O Supremo Tribunal Federal (STF) retoma nesta quarta-feira (23) o interrogatório de Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) apontado pela Polícia Federal como um dos mandantes das mortes da vereadora Marielle Franco (Psol) e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018.
Domingos Brazão disse que a primeira vez que viu Ronnie Lessa foi no Instituto Médico Legal (IML), na televisão, pela imprensa. Ao ser questionado pelo juiz Airton Vieira, do gabinete do ministro Alexandre de Moraes, sobre o motivo de Lessa ter apontado os irmãos Brazão como assassinos de Marielle, Domingos disse que o delator “buscou uma saída” após a delação de Élcio de Queiroz. “Ele está nos enterrando vivos. Preferia ter morrido no lugar da Marielle. Não dá para entender como esse rapaz dorme”, lamentou.
O interrogatório de Domingos Brazão continua nesta quarta a partir das 13h. Após Domingos Brazão, será ouvido Robson Fonseca, assessor de Domingos conhecido como Peixe. Nos próximos dias as oitivas serão com o delegado Rivaldo Barbosa e o Major Ronald. A previsão é que os depoimentos sejam finalizados na sexta-feira (25).
Domingos foi o segundo a ser ouvido, após o término do depoimento de seu irmão, Chiquinho, – ele está preso na Penitenciária Federal de Porto Velho (RO). Durante a fala, o réu acusou integrantes da Polícia Federal de não terem conduzido bem o processo que levou à sua acusação e disse que nunca foi ouvido.
“Nunca fui ouvido – estou aguardando essa oportunidade de falar – desde que começou a sair meu nome na imprensa. Estou há 7 meses num presídio federal. Se eu tivesse sido ouvido antes, teríamos economizado o tempo de todo mundo”, disse. “Não houve interesse – não por parte da instituição Polícia Federal, as instituições não falham – mas não houve interesse das pessoas. Esse pequeno grupo que ficou responsável por essa investigação, não sei se de maneira açodada ou por empolgação, não nos foi dada a oportunidade de sermos ouvidos e de esclarecer.
Domingos disse que nunca esteve com Marielle, nem no plenário, afirmou também que nunca teve nenhum “grande embate” com o deputado Marcello Freixo (PSol), que teve Marielle como assessora. “Tivemos alguns embates, mas não grandes embates”, afirmou Domingos, que disse que quando Freixo chegou à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro ele já era deputado. “Marcello Freixo sempre foi mais educado, se colocava bem.”
Antes de começar o depoimento de Domingos, o STF finalizou o interrogatório do deputado Chiquinho Brazão. Mais uma vez Chiquinho reforçou sua boa relação com a esquerda e com Marielle e disse que a sua pauta não era urbanista. Afirmou ainda que foi contra o projeto de verticalização de Jacarepaguá porque a população local não queria.
Questionado sobre a posição da milícia em relação aos projetos urbanísticos da região de Jacarepaguá, Chiquinho disse que nunca se interessou pela opinião da milícia. Sobre o fato de Ronnie Lessa ter dito em depoimento que o conhecia da casa de Santiago José Geraldo, o Santiago Gordo, conhecido por promover rinhas de passarinho, Chiquinho Brazão disse que nunca teve passarinho, mas somente um papagaio.
Na denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), um dos motivos apontados para que o crime ocorresse foram projetos de lei de flexibilização das exigências ambientais e urbanísticas para “regularização do uso e da ocupação do solo, o seu parcelamento e posterior legalização da construção das edificações” nas regiões de Vargem Grande, Jacarepaguá e Taquara, redutos eleitorais dos irmãos Brazão.
Marielle Franco posicionou-se contrária ao projeto, por entender que seria incompatível com as propostas de regularização fundiária voltadas às políticas habitacionais de interesse social, voltadas à população mais carente.