Aos 52 anos, Leonardo Giestas mudou para trabalhar dois anos em Portugal. O capixaba morava na cidade de Vitória, no Espírito Santo, e trabalhava na área financeira em uma empresa local de exportação e indústria de solúvel que o convidou, em 2016, para participar de um projeto de exportação de cápsulas da Europa para o Brasil. O projeto não seguiu adiante, mas despertou o amor de Giestas por Portugal que está até hoje, oito anos depois.
Giestas é formado em Agronomia pela Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, mas em Portugal não conseguiu seguir em sua área e se redescobriu em um novo ramo. “Eu entrei no ramo imobiliário porque foi a oportunidade que apareceu para alguém na casa dos 50 anos. Mas eu me redescobri e estou adorando trabalhar como corretor de imóveis. Já estou seis anos como e tem sido uma experiência incrível”, destaca.
Entretanto, durante um dia de trabalho que parecia ser comum, Giestas passou por um caso de xenofobia, em 2019, tentando vender a casa de um português.
“A casa era de € 2,5 milhões (equivalente a R$ 13,91 milhões na cotação de 10 de maio) e quando peguei os documentos vi que a casa estava com problemas, pois a irmã dele e o marido dela eram sócios e tinham dívidas no banco. Quando eu voltei e disse que tínhamos que resolver a situação antes, que ele tinha que assinar um documento junto com a irmã e o cunhado, ele se irritou e começou a falar: ‘você é brasileiro, um aldrabão (expressão local para trapaceiro), está inventando coisas para ter mais dinheiro’. Então precisei pedir para meu supervisor português intervir”, explica.
De acordo com a Comissão para a Igualdade e contra a Discriminação Racial de Portugal, as características mais presentes nas queixas de xenofobia contra os estrangeiros são nacionalidade (39,2%), seguida pela cor da pele (17%) e pela origem étnico-racial (16,9%). No topo das queixas de nacionalidade os brasileiros aparecem com 26,7%.
Mas isso não diminui o amor de Giestas por Portugal. Para ele, a xenofobia não é uma característica única do país, na verdade, ele acredita que esse é um problema em qualquer lugar, inclusive, no Brasil.
“Essas são questões muito pontuais. Eu entendo, irrelevo e tento contornar. Os brasileiros vêm para Portugal dispostos a arregaçar manga e trabalhar. Então, a gente acaba incomodando”, afirmou Giestas . “Mas eu amo morar aqui, é o melhor lugar para morar, a comida não é cara, o vinho é barato, o clima é ameno, daqui você pode ir para qualquer lugar do mundo”.
Atualmente, 360 mil brasileiros moram em Portugal, sendo 250 mil só na capital Lisboa. O país é o segundo que mais abriga brasileiros no mundo, ficando atrás somente dos Estados Unidos que conta com 1,9 milhão, segundo o Ministério de Relações Exteriores.
Para Giestas, a qualidade de vida e a segurança são os principais motivos para que os brasileiros mudem de país. Divorciado, o corretor de imóveis mora sozinho em Portugal e afirma que sempre incentiva seus dois filhos, um de 24 e outro de 29, a se mudarem também.
O brasileiro acredita que a maior dificuldade está no fato dos alto custo de moradia. “Os brasileiros acham que vão chegar aqui e ficarem ricos, mas não vão. O país está na moda. Então, os aluguéis estão crescendo muito, a área vem valorizando. Mas esse é o único problema. O transporte, por exemplo, não é caro. Eu pago € 30 (R$ 166,90) por mês e posso andar em todos os munícipios [da região metropolitana de Lisboa], sem pagar nada a mais”, destaca.
Atualmente, o salário-mínimo português é de € 820 (R$ 4.562) e salário em Portugal são divididos em 14 meses. Já o aluguel de um apartamento de um quarto no centro de Lisboa, por exemplo, pode chegar a € 942,26 (R$ 5.240), segundo o Numbeo, banco de dados de custo de vida que recebe contribuição de preços do próprio consumidor.
De acordo com o banco de dados, as cidades com maior custo de vida em Portugal são:
- Lisboa;
- Aveiro;
- Porto;
- Coimbra;
- Braga.
Localizado na Península Ibérica, com 10,55 milhões de habitantes e uma densidade demográfica de 115,4 habitantes/km², Portugal possui a maior concentração populacional junto à faixa litoral, segundo o último censo de 2011.
O país é considerado um dos dez locais mais seguros do mundo, de acordo com o Global Peace Index 2023.
Já a taxa de desemprego no país é de 6,8% e a taxa de emprego da população ativa é de 54,0%, de acordo com dados mais recentes do Consultado Português.
Precisa de visto para Portugal?
Brasileiros não precisam de visto para entrar em Portugal, por um período de 90 dias, nos casos de:
- Turismo;
- Negócios;
- Cobertura jornalística;
- Missão cultural.
Entretanto, o governo português afirma que para entrar no país é importante que a pessoa tenha:
- Passaporte com validade mínima de 3 meses ao tempo que pretende ficar no país;
- Passagem de ida e volta;
- Comprovante do local que pretende ficar;
- Documento que comprove trabalho no Brasil.
Desde 2023, Portugal permite que um imigrante procure emprego no país com o visto para procura de trabalho. Podendo ficar por 120 dias que podem ser prorrogáveis por mais 60.
Existem também vários tipos de vistos que variam de acordo com o motivo da mudança e são divididos em três categorias:
- Visto de residência: destinado aqueles que pretendem ficar em um período superior a 1 ano, divididos em subcategorias de estudos, trabalho altamente qualificado, trabalho subordinado, etc).
- Visto de estada temporária: destinado aos requerentes cujas atividades em Portugal tenham período inferior a 1 ano, divididos em subcategorias como estudos, trabalho sazonal, etc).
- Visto SCHENGEN: destinado aos requerentes não brasileiros, que irão a Portugal para turismo ou viagens de negócios. Ele é aplicável apenas para uma lista específica de nacionalidades.
O visto deve ser solicitado pela VFS Global, parceira do Ministério de Relações Exteriores português e será preciso pagar uma taxa de R$ 629,88 (taxa consular R$ 481,00 + taxa de transferência R$ 15,27 + taxa de processamento R$ 133,61).