Artigo assinado por Paulo Gala*
A notícia do varejo robusto nos Estados Unidos no mês de março, com um aumento de 0,7%, superando as expectativas de 0,4%, indica um cenário de aquecimento econômico americano além do previsto para este ano. O anúncio do governo brasileiro sobre a meta fiscal para 2025, com um déficit primário esperado de 0%, abaixo das expectativas de superávit, também deixou o mercado preocupado.
A Bovespa atingiu sua mínima de 2024, caindo para 124 mil pontos. Nossa taxa de juros nominal de juros longa atingiu sua máxima, ultrapassando os 12%. Já a taxa de juros real no Brasil foi acima de 6%. O dólar alcançou sua máxima em 2024 (desde março de 2023), tocando R$ 5,29. O juro longo americano foi acima de 4,6%.
Essa desvalorização da moeda brasileira reflete não apenas fatores internos, como o anúncio fiscal e vencimentos de títulos indexados em dólar, mas principalmente fatores externos, como as preocupações com a política monetária dos Estados Unidos e temores de inflação.
A ministra Simone Tebet afirmou que o governo está comprometido com o equilíbrio fiscal e busca alcançar uma meta de déficit zero. Além disso, dados positivos sobre o crescimento da economia chinesa no primeiro trimestre podem ajudar a acalmar as preocupações. É cedo para dizer se o Banco Central do Brasil irá desacelerar os cortes de juros, dada a incerteza sobre a política monetária dos Estados Unidos. O debate sobre os cortes de juros deve ganhar mais força nos próximos dias.
No mês de abril, a moeda brasileira tem um dos piores desempenhos do mundo emergente. Essa tendência começou com o índice CPI, mostrando uma inflação mais forte nos Estados Unidos, seguida por dados de atividade robustos. Isso levou a preocupações de que a economia dos EUA não desaceleraria, dificultando o alcance da meta de inflação.
Os comentários dos diretores do Fed indicam preocupações com a inflação persistente, o que levou o mercado a acreditar em um corte de juros por lá apenas em setembro. Na Zona do Euro, o corte pode ocorrer antes, possivelmente em junho ou julho.
Recentemente, houve boas notícias sobre a inflação na Europa, o que poderia levar a uma aceleração nos cortes de juros, desvalorizando ainda mais o euro em relação ao dólar. A reprecificação do momento do corte de juros nos EUA está causando impactos nos mercados emergentes, incluindo o Brasil. Esse estresse pode diminuir se houver melhores indicadores de inflação e comentários dos diretores do Fed.
Apesar do cenário desafiador, houve uma alta na atividade econômica brasileira medida pelo IBC-BR em fevereiro, com um aumento de 0,4% em relação a janeiro. No bimestre, houve um forte crescimento de 2,95%, indicando uma economia brasileira mais aquecida em comparação com o mesmo período do ano anterior. Em 12 meses, o IBC-BR mostra um crescimento acumulado de 2,34%.
- O cenário de juros mais altos nos EUA afeta os ativos de risco globalmente, incluindo o Brasil
- A Bovespa atingiu sua mínima de 2024, caindo para 124 mil pontos, enquanto a taxa de juros nominal longa ultrapassou os 12%, e a taxa de juros real ficou acima de 6%
- A desvalorização do real reflete tanto fatores internos, como o anúncio fiscal, quanto externos, como as preocupações com a política monetária dos EUA e temores de inflação
- Apesar das preocupações, dados positivos sobre o crescimento da economia chinesa podem amenizar os receios no mercado
- A incerteza sobre a política monetária dos EUA torna difícil prever se o Banco Central do Brasil irá desacelerar os cortes de juros
- A atividade econômica brasileira apresentou alta no primeiro trimestre, indicando uma economia mais aquecida em comparação com o ano anterior, apesar do cenário mais desafiador
*Economista-chefe do Banco Master de Investimento. Graduado em Economia pela FEA USP, Gala é mestre e doutor em Economia pela Fundação Getulio Vargas de São Paulo, instituição em que leciona desde 2002. Foi pesquisador visitante nas universidades de Cambridge (RU) e Columbia (NY) e atuou como economista-chefe, gestor de fundos e CEO em instituições do mercado financeiro em São Paulo.