Nesta Black Friday, a principal data do ano para o comércio eletrônico, o brasileiro comprou mais em volume, mas não quis comprometer o orçamento.
Em vez de eletrodomésticos e eletrônicos de maior valor agregado, o consumidor deu preferência a bens não duráveis, como comida, bebidas, cosméticos e outros itens de cuidado pessoal.
Os resultados, apesar de positivos na aparência, vêm na sequência de dois anos de queda no movimento da Black Friday, que não voltou a apresentar o sucesso demonstrado no pico da pandemia de covid-19, quando vigoravam políticas de isolamento social.
De acordo com a Nielseniq, as vendas que ocorriam na Black Friday estão cada vez mais diluídas ao longo do mês de novembro. “Entre os destaques, as categorias de perfumaria e cosméticos continuam liderando, mas itens alimentícios, como azeites, e suplementos também apresentam performance consistente”, afirma Andrea Stoll, a responsável pelo painel de dados sobre e-commerce da empresa.
Nos dados parciais do Itaú, que fez uma divisão por categoria, os alimentos tiveram destaque. A quantidade de compras registradas de gêneros alimentícios subiu 151%, em relação aos dados de 2023. O levantamento considera todas as transações faturadas em maquininhas da Rede, seja na modalidade presencial ou na on-line.
Preços inflados e descontos pequenos
A expectativa de ofertas foi frustrada, porém, por preços inflados ou descontos pequenos. O preço médio da picanha vendida nesta sexta a R$ 77,80, por exemplo, teve aumento de 12,34%, segundo monitoramento feito pela “Folha de S.Paulo” em parceria com o Buscapé.
Ao acompanhar o preço de 14 produtos nas sextas-feiras dos últimos três meses, a “Folha de S.Paulo” também identificou aumentos em cerveja, TV, celular, notebook, produtos com suporte para Alexa, videogame, câmera fotográfica, fritadeira elétrica, aspirador de pó, câmera digital, geladeira, fogão e tênis.
Os vestuários, incluindo os calçados, tiveram a pior performance nas vendas, entre as categorias monitoradas pelo Itaú. A procura por roupas iniciou o dia em queda, antes de passar a um crescimento de 1%, na pior performance medida pelo banco.
Também tiveram alta os gastos com educação (108%), puxados pelos livros, e saúde (26%), destacando os itens de cuidado pessoal.
A sexta repetiu a tendência de volume de vendas do esquenta para a Black Friday, iniciado na quinta-feira (28). No total, foram mais de R$ 1,7 bilhão em transações no e-commerce brasileiro, 3,3 milhões de pedidos e ticket médio de R$ 482,32, de acordo com a plataforma Hora a Hora, da Confi Neotrust, empresa de inteligência de dados, e da ClearSale.
Por outro lado, o movimento em supermercados, lojas de rua e shoppings de São Paulo foi discreto. Em estabelecimentos visitados pela reportagem nesta sexta, consumidores que saíram de casa não demonstraram grande entusiasmo com as promoções.
Embora o consumidor procure comidas e bebidas, foram os produtos de moda masculina, informática e eletrônicos que estão apresentando a maior quantidade de promoções nesta Black Friday, de acordo com a plataforma Promobit.
A plataforma identificou 341 ofertas de produtos de moda masculina, com média de desconto de 45%, 321 ofertas e desconto médio de 33% em produtos de informática, e 281 ofertas de eletrodomésticos, com média de 27% de redução.
Nas 18 primeiras horas desta sexta foram registradas 4.900 tentativas de fraude no comércio eletrônico barradas pela plataforma de segurança em e-commerce Clearsale. As fraudes deixariam um rombo de R$ 7,5 milhões, uma redução de 25% na comparação com o mesmo período no ano passado.
Os estelionatários usam itens de custo médio, para equilibrar ganho e chance de a vítima acreditar no golpe. O valor médio nas tentativas de fraude foi de R$ 1.534,60.
Os itens mais citados nos sites e anúncios falsos foram instrumentos musicais (2,48%), jogos (2,09%), produtos de informática (1,26%), smartphones (1,09%) e acessórios eletrônicos (1,08%).
O superintendente comercial da ClearSale, Matheus Manssur, diz que criminosos estão vendendo dados vazados de acesso a plataformas de e-commerce, para que outros estelionatários façam compras em nome da vítima. “O mercado e os consumidores precisam estar atentos.”