O esquerdista Frente Ampla, foi o candidato mais votado nas eleições presidenciais de ontem no Uruguai, indicou a pesquisa de boca de urna da consultoria Equipos. Mas não deve receber votos suficientes para evitar um segundo turno — contra o governista Álvaro Delgado, do direitista Partido Nacional — em 24 de novembro.
O resultado também é consistente com o que as pesquisas eleitorais vinham indicando desde o início da campanha. Orsi, de 57 anos, é considerado um moderado na Frente Ampla.
Ele fez campanha prometendo não aumentar impostos, apesar do crescente déficit fiscal do país — 3,4 milhões de habitantes. Paralelamente ao primeiro turno da votação presidencial, os uruguaios foram chamados também a se pronunciar sobre a reversão de um item da reforma da previdência do atual presidente, Luis Alberto Lacalle Pou, e baixar de 65 para 60 anos a idade mínima para a aposentadoria. A proposta recebeu a aprovação de apenas 40% dos votos e foi derrotada.
Os uruguaios também votaram ontem para renovar todas as 30 vagas para senadores e 99 para deputados. Os resultados da votação legislativa só seria conhecido hoje.
Apesar da crise econômica agravada pela pandemia de covid e da criminalidade em alta durante seu mandato, Lacalle Pou manteve sua popularidade em torno do 50% — mas tem encontrado dificuldade para transferir esse capital político a Delgado, que foi seu chefe de Gabinete.
Padrinho político de Orsi, ex-presidente José “Pepe” Mujica foi um dos primeiros a votar ontem. O ex-presidente chegou a uma escola do bairro Cerro, na capital uruguaia, em uma cadeira de rodas e ajudado por alguns colaboradores — Mujica, de 89 anos, recebe tratamentos paliativos para um câncer de esôfago.
“Temos de apoiar a democracia, não porque seja perfeita, mas porque até agora os humanos não inventaram nada melhor”, disse Mujica. O ex-presidente mencionou a relativa apatia que predominou durante a campanha e afirmou que a classe política precisa reconquistar o interesse dos jovens. “Se não os conquistamos, é porque não os fazemos se apaixonar, é porque atraímos a aversão deles. Se houver propostas que os façam se apaixonar, o interesse deles voltará.”
Em meio a campanhas austeras e desinteresse generalizado, o voto dos cidadãos indecisos será fundamental tanto para a esquerda, que governou por 15 anos consecutivos e aspira retornar ao poder depois de perdê-lo em 2019, quanto para o Partido Nacional, atualmente no poder, que também não conseguiu conquistar a simpatia do eleitorado
“Foi uma campanha longe do povo, que não atingiu os níveis de mobilização que o Uruguai tem historicamente, onde a filiação partidária está entre as mais altas da América Latina”, disse o analista político Julián Kanarek à AP.
Diferentemente das divisões agudas entre direita e esquerda na Argentina, Brasil ou México, a arena política do Uruguai é relativamente livre de tensões ideológicas. Com frequência significativa, as principais forças políticas conservadores e liberais se juntam em coalizões relativamente sólidas.
“De certa forma, as eleições no Uruguai têm sido muito chatas, chato, mas chatas nesse sentido é muito bom”, disse Juan Cruz Díaz, um analista político que dirige o grupo de consultoria Cefeidas em Buenos Aires. “Vimos tantas mudanças dramáticas na Argentina, Brasil, Equador, Colômbia e, no Uruguai, sempre vemos um um consenso geral, há estabilidade.”