Artigo assinado por Paulo Gala*
O principal destaque de alta em fevereiro foi a rubrica “educação” com um aumento expressivo nas mensalidades de cursos regulares, ensino médio e creches. Os reajustes nas mensalidades escolares no início do ano configuram altas sazonais e não devem se repetir ao longo do ano.
Apesar dessas altas, algumas boas notícias podem ser identificadas no índice. Os serviços subjacentes, caracterizados pela menor volatilidade, apresentaram uma desaceleração, passando de 0,76% em janeiro para 0,44% em fevereiro. Além disso, a dispersão das altas caiu de 65% para 57%, o que sugere uma menor generalização dos aumentos.
Esses dados mostram que um mercado de trabalho mais aquecido, com menor índice de desemprego, não parece estar pressionando a inflação brasileira. A parte sazonal da inflação piorou, e a estrutural melhorou.
Esse cenário deve impactar as decisões do Banco Central, que pode reconsiderar a indicação futura de cortes de 0,50%, bem como a permanência do chamado “forward guidance”.
Na próxima reunião, a Taxa Selic deve cair de 11,25% para 10,75%, mas as indicações de cortes futuros devem mudar. Provavelmente o comprometimento com cortes em reuniões à frente deve ser substituído por apenas mais um corte esperado de 0,5% na reunião de 8 de maio. Depois disso, o Banco Central deve entrar em modo stand by, ainda cortando juros, mas somente quando o contexto permitir, sem indicações sobre passos futuros.
Nos Estados Unidos, o índice cheio de inflação de fevereiro ficou em 0,4%, em linha com as expectativas. O núcleo da inflação teve alta também de 0,4%, um pouco acima do 0,3% esperado pelo mercado. No entanto, o super core, um núcleo que exclui variações significativas, como energia e alimentos, e as variações relacionadas a custos de habitação, apresentou melhoras.
A inflação super core abrange o preço de serviços, como cabeleireiros, advogados ou encanadores. É uma medida preferida pelo Federal Reserve (Fed) ao tentar diagnosticar o ritmo da inflação e a saúde atual e futura da economia. Os dados de fevereiro contribuíram para uma leitura mais positiva da situação de inflação nos EUA e ajudaram a consolidar a visão de que os cortes de juros começarão em junho.
A expectativa agora gira em torno da quantidade de cortes, com a possibilidade de até quatro reduções, levando a taxa de juros por lá de 5,5% para 4,5% no segundo semestre deste ano.
Na Europa, diretores do BC trouxeram notícias de possíveis cortes de juros no verão. A atividade mais fraca e a queda dos índices de inflação contribuem também para uma flexibilização monetária na Zona do Euro.
- Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de fevereiro registrou 0,83%, superando as expectativas de 0,78%, o que é significativo diante da meta anual de inflação de 3%. As expectativas de inflação para o ano permanecem em 3,8%
- O destaque de alta em fevereiro foi a educação, com expressivo aumento nas mensalidades de cursos regulares, ensino médio e creches. Reajustes nas mensalidades escolares no início do ano são considerados altas sazonais e não devem se repetir ao longo do ano
- Serviços menos voláteis e não sazonais apresentaram desaceleração, passando de 0,76% em janeiro para 0,44% em fevereiro, indicando menor volatilidade. A dispersão das altas caiu de 65% para 57%, sugerindo menor generalização dos aumentos
- Um mercado de trabalho mais aquecido, com menor desemprego, não parece estar pressionando a inflação brasileira. A parte sazonal da inflação piorou, mas a estrutural melhorou, influenciando as decisões do Banco Central. A Taxa Selic deve cair para 10,75% na próxima reunião do BC
- Nos Estados Unidos, o índice cheio de inflação ficou em 0,4% em fevereiro, alinhado com as expectativas. O núcleo da inflação nos EUA subiu 0,4%, um pouco acima do 0,3% esperados pelo mercado. O super core, excluindo variações significativas como energia e alimentos, mostrou melhoras nos dados de fevereiro nos EUA
- Os dados positivos nos EUA consolidaram a visão de cortes de juros a partir de junho, com a expectativa de até quatro reduções e uma queda na taxa de juros de 5,5% para 4,5% no segundo semestre
*Economista-chefe do Banco Master de Investimento. Graduado em Economia pela FEA USP, Gala é mestre e doutor em Economia pela Fundação Getulio Vargas de São Paulo, instituição em que leciona desde 2002 e na qual foi coordenador do Mestrado Profissional em Economia e Finanças, entre 2008 e 2010. Foi pesquisador visitante nas universidades de Cambridge (RU) e Columbia (NY) e atuou como economista-chefe, gestor de fundos e CEO em instituições do mercado financeiro em São Paulo.