O maior país do mundo é a Rússia — que é tão grande que se estende por dois continentes, Ásia e Europa. Porém, mesmo tamanha extensão territorial, não é a nação que abriga a maior população: ficam com a disputa pelo título de país mais populoso do mundo a Índia e a China.
Os chineses foram maioria entre 1950 e 2022 e têm hoje aproximadamente 1,425 bilhão de habitantes. Porém, no ano passado, a Índia superou o número, alcançando a marca de 1,428 bilhão de pessoas, se tornando oficialmente o país mais populoso atualmente. Os dados são do “Statistical Yearbook“, elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU).
A densidade populacional da Índia é de 413,7 habitantes por km², enquanto a da Rússia é de apenas 9 hab./km². A do Brasil é de 23,8 hab./km², segundo o IBGE (2022).
Os 10 maiores países do mundo (em extensão territorial)
Colocação | Países | Área da superfície em km² (em milhões) |
1 | Rússia | 17,098 |
2 | Canadá | 9,984 |
3 | Estados Unidos | 9,834 |
4 | China | 9,600 |
5 | Brasil | 8,516 |
6 | Austrália | 7,946 |
7 | Índia | 3,287 |
8 | Argentina | 2,796 |
9 | Cazaquistão | 2,725 |
10 | Algéria | 2,382 |
Os 10 países mais populosos do mundo
Colocação | País | População |
1 | Índia | 1,428 bilhão |
2 | China | 1,425 bilhão |
3 | Estados Unidos | 340 milhões |
4 | Indonésia | 277,5 milhões |
5 | Paquistão | 240,5 milhões |
6 | Nigéria | 223,8 milhões |
7 | Brasil | 216,4 milhões |
8 | Bangladesh | 173 milhões |
9 | Rússia | 144,4 milhões |
10 | México | 128,5 milhões |
Mais território, mas menos gente
Desde o fim da União Soviética, em 1991, a Rússia tenta frear a crise demográfica que resulta em um déficit populacional: os russos morrem mais e nascem menos, encolhendo a população.
Só nos últimos anos, de 2020 a 2023, a Rússia perdeu entre 1,9 milhão e 2,8 milhões de habitantes, mostrou um levantamento do “The Economist“. As razões foram desde mortalidade pela covid-19 na pandemia, mortes na guerra contra a Ucrânia e a fuga de cérebros pela mobilização militar.
Por conta disso, Moscou vive sua pior crise de mão de obra em décadas. Isso deixou as empresas russas com escassez de trabalhadores em todas as categorias, de programadores e engenheiros a soldadores e profissionais de prospecção de petróleo, ocupações necessárias para impulsionar a economia.
Além disso, a Rússia é tanto favorecida quanto desfavorecida por seu vasto território.
Por um lado, boa parte do país é praticamente inabitável — principalmente devido ao clima, que conta com frio rigoroso que pode chegar aos -60°C durante à noite na província da Sibéria. Isso faz com que mais de 75% da população russa viva na parcela europeia do país, que corresponde cerca de 25% do território total. É onde ficam as metrópoles, como Moscou e São Petersburgo.
Por outro lado, a Rússia abriga uma enorme quantidade de reservas de recursos naturais que movem sua economia, que ficam em grande parte localizadas justamente nas regiões mais inóspitas do país, conforme aponta Valdir da Silva Bezerra, mestre em Relações Internacionais pela Universidade de São Petersburgo.
“A porcentagem de exportação de combustíveis, petróleo e gás natural passa da metade do total de receitas da Rússia. Eles têm tentado diversificar a economia, mas não tiveram muito sucesso. Os minérios e commodities são o que mantêm a economia em pé”, diz.
A Rússia foi o segundo maior produtor de gás natural do mundo em 2021, concentrando cerca de 17% da produção global. Fica atrás apenas dos Estados Unidos, que tem 23%, segundo dados da BP. Esse cenário, porém, mudou recentemente por conta das sanções internacionais impostas contra a guerra na Ucrânia — mesma razão pela qual as instituições de pesquisa têm deixado de atuar no país, não atualizando informações sobre a economia russa.
Em relação ao petróleo, fica em terceiro lugar, responsável por 6,7% da capacidade mundial, aponta o “Statistical Review of World Energy 2023“, do Energy Institute. As exportações do petróleo bruto vão, principalmente, para a China e outros países da Europa.
Para a economia em si, principalmente em se tratando de recursos minerais, as consequências são mais positivas, diz Angelo Segrillo, historiador pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) com foco na Rússia.
“As longas distâncias trazem alguns problemas logísticos para os transportes e administração, mas os principais problemas seriam potencialmente no campo político, pois as enormes distâncias tornam mais difícil administrar centralmente de maneira uniforme e podem gerar tendências centrífugas”, diz Segrillo.
Mais gente, mas menos riqueza
Por outro lado, a Índia tem muita gente — e, mesmo assim, pouca riqueza. São 1,428 bilhão de habitantes com uma população em idade ativa de mais de 900 milhões, de acordo com dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) de 2021. O governo indiano espera que esse número chegue ao 1 bilhão já na próxima década.
Isso faz com que a Índia se torne uma fonte abundante de mão de obra. Charles Zimmermann, analista globalthinker com foco na Índia, aponta que 45% da força de trabalho indiana está empregada no setor agrícola, historicamente forte no país.
Porém, a pobreza extrema é um grande obstáculo a ser superado para grandes mudanças. O salário mínimo indiano é de aproximadamente 5.340 rúpias indiana por mês, algo em torno de R$ 341,82 (cotação de 7 de junho).
O Produto Interno Bruto (PIB) per capita indiano é de US$ 2,73 mil, quatro vezes menor que o índice do Brasil, de US$ 11,35 mil, a título de comparação. Com a Rússia, a discrepância é um pouco maior, já que por lá o PIB per capita é de US$ 14,39 mil.
Zimmermann lembra, também, do sistema de castas indiano que define, por hereditariedade, a posição social nas quais as famílias estarão inseridas. “A Índia historicamente tem o sistema de castas que é muito difícil de ser mudado. Leva gerações e gerações para mudar essa distribuição”, diz.
Na contramão, políticas públicas do governo indiano tentam reverter o cenário. Isso envolve investimentos bilionários em educação, saúde, eletricidade e até em distribuição de grãos para os habitantes.
Recentemente, o NITI Aayog, órgão indiano responsável pelo desenvolvimento econômico, anunciou que 248 milhões de habitantes foram retirados da “pobreza multidimensional” na última década — que se baseia em indicadores educacionais, de saúde, acesso ao saneamento básico, fome e outros. O objetivo do governo é reduzir pela metade o número de pessoas nessa situação até 2030.
“O governo atual tenta mudar os rumos da economia para industrializar o país”, diz Zimmermann. O objetivo é atrair mais investimentos externos ao aprimorar a infraestrutura, segundo o analista.
Dados divulgados na última semana mostram que a economia indiana cresceu 7,8% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, impulsionada pela recuperação do setor industrial, de produtores de commodities. Analistas atribuem o ímpeto de crescimento na estratégia de investimentos do governo nos últimos dois anos. Em fevereiro, o governo definiu a alocação de despesas de capital em um recorde de 11,11 trilhões de rúpias (US$ 133,98 bilhões) para o ano fiscal 2024, que termina em março de 2025, embora o investimento privado continue fraco.