Em setembro, 43,8% dos imóveis rurais contavam com cobertura de telecomunicações em 4G ou 5G no Brasil, e a área de uso agrícola conectada alcançou 23,8%. É um crescimento significativo em relação a abril, a área de cobertura estava em 19%, contemplando 37% dos imóveis rurais. Os dados são da ConectarAgro, associação que reúne fabricantes de equipamentos agrícolas, empresas de tecnologia e operadoras de telecomunicações com o objetivo de promover a conectividade no campo.
Apesar do avanço, o Brasil ainda está distante do índice de 70% de conectividade nas áreas rurais nos Estados Unidos, o maior concorrente global do agronegócio brasileiro. “A conectividade alcança os grandes produtores agrícolas, que possuem condições financeiras para promover a conexão de suas propriedades, mas o médio e o pequeno produtor, não”, diz Paola Campiello, presidente da ConectarAgro.
A associação defende o uso de recursos não reembolsáveis – na forma de subvenção – do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust) para esse objetivo. Em novembro, representantes da entidade farão uma reunião com o Conselho Gestor do Fust para apresentar a proposta.
Sistema amplia de 10% a 15% o total de plantas na área e reduz manobras do trator em 20%
O fundo é formado por contribuições obrigatórias das empresas de telecomunicações e tem como propósito levar conectividade a regiões remotas. “A infraestrutura disponibilizada para conectar uma propriedade rural também atende moradores e escolas de pequenas cidades e vilas que estão no entorno da propriedade”, diz Campiello.
A conectividade das propriedades rurais gera oportunidades de ganhos de produtividade, uma vez que os produtores passam a ter acesso a uma série de plataformas desenvolvidas com base em inteligência artificial (IA) e internet das coisas (IoT) que promovem a agricultura de precisão, como a aplicação localizada de fertilizantes e defensivos agrícolas, e acesso a dispositivos capazes de aprimorar o gerenciamento de ativos, como máquinas e equipamentos, e também fornecer dados em tempo real sobre meteorologia e indicadores econômicos, entre outros.
“A tecnologia no campo melhora a produtividade e também a sustentabilidade ambiental da produção, permitindo o uso mais eficiente dos recursos”, complementa Ana Euler, diretora-executiva de negócios da Embrapa, uma das principais desenvolvedoras de ferramentas digitais para o agro brasileiro.
A Coopercitrus, cooperativa que reúne mais de 38 mil agropecuaristas de diversas culturas em São Paulo, Minas Gerais e Goiás, desenvolveu para seus associados um projeto de conservação do solo que utiliza ferramentas de IA. Um drone sobrevoa a área de plantio para mapear a declividade do terreno. Aos dados coletados se soma a analise física do solo, para determinar suas características. Com base em algoritmos desenvolvidos por cientistas de dados, é estabelecido o caminho da água e são desenhados o mapa de plantio e as linhas de tráfego das máquinas agrícolas, de forma a melhorar o aproveitamento do terreno e reduzir a erosão.
O plano de plantio individualizado para cada propriedade é disponibilizado em nuvem e alimenta um aplicativo de piloto automático que é acoplado aos tratores, mesmo que antigos. “O sistema permite ampliar entre 10% e 15% a quantidade de plantas no mesmo terreno e reduz em 20% as manobras dos tratores, diminuindo o gasto de diesel”, explica Fernando Degobbi, CEO da Coopercitrus.
Um estudo realizado pela Unicamp para a operadora TIM e a fabricante de equipamentos Case avaliou o desempenho de uma fazenda de grãos em Água Boa (MT). Na safra 2022/23, a primeira após a conexão à internet, o melhor aproveitamento dos recursos digitais acoplados aos equipamentos permitiu que as colheitadeiras trabalhassem menos horas para realizar o mesmo serviço, gerando uma economia de 25% no consumo de combustível e uma redução de 10% na emissão de gases poluentes. O apoio da tecnologia embarcada também permitiu um ganho de produtividade de 18% em relação a safra anterior.
A TIM atende 40 grandes grupos da agropecuária nacional, oferecendo um modelo comercial onde o produtor ajuda a financiar a instalação da infraestrutura e ainda assina um contrato de 60 meses de consumo de serviços de telecomunicações da operadora. “O custo total do contrato equivale a 25% de uma saca de soja por hectare”, diz Alexandre Dal Forno, diretor de desenvolvimento de mercado IoT & 5G da TIM. Em outubro, o preço médio da saca de soja estava em R$ 130, dependendo da região produtora. Os grandes produtores brasileiros produzem entre 60 e 70 sacas de soja por hectare.
A TIM agora está levando a mesma estratégia comercial para a negociação com cooperativas agrícolas do Paraná e de Santa Catarina. “Uma torre de 4G é capaz de abranger uma área de 10 mil hectares, atendendo a vários pequenos e médios produtores”, afirma Dal Forno. A expectativa da companhia é fechar o primeiro contrato com uma cooperativa em 2025.