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Crise climática evidencia a importância de fortalecer os agricultores e os cinturões verdes das cidades | ESG

Redação
por Redação

O alimento sempre esteve no centro do ativismo dos anos 1960, baseado na emergência da consciência ecológica. Não à toa, um dos mantras da sustentabilidade é produzir e consumir localmente. Quase 60 anos depois, o bordão se faz mais urgente do que nunca. Só que para fortalecer sistemas de abastecimento locais é preciso criar condições de manutenção dos agricultores nos cinturões verdes das grandes cidades em contexto de crise climática.

Além de serem menos intensivos em emissões, os arranjos locais de produção de alimentos minimizam o impacto de desabastecimento por emergências climáticas ou interrupções logísticas. Indo ao encontro de tais potencialidades, o Plano Nacional de Abastecimento Alimentar “Alimento no Prato” (Planaab) foi lançado pelo presidente Lula em 16 de outubro, Dia Internacional da Alimentação. E o fortalecimento das redes locais de abastecimento alimentar é uma das iniciativas estruturantes do Planaab.

Mas, se o pequeno agricultor, que é quem coloca o alimento no prato do brasileiro, já enfrenta desafios estruturantes – como evasão de jovens, falta de acesso a assistência técnica, tecnologias e crédito rural –, a intensificação de eventos extremos o torna ainda mais vulnerável. Isso é o que evidencia o estudo sobre risco climático para agricultores familiares na Bacia do Alto Tietê, realizado em 2022 pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas.

A pesquisa aponta tendências de intensificação dos eventos extremos, com aumento da chuvas fortes em algumas áreas e maior número de dias secos em outras. Em relação aos aspectos de vulnerabilidade, destacam-se a dependência de práticas convencionais de produção, baixa diversificação de culturas produzidas e pouco acesso a políticas de adaptação, como o Proagro Mais, que exonera o produtor de obrigações financeiras relativas a créditos rurais em caso de ocorrência de fenômenos climáticos.

Somado a isso, o alto percentual de áreas de preservação permanente não vegetadas e a pressão da urbanização, que compete pelo uso do solo e gera conflitos pelo uso da água com o aumento da demanda para abastecimento urbano, agravam o cenário. Esses dados mostram que o risco de impacto das mudanças climáticas se relaciona não apenas com o clima e suas variações, mas também com características sociais, econômicas, ambientais e políticas.

Ou seja, para estruturar estratégias de adaptação aos agricultores é preciso, em um primeiro momento, compreender de quais formas uma ameaça climática pode impactar o desenvolvimento da atividade agrícola da forma como ela é realizada atualmente. Em segundo lugar, avalia-se quais características, individuais ou coletivas, podem representar maior ou menor grau de vulnerabilidade e exposição à dada ameaça.

A criação de condições favoráveis para a produtividade dos cinturões que abastecem cidades depende de ações de adaptação às mudanças climáticas, exigindo estratégias que integrem o fortalecimento das capacidades locais, cooperação entre produtores e implementação de políticas públicas voltadas para a resiliência climática.

Ana Moraes Coelho é coordenadora do Programa Sustentabilidade nas Cadeias de Valor do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Escola de Administração da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (EAESP-FGV).

Ana Moraes Coelho é coordenadora do Programa Sustentabilidade nas Cadeias de Valor da do Centro de Estudos em Sustentabilidade da EAESP-FGV — Foto: Divulgação

(*) Disclaimer: Este artigo reflete a opinião do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

Fonte: Externa

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