações. Em contrapartida, oferecemos conhecimento, suporte e contatos, unindo os pontos e apoiando para o seu sucesso – assim, geramos um impacto social maior. Além disso, o impacto é amplificado quando colaboramos com outras grandes organizações que possuem habilidades complementares às nossas. Por exemplo, a Deloitte trabalhou com a Salesforce para lançar o UpLink, plataforma de inovação aberta do Fórum Econômico Mundial, com o objetivo de reunir empreendedores e especialistas para buscar ideias e inovações em apoio aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Juntos, atuando de forma colaborativa em todo o ecossistema, podemos apoiar melhor o empreendedorismo social e amplificar o impacto positivo gerado.
Valor: Como a Deloitte – e, em especial, o seu Board Global, que você mesma lidera – enxerga o propósito desta organização de 460 mil profissionais em mais de 150 países?
Anna Marks: Se quisermos alcançar nosso objetivo de continuar a ser uma das organizações mais respeitadas e responsáveis do mundo, precisamos colocar o propósito no centro de tudo e incorporá-lo nos serviços que oferecemos todos os dias para nossos clientes e nas atividades que desenvolvemos em paralelo para impactar positivamente a sociedade, as comunidades e o planeta. Para nós, como Board Global, o foco está em possibilitar o sucesso da nossa organização e supervisionar a execução dessa estratégia. Nesse sentido, estabelecemos um novo comitê no Board, dedicado a aprofundar nosso foco em impacto social, sustentabilidade e cultura, e na criação de um ambiente seguro, inclusivo e diverso em que as pessoas possam prosperar e ser elas mesmas.
Valor: De forma mais ampla, qual é o papel de executivos e executivas sêniores em organizações privadas para viabilizar as grandes transformações que as discussões do B20 trazem?
Anna Marks: O papel da liderança no setor privado é transformar essas discussões em realidade. Eventos como o B20 abrem espaço para discussões muito interessantes entre líderes de empresas, ONGs e governos – o desafio é sempre a tradução das recomendações em ações tangíveis. No evento paralelo ao B20 sobre a força-tarefa de Finanças & Infraestrutura do B20, do qual tive o privilégio de fazer parte na abertura, o meu “pedido” foi justamente para que cada participante saísse com uma ação prática. Se cada líder que participa de um evento como esse for inspirado por algo que ouviu ou por alguém com quem conversou, e sair com o compromisso de executar uma ação, por menor que seja, ele gera um efeito de amplificação. Portanto, o papel da liderança não é apenas participar do pensamento estratégico, contribuindo com conhecimento, capacidade e pontos de vista para criar recomendações. Cada um de nós precisa levar essas ideias e agir sobre elas dentro da sua própria organização, além de pensar como fazer mais e melhor dentro do ecossistema. Como líderes, essa é a nossa responsabilidade.
Valor: Mudando de assunto, você pode nos contar sobre sua experiência como mulher em uma posição de liderança sênior?
Anna Marks: Observando o mundo corporativo hoje, é imperativo que tanto os Comitês Executivos quanto os Boards (Conselhos) tenham maior diversidade. E globalmente, as empresas como um todo não estão indo tão bem. De acordo com o relatório mais recente da Deloitte sobre Mulheres nos Conselhos, que pesquisou mais de 18.000 organizações para entender a composição de seus conselhos, as mulheres ocupam menos de um quarto dos lugares. Além disso, apenas 6% dos CEOs e pouco mais de 8% dos presidentes de conselhos são mulheres. Portanto, há muito a ser feito por todos nós. Na Deloitte, temos programas para analisar ativamente o planejamento de sucessão, identificar a próxima geração de líderes e incluir um olhar sobre diversidade e equidade de gênero nesse processo. Avançamos em todo o mundo e particularmente no Brasil, onde a liderança local fez grandes avanços em termos de mulheres na equipe e continua seus esforços nesse sentido. Temos mais a fazer e estamos focados em ações práticas para garantir que alcancemos uma maior representação de mulheres em nossos níveis de liderança mais altos. Ao longo da minha carreira, tive a sorte de ter muitas pessoas inspiradoras – tanto homens quanto mulheres – que me deram conselhos, me apoiaram e me abriram os olhos para oportunidades. Ter ótimos mentores e líderes é uma parte importante para alcançar a equidade de gênero nas estruturas de liderança. Além disso, precisamos ouvir as necessidades de nossas profissionais, como introduzir maior flexibilidade no trabalho e fornecer as condições para permitir que as mulheres desenvolvam todo o seu potencial de liderança. E esperamos, dessa forma, fazer o progresso necessário.