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Se viver uma grande mudança já é desafiador, enfrentar tantas ao mesmo tempo é como ser engolida por um tsunami. Não minimize o peso do que está vivendo: o desemprego do seu marido, as necessidades crescentes dos seus pais e as suas próprias questões de saúde formam um turbilhão que ninguém deveria enfrentar sozinha. Reconheça que o que sente é legítimo. Não há espaço para culpas ou cobranças desmedidas.
E, sim, há formas de navegar por esse caos com mais leveza e até ressignificar esse momento. Você já percebeu, por exemplo, que o trabalho, além de demandante, pode ser também um refúgio. Por isso, tenha uma conversa franca com o seu gestor. Cobrar de si mesma a mesma performance de antes é injusto. Eu sei que falar sobre vulnerabilidades no ambiente corporativo ainda é um tabu, mas romper com isso é um ato de coragem que pode ser surpreendente. Daí a importância de alinhar expectativas consigo e com o seu líder.
Líderes não são telepatas, e muitos estão dispostos a colaborar quando entendem as necessidades do time. Prepare-se para essa conversa, proponha alternativas: horários flexíveis, home office, ajustes nas metas, ou até uma licença breve. Essa conversa, além de prática, fortalece vínculos e pode abrir portas para soluções que você nem imaginava, como um benefício disponível ou ajuda na redistribuição de tarefas.
É verdade que nem todos os líderes estão preparados para essa troca, embora eu faça parte de um movimento das organizações cada vez mais conscientes da necessidade de capacitar lideranças justamente porque a “armadura de super-herói” é um dos maiores causadores de adoecimento mental no trabalho. Se o seu gestor não for acolhedor, lembre-se de que ele não é a única alternativa. Há outras estratégias importantes de enfrentamento que você pode lançar mão.
Pedir ajuda ao time é uma delas. Quem disse que os seus pares e a sua equipe não podem ser um pilar de segurança e apoio? Ora, muitas vezes, nós passamos mais tempo com os nossos colegas de trabalho do que com a própria família, mas construímos barreiras invisíveis que nos distanciam deles. Percebemos a mudança de comportamento de um ou de outro e criamos narrativas para explicá-las em vez de sermos mais solidários e ajudá-los nessas inevitáveis travessias da vida. Perdemos, assim, potência e saúde.
Por isso, desconstruir mais esse tabu, pedir ajuda e compartilhar desafios é tão importante. Fortalece relações e traz alívio. Além disso, enriquece o ambiente de trabalho, ampliando a empatia, a confiança, a colaboração e até a inovação.
Outra ação importante é ativar sua outra rede de apoio, a social. A sua comunidade – amigos, familiares ou até serviços especializados – é um aliado imprescindível nesse momento. Não se isole. Divida responsabilidades, não menospreze ajuda pontual e procure aceitar o apoio de quem se dispõe a estar ao seu lado. Isso é um ato de autocuidado e sabedoria, pois somos seres dependentes, e cultivar nossas conexões ajuda a ventilar dores, a ganhar novas perspectivas e a dar novos significados à realidade. Não tente controlar ou dar conta de tudo sozinha.
Mesmo com tantas demandas e dentro do que for possível na sua rotina, pensar sobre hábitos que te ofereçam emoções positivas é também uma ótima estratégia para encontrar algum conforto, dentro do desconforto: caminhar ao ar livre, ouvir sua música favorita, cuidar das plantas, alongar-se ou meditar. Toda atividade que nos oferece a sensação de “não ver o tempo passar” é bem-vinda nesse momento. Pequenos prazeres programados criam um eixo interno em meio ao caos, e é isso que vai te sustentar e te ajudar a apoiar os outros.
Estratégias de enfrentamento não ajudam somente no centramento ou na reorganização, mas também na ressignificação da vida.
Eu sempre digo que dor compartilhada é dor diminuída. E você está no caminho certo.
Mariana Clark é psicóloga, especialista em saúde mental, perdas e luto no contexto organizacional e escolar.
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Esta coluna se propõe a responder questões relativas à carreira e a situações vividas no mundo corporativo. Ela reflete a opinião dos consultores e não a do Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.