A proximidade da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP30, a ser realizada em novembro do próximo ano em Belém (PA), tem movimentado as áreas de comunicação de várias organizações. “É uma oportunidade única para as empresas destacarem seu compromisso com práticas sustentáveis e sua conexão com as questões regionais e globais”, avalia a professora de comunicação Ivana Oliveira, da Universidade Federal do Pará. Ela alerta, porém, para a necessidade de transparência e coesão entre prática e discurso, para evitar críticas de greenwashing ou alienação.
“Num momento em que todos os olhos estão voltados para a COP30, as empresas enfrentam o desafio de garantir plena coerência entre as mensagens e os compromissos assumidos ao longo de suas histórias na agenda de sustentabilidade”, afirma. Segundo ela, as mensagens precisam ser pensadas e construídas a partir do respeito a uma identidade coletiva e de diversas interações culturais e sociais. “Tenho percebido um esforço de busca por uma narrativa que contemple indígenas, ribeirinhos, quilombolas, caboclas e de outros grupos que formam esse tecido social amazônico”, diz.
Entre as ações empreendidas para reforçar seu compromisso com uma transição energética sustentável, a Hydro, empresa global de alumínio e energias, que tem grande parte de suas operações no Pará, patrocinou e participou da Missão COP30, uma formação para comunicadores com conteúdo específico para a conferência, desenvolvida pela Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) e pela Plataforma de Ação Para Comunicar e Engajar, do Pacto Global da ONU – Rede Brasil. “O curso teve como objetivo oferecer subsídios para que as empresas se comuniquem melhor, se engajem de forma estruturada e componham seus planejamentos de comunicação e participação na COP30”, afirma Lydia Damian, diretora de comunicação da Hydro. Neste ano, a companhia participou de eventos considerados como ensaios para a COP30, como a Conferência Amazônia e Novas Economias e as conferências Ethos. “O objetivo é transformar realidades por meio do diálogo e do protagonismo comunitário na Amazônia”, diz Damian.
Também de origem paraense, a Alubar Metais e Cabos S.A., maior fabricante de cabos elétricos de alumínio da América Latina, vai na mesma direção ao estabelecer como prioridade uma maior aproximação com a comunidade local. “Fazemos uma atuação significativa junto à sociedade, pois nosso negócio tem como premissa o desenvolvimento da mão de obra local”, afirma a diretora de comunicação da empresa, Mônica Alvarez.
Localizada no centro histórico de Belém, a Casa Rosada, datada do século XVIII e cuja arquitetura é atribuída ao italiano Antonio Landi, foi restaurada pela Hydro e deverá promover eventos específicos para a COP30. “Estamos em fase de planejamento e a ideia inicial é termos ações na Casa Rosada. Avaliamos também parcerias com a Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa) e a Associação Brasileira do Alumínio (Abal), em que um dos pontos é a comunicação da empresa com a sociedade. Os projetos deles visam um público que não estará nas zonas da ONU”, diz Alvarez.
Lydia Damian, diretora de comunicação da Hydro: “Patrocínio e participação em curso com conteúdo específico para a COP30” — Foto: Divulgação
Há desafios, porém, a serem enfrentados pela Alubar em relação aos eventos ambientais. “Reconhecemos que a nossa vulnerabilidade está atrelada à nossa localização, pois fazemos parte de um complexo industrial que tem grande visibilidade junto aos veículos de comunicação locais e à comunidade do entorno”, diz Alvarez.
Para a Natura, estar estabelecida na capital paraense pode facilitar a comunicação durante a COP30. “Faremos projetos voltados ao público jovem e às comunidades com as quais já trabalhamos, incluindo eventos paralelos à COP, com foco na conscientização cidadã sobre os desafios globais atuais, como a crise climática, a circularidade e a perda da biodiversidade, e teremos espaços de experimentação de nossos produtos desenvolvidos a partir da sociobiodiversidade”, afirma Ana Costa, vice-presidente de sustentabilidade, jurídico e reputação corporativa da Natura, que ressalta o fato de a empresa atuar no Pará há mais de 24 anos.
Sobre o legado a ser deixado, a executiva destaca a importância de se comprovar que negócios regenerativos são uma das possibilidades reais para a transformação sistêmica. “Há 32 anos, desde a Eco-92, a Natura começou a escrever um novo capítulo que a coloca até hoje na vanguarda da agenda ambiental. Oito anos depois, em 2000, estabelecemos na Amazônia um modelo de negócios baseado na bioeconomia da sociobiodiversidade”, diz ela.
Costa também aponta um bom momento para a empresa em relação à data da conferência. “Ocorrerá em um ano muito importante para nós, quando celebramos outros dois marcos emblemáticos: os 10 anos do Acordo de Paris e os 25 anos do lançamento de Natura Ekos, linha que marcou o início da nossa jornada na Amazônia”, diz ela.